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Proposta inicial e adaptações necessárias a metodologia

Foto 12 Estilo jovens educandos do vespertino C2

6.1 Introdução

6.1.1 Proposta inicial e adaptações necessárias a metodologia

Foi necessário, para o desenvolvimento desta pesquisa, que algumas adaptações ocorressem no método inicialmente proposto, já que, ao se vivenciar um processo de pesquisa qualitativa in loco, é importante que se tenha em mente a necessidade de se ―construir questões adequadas‖ e, também, a necessidade de se ―avaliar tanto os interesses quanto a linguagem do grupo em foco‖ (GASKELL, 2004, p 65).

Assim, ao se trabalhar com um grupo que apresenta, de modo geral22, características marcantes, como, por exemplo, a inconstância da presença física no espaço de pesquisa, despreocupação em manter uma constante comunicação com a pesquisadora e com o próprio grupo do qual aceitou participar, revelada na ausência de respostas às mensagens enviadas pelo WhatsApp, falta de compromisso dos participantes do grupo com os horários marcados, a adoção de um vocabulário próprio dos participantes23 formado a partir do emprego de termos técnicos da área da informática, palavras abreviadas, utilização de gírias ou de siglas que tem origem tanto em grupos locais, quanto no sistema on-line, tornou inviável a adoção de uma postura rígida, na qual não houvesse uma predisposição para a aceitação e submissão à condutas sugeridas pelo grupo.

O projeto de pesquisa dos pesquisadores qualitativos é emergente. Isso significa que o plano inicial para pesquisa não pode ser rigidamente prescrito, e que todas as fases do processo podem mudar ou se deslocar depois que o pesquisador entrar no campo e começar a coletar os dados. Por exemplo, as questões podem mudar, as formas de coletas de dados podem

22 ―Muitas vezes, relatórios de pesquisa qualitativas incluem detalhes numéricos ou quantificadores vagos, tais

como ―mais da metade‖ com respeito à distribuições de opiniões ou experiências entre os entrevistadores‖. (GASKELL, 2004, p. 68). Aqui, destaca-se o uso do termo objetivando sobrepor uma particularidade do grupo que impôs novas regras para o desenvolvimento da pesquisa. Porém, tal questão analisada como relevante, na segunda série de coletivas, foi negada como uma particularidade individual por dois educandos o que vai ao encontro da dificuldade de definição do perfil do grupo.

23 Os educandos utilizam termos como, por exemplo, esparando, meu parsa, maior massa, chamecar, Zébogo,

ser deslocadas, e os indivíduos estudados e os locais visitados podem ser modificados (CRESWELL, 2010, p. 209).

A partir de então, embora tradicionalmente na entrevista com grupo se empregue pessoas desconhecidas, as condutas sugeridas por parte dos educandos, como, por exemplo, o convite a educandos amigos para a participação na pesquisa, possibilitou os ganhos de uma familiaridade24 já existente, que com a ―[...] interação do grupo gerou diversos momentos de emoção, humor, espontaneidade e intuição criativa‖ (GASKELL, 2004, p. 76, grifo nosso), havendo, porém, em contrapartida, mudanças nas regras e no planejamento inicial, causadas pelas remarcações dos horários de aplicação das entrevistas que geraram, consequentemente, a anulação da participação de um auxiliar de gravação.

A ausência do auxiliar de gravação limitou o processo de registro das entrevistas apenas as gravações no meu celular e memorização dos fatos. Ou seja, houve apenas como registro escrito, algumas poucas anotações que antecederam a gravação, outras logo no momento seguinte ao final das gravações, o diário de bordo feito em horários diversos após a saída da escola e, nenhum registro fotográfico ao longo de todo o processo de entrevistas.

Outra adaptação, também definida pelos educandos por meio de suas condutas e aceita para o desenvolvimento da pesquisa, diz respeito à reestruturação da ideia inicial da formação de um único grupo para a formação de mais de um grupo. Tal adaptação gerou mudanças no método, como, por exemplo, a aplicação de duas séries de entrevistas coletivas, intercaladas por uma série de entrevistas individuais. A opção de mesclar entrevistas individuais com entrevistas em grupo é denominada por Gaskell (2004) como multimétodo25, e pode ser aplicada já que:

[...] a pesquisa pode ser dividida em fases: um primeiro conjunto de entrevistas, seguido por análise, e depois um segundo conjunto. Ou poderá haver uma combinação de entrevistas individuais e grupais. Em tais situações, seria desejável fazer um número maior de entrevistas e analisar os diferentes componentes do corpus separadamente, juntando-os em um estágio posterior. (GASKELL, 2004, p.71).

24 ―Para uns, a familiaridade é a forma mais absoluta de reconhecimento, a abdicação de qualquer distancia, o

abandono confiante, a relação em pé de igualdade; enquanto para outros, aqueles que evitam a familiaridade, trata-se da inconveniência de atitudes demasiado livres‖. (BOURDIEU, 2007, p.190)

25 Em complementação ao entendimento sobre multimétodo, Gaskell (2004), apresenta no capítulo três (3), p. 78,

uma tabela com ―uma síntese da indicação de entrevistas em profundidade e grupais e explica que ―devido a estas diferentes vantagens e limitações dos grupos focais e das entrevistas individuais, alguns pesquisadores optam por uma junção dos dois métodos dentro do mesmo projeto: um enfoque multimétodo que tem alguma justificativa.

Além das questões acima mencionadas, houve a reformulação e ampliação dos tópicos-guia, a inclusão do instrumento questionário aplicado a um grupo de professores e a observação in loco do laboratório de pesquisa, objetivando ―garantir a validade interna [...] empregando a triangulação dos dados coletados. (CRESWELL, 2010, p. 234).

Tais procedimentos foram adotados a partir da necessidade de confirmação de alguns relatos trazidos pelos educandos. Ou seja, a partir da interpretação ideográfica, na qual a atenção do moderador focaliza as particularidades apresentadas em cada caso, isto é, a cada fato relatado, em vez de o foco permanecer nas generalizações informadas, já que os pesquisadores qualitativos estão particularmente interessados em entender como as coisas acontecem (CRESWELL, 2010, p. 230).

Por fim, baseada nos conhecimentos e práticas adotados com o uso das imagens em sala de aula agregada a proposição de que as ―imagens fazem ressoar memorias submersas e podem ajudar nas entrevistas focais‖ e, apesar da intenção de utilizar imagens durante as entrevistas, já que as imagens podem ―[...] libertar as memórias, criando um trabalho de construção partilhada, em que pesquisador e entrevistador podem falar juntos, talvez de uma maneira mais descontraída do que sem tal estímulo‖ (GASKELL, 2004), houve a anulação da utilização de imagens e de atividades de desenho como recursos motivadores para os debates durante as entrevistas em grupo.

A opção pela anulação de tal proposta se justificou pela falta de conciliação dos horários dos educandos para um pré-agendamento de uma entrevista na qual todos os participantes estivessem presentes, valorizando o comparecimento de um auxiliar de gravação que possibilitasse a organização do material, a aplicação da dinâmica e o registro adequado da atividade.