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CAPÍTULO 1 – POLÍTICA EDUCACIONAL EM ANGOLA E A EDUCAÇÃO DE

1.4 Proposta pedagógica da Andragogia

De acordo com a Lei de Bases do Sistema de Educação Nº13/01 de 31 de Dezembro,

O subsistema de educação de adultos constitui um conjunto integrado e diversificado de processos educativos baseados nos princípios, métodos e tarefas da andragogia e realiza-se na modalidade de ensino direto e / ou

indireto. (art.º 31º, p. 12)

O fundamento do subsistema de educação de jovens e adultos de Angola são os princípios, métodos e atividades da andragogia10. A proposta de uma educação de adultos, parte do pressuposto que esta modalidade de ensino e aprendizagem apresenta características exclusivas que a diferencia de outras modalidades de educação, tendo em vista o fato de ser direcionada para adolescentes, jovens e adultos e não crianças. A proposta andragógica tem uma perfeita adequação com o público desse perfil. É uma modalidade de ensino que evidencia o valor educativo do diálogo e da participação, a consideração do aluno como sujeito portador de saberes que devem ser reconhecidos, levando em consideração que é dessa forma que o adulto prefere ser tratado e reconhecido. (DPPAAE, p. 4)

Sonia Mairos Nogueira (2004) citando a definição de Malcon Knowles, afirma que,

Para Knowles andragogia e a pedagogia constituem modelos distintos de conceber e perspectivar a educação. Assim enquanto a pedagogia era definida como “arte e a ciência de ensinar as crianças”, uma vez que esta palavra deriva das palavras gregas paid (que significa criança) e agogus (que significa líder de); a andragogia é conceptualizada como a arte e ciência de facilitar a aprendizagem dos adultos, derivada das palavras gregas aner com a conjugação andr- (que significam ser humano não rapaz ou adulto) (p. 3).

Pedagogia e andragogia são modelos distintos, um mais dinâmico em relação ao outro. Embora na visão de Knowles, o fundamento da andragogia possa servir também para crianças, porém pela dinâmica sugerida está mais adequada ao perfil adulto, sobretudo ao jovem. O contraste está principalmente na ligação entre o facilitador e os aprendizes que procuram dialogar dentro da mesma dinâmica. Nessa modalidade a presença do facilitador é constante e ativa, com responsabilidade de orientar, motivar, facilitar o processo, disponibilizando atividades didáticas e lúdicas. O uso da modalidade andragógica duma forma geral pode parecer complexo para quem não a conhece porque realmente exige muita disposição e habilidade.

Nogueira (2004) afirma que nas obras de Knowles ao comparar pedagogia e andragogia ele procurava evidenciar a desvantagem da pedagogia tradicional para ensino dos adultos e a vantagem da andragogia.

10A palavra foi utilizada em 1968 por Malcon Knowles, no artigo “Adult Leadership”

Quadro III: Comparação Pedagogia e Andragogia Processo de ensino aprendizagem Perspectiva Pedagogia Andragogia Elaboração do plano de

aprendizagem Pelo professor;

Pelo auxiliador de

aprendizagem e pelo aprendiz Diagnóstico de

necessidades Pelo professor;

Pelo auxiliador de

aprendizagem e pelo aprendiz Estabelecimento de

objetivos

Pelo professor;

Através de negociação mútua

Tipologia de planos de aprendizagem

Planos de conteúdos organizados de acordo com uma sequência lógica;

Diversos planos de

aprendizagem (contratos de aprendizagem, projetos de aprendizagem) sequenciados pela prontidão dos aprendizes Técnicas de ensino e

aprendizagem Técnicas transmissivas; Técnicas ativas e experienciais

Avaliação

Pelo professor; Referência a normas;

Através de pontuação, notas.

Pelos aprendizes Referência a critérios Através da validação dos companheiros, facilitador de aprendizagem e peritos na área.

Fonte: Nogueira (2004)

Nogueira (2004) salienta ainda que os adeptos da andragogia, como Knowles, salientam a necessidade de refletir sobre as diferenças no processo de aprendizagem de adultos e crianças. Knowles baseia-se em cinco princípios fundamentais das qualidades que diferenciam o aprendiz adulto das crianças:

Necessitam de saber o motivo pelo qual devem realizar certas aprendizagens; aprendem melhor experimentalmente; concebem a aprendizagem como resolução de problemas; aprendem melhor quando o tópico possui valor imediato e os motivadores mais potentes para a aprendizagem são internos. (apud Nogueira, 2004, p. 4-5)

Estudiosos do processo de aprendizagem dos adultos verificaram que quando o adulto decide aprender algo ele se doa totalmente, ou melhor se empenha ao máximo. Outra referência observada é de que os alunos adultos aprendem mais experimentando, ou melhor, segundo a expressão popular, “colocando a mão na massa”; e quando relacionam com experiências que se deparam na vida e notam uma mudança na vida. As experiências dos aprendizes adultos devem ser consideradas no processo educativo, senão eles ficam sem motivação e sentem como alguém sem rumo, chegando até se perguntar o que está fazendo na escola. Mas há também os motivadores internos, tais como a família e a comunidade em que está inserido.

Knowles destaca que o facilitador não necessita esperar a pré-disposição do aluno em aprender, mas precisa exercitar sua criatividade para estimular os alunos. Andragogia é uma modalidade que exige muita criatividade, eis a razão porque os dirigentes necessitam de uma preparação adequada para que os objetivos preconizados sejam alcançados com eficácia. De acordo com Nogueira (2004) na perspectiva de Knowles não é possível ensinar as pessoas, tão somente se pode auxiliar as pessoas a aprender. Ao contrário da visão pedagógica tradicional, em que o papel de destaque de ensinar é atribuído ao professor. Na concepção andragógica a aprendizagem ao contrário da pedagogia tradicional, é um processo mais interativo em que há troca de informações, diálogo, colaboração entre o professor e o aprendiz. O modelo andragógico se carateriza pela flexibilidade, pela procura de adaptação aos indivíduos, pela ênfase que atribui aos processos em detrimento dos conteúdos e pela responsabilidade que atribuí quer ao aprendiz, quer ao facilitador. Neste modelo a base da planificação e o desenvolvimento de projetos educativos é o ciclo andragógico em sete etapas:

1. Estabelecer um clima conducente a aprendizagem;

2. Criar mecanismos para planificação mutua;

3. Diagnosticar as necessidades da aprendizagem;

4. Formular objetivos programaticos que satisfaçam as necesidades identificadas;

5. Elaborar um plano de experiências de aprendizagem;

6. Conduzir as experiencias de aprendizagem com técnicas e materais adequados;

7. Avaliar os resultados da aprendizagem e rediagnosticar as necessidades de aprendizagem.

Para o sucesso desta pratica educativa é importante garantir a participação de todos nas atividades e fomentar a interação dos aprendizes. O adulto prefere ser tratado como adulto, não aceita ter a sua posição trocada, gosta de ser respeitado independente do seu nível de cultura, porém é necessário criar um clima de descontração afim de desinibi-los, o que a autora chama de “quebra de gelo”. Precisa ser encorajado constantemente e no relacionamento deve reinar um clima sadio, para que sinta sempre prazer e desejo de voltar e aprender. Na afirmação da autora o adulto aprende mais quando alguém se importa com ele e demonstra paciência nas suas limitações. Os facilitadores precisam adquirir essa visão para que a aprendizagem produza mudança de comportamento (NOGUEIRA, 2004, p. 6-8).

CAPÍTULO 2 - A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DO LOMBO-LOMBO EM

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