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A Proposta Político-Pedagógica da escola Zandoná e sua relação com os movimentos

No documento 2008ConsueloCristinePiaia (páginas 78-81)

1 SOCIEDADE E ESCOLA: TENDÊNCIAS PARA A (RE)CONSTRUÇÃO DE

2.4 A Proposta Político-Pedagógica da escola Zandoná e sua relação com os movimentos

Ao pesquisarmos sobre o processo que desencadeou a atual prática metodológica, verificamos que um dos marcos da formulação da proposta político pedagógica é a Constituinte Escolar, que, no RS,

[...] baseia-se em uma clara opção pela Concepção Dialética de Conhecimento e pela metodologia de Pesquisa Participante. Esta se caracteriza por privilegiar o “trabalho com a camada social historicamente excluída dos processos econômicos, sociais, culturais” no sentido de favorecer “a participação das camadas populares como sujeitos de um processo de produção de conhecimento e, ao mesmo tempo, de definições de políticas públicas”; propõe desenvolver uma prática “articulada de educação, investigação e participação social, como momentos de um processo de análise das contradições que explicam os determinantes estruturais da realidade imediata que está sendo analisada”; tal elaboração baseia-se no trabalho de “grupos organizados, que formulem propostas práticas de intervenção na realidade que está sendo investigada, na perspectiva de sua efetiva transformação” (FLEURI, 2000).

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A rede de falas é o resultado da sistematização das falas da comunidade já selecionadas pelo grupo de educadores; o grupo seleciona as falas por acreditar que estas traduzem melhor o contexto e as problemáticas. As falas são organizadas de acordo com as relações que estabelecem umas com as outras, representando sua interligação. Ver anexo II.

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As leituras realizadas sobre o processo da Constituinte Escolar e os documentos da escola nesse período, sugerem um vínculo estreito entre essa política e a proposta de trabalho da escola. Esta, ao eleger a Pesquisa Participante como metodologia, opta por privilegiar as camadas sociais populares, que, em sua maioria, a compõem, optando politicamente por esses grupos. Quem formulou essa política de governo que propõe a investigação da realidade social? Em seu texto intitulado “Entre o oficial e o alternativo em propostas curricular es: olhares conexões e problematização a partir da educação popular”, Fleuri encontra um ator pouco comum na elaboração direta de políticas educacionais: os movimentos sociais. Para o autor Fleuri, “a grande novidade na concepção dos sujeitos envolvidos no processo constituinte é a atenção aos movimentos sociais populares, novos protagonistas convidados a entrar no cenário político” (2000). Ainda, para ele

Só a partir de uma perspectiva complexa é possível compreender os limiares (os limites e as possibilidades) de um processo oficial que pretende promover, paradoxalemente, a inserção dos movimentos sociais alternativos na formulação e no controle das diretrizes curriculares da escola pública. Num processo histórico em que estes movimentos sociais têm sido sistematicamente subjugados no cenário político do Estado, tal movimento constituinte pode implicar em novos processos de sujeição dos movimentos sociais populares, na medida em que a complexidade dos agentes envolvidos e a dinamicidade de suas reivindicações sejam interpretadas e elaboradas de maneira reducionista pelos dispositivos de participação disponíveis. Mas, ao mesmo tempo, pode significar a abertura de novos espaços de participação ativa de setores das classes populares na formulação de políticas públicas no campo da educação. (2000).

Ao analisar a Constituinte Escolar, o artigo aponta para a participação oficial dos movimentos sociais na formulação das políticas públicas, na área da educação, como possibilidade de avanço da educação formal. Para a professora P. A., da Escola Zandoná, a Constituinte Escolar

Representou um período, assim, bem especial, que foi o período da constituinte escolar. Foi propiciado a gente poder fazer, tentar fazer uma leitura maior da comunidade, da escola que a gente vive, e tentar refletir um pouquinho a concepção de homem, de sociedade que a gente tem e que a gente quer. E nessa leitura que a gente fez, digamos assim, entrou forte os movimentos sociais. Porque como é que se vai construir esse homem, essa sociedade, se não é através dos movimentos sociais? E a gente também tem claro assim... A nossa escola, os alunos que a gente tem aí, eles não são alunos do movimento. Mas a gente tem que ir rompendo com a

ideologia forte que existe de aversão aos movimentos que é construída sistematicamente, especialmente pelos meios de comunicação. E a gente tem que fazer o outro lado. Porque se a escola não fizer, quem vai fazer? [...] A constituinte foi o momento em que nós, assim, que o grupo aproveitou, que o grupo soube aproveitar e dar continuidade. Porque assim, a gente tem uma autonomia, todas as escolas têm, e não usam essa autonomia, que é de construir o seu Projeto Político-Pedagógico. A sua proposta de escola. Lógico que isso mexe com um monte de coisas... De postura, de acomodação, de estilo de vida, inclusive, e de trabalho... muda completamente... Mas eu acho que ali foi um momento bem rico para a gente desencadear o processo. Só que para ele ter continuidade foi preciso muito esforço, muito estudo. A gente está tentada toda hora. Na verdade, a gente rema contra a correnteza. (Informação verbal) 35.

A fala acima transcrita expressa a visão da professora sobre o processo da Constituinte Escolar. De acordo com ela, a política estadual proporcionou à escola e a seus sujeitos, momentos de reflexão e discussão sobre a sociedade e a sua relação com a escola. Nesse sentido, a discussão não só trouxe para perto desses sujeitos a reflexão sobre os movimentos sociais, como ainda ajudou a definir melhor o papel dessa instituição na sociedade. A fala revela também que, na opinião dessa professora, existe uma “aversão” da população aos movimentos sociais, construída sistematicamente, de modo especial pelos meios de comunicação. Essa discussão pode fazer parte do debate escolar? Como as escolas a realizam? Como os sujeitos se posicionam diante do tema?

A proposta política pedagógica da Escola Zandoná destaca que o processo educativo tem, entre outras finalidades, a de capacitar o aluno a ser “livre para escolha de participar nos movimentos sociais, como forma de também garantir a conquista e o exercício da vida cidadã”. Nas metas propostas encontramos como um de seus compromissos o de “apoiar, colaborar e atuar na organização de movimentos populares aos quais mais nos aproximamos (Pastorais, sindicatos, MST) e das organizações internas (Grêmio Estudantil e Conselho Escolar) como ação concreta de luta por uma nova sociedade” ( ESCOLA, PPP, 2007). Segundo dados levantados pelas professoras Sandra Gauer e Zilda Castoldi em sua escrita, o coletivo de professores optou pela pesquisa participante, tendo em vista

A inquietação e a insatisfação do quadro docente da escola em relação ao fazer pedagógico tradicional, o contexto político-educacional do momento que antecedeu a opção pela metodologia, o questionamento da comunidade escolar, quanto ao papel dos conteúdos escolares, a formação Pedagógica continuada dos trabalhadores em educação da escola e a participação da

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Comunidade Escolar em movimentos sociais organizados constituíram os principais elementos para o mapeamento das hipóteses na materialização da pesquisa participante na escola. (2004, p. 6).

Para essas educadoras, a inquietação e o descontentamento quanto ao fazer pedagógico, a formação continuada dos professores, o contexto político da educação e a participação em movimentos sociais organizados foram os elementos que desencadearam a opção pela metodologia de pesquisa. Neste sentido, em suas opiniões, a participação de pessoas da comunidade escolar em movimentos sociais pode ter ajudado a desencadear a proposta metodológica e teórica da referida instituição.

No documento 2008ConsueloCristinePiaia (páginas 78-81)