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1 O ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ADICIONAIS

1.3 A Formação contínua do professor de inglês reflexivo crítico

1.3.2 A proposta de Schön sob outros olhares

Os estudos de Pimenta (2002) discorrem sobre a tendência das pesquisas em educação de focarem no ensino como prática reflexiva. A pesquisa, nessa perspectiva, é vista como instrumento de formação de professores, e é a partir dessa visão que surgem indagações como:

• Que tipo de reflexões os professores têm realizado?

• As reflexões envolvem um processo de consciência das questões sociais, econômicas e políticas do ato de ensinar?

• Quais são as condições que os professores dispõem para refletir?

Essas questões colocam em evidência “o protagonismo do sujeito professor nos processos de mudanças e inovações”, e pode ocasionar uma “supervalorização” desse profissional como indivíduo (PIMENTA, 2002: 22). A partir daí, surgem preocupações de vários autores sobre possíveis riscos que elenco, interpreto e relaciono à minha pesquisa, a saber:

• Praticismo: trata-se do desenvolvimento de uma concepção de ‘prática’ como sendo suficiente para dar conta das epistemologias necessárias à docência.

Na minha experiência, combati esse risco intensificando o diálogo teórico- prático diante dos desafios observados e investigados, como, por exemplo, nas consultas teóricas para compreender as implicações que envolvem o uso pedagógico do blog, e assim, viabilizar a criação do blog da turma.

• Individualismo: resultante de uma reflexão em torno de si própria.

Apesar de a minha pesquisa envolver uma autoinvestigação, esse risco foi em parte superado pelo uso de instrumentos de pesquisa como: avaliação dos participantes sobre as aulas e as propostas de atividades, depoimentos parciais e entrevistas finais, em que os participantes apontaram aspectos positivos e negativos da própria experiência, e também das ações e atuação do professor, com sugestões para o aprimoramento.

• Hegemonia autoritária: se a perspectiva reflexiva for vista como suficiente para a resolução dos problemas da prática.

Não enfrentei essa dificuldade por não ver a perspectiva reflexiva como suficiente para melhorar as minhas ações pedagógicas.

• Modismo: que pode acontecer com uma apropriação indiscriminada e acrítica, sem considerar os fatores como origens e contextos que a gerou, levando à banalização da perspectiva reflexiva.

Antes e durante a pesquisa, estive atento aos desafios de me inserir numa prática reflexiva crítica e teoricamente informada. Foi nessa perspectiva de prática refletida que promovi mudanças nas minhas posturas no laboratório de informática, e fiz intervenções, entre as quais, passei a dar vozes aos alunos nas práticas de letramento.

Pesquisadores como Liston; Zeichner (1993) consideram a proposta de Schön (1983) como sendo aplicável a profissionais individuais, para produzir mudanças imediatas, porém sem conseguir que tais mudanças ultrapassem os limites da sala de aula. Para os autores, Schön não estabelece quais seriam as reflexões acerca da linguagem, os seus sistemas de valores, os processos de compreensão e a forma com que definem o conhecimento; estes constituem os

quatro elementos fundamentais para que os professores possam melhorar o ensino ao considerarem os ideais de igualdade e justiça.

Outra questão importante no entendimento de Zeichner (1992) e de Contreras (1997) está associada à concepção de intervenção reflexiva que Schön propõe com base em Dewey, e que sustenta a incoerência do conceito de professor reflexivo como práticas de treinamento e de aplicação técnica. Os autores observam que, dessa forma, a reflexão perde o seu caráter crítico e passa a ser meramente técnica. Pimenta (2002) reforça que “essa massificação do termo tem dificultado o engajamento de professores em práticas mais críticas, reduzindo-as a um fazer técnico” (p. 23).

Para Pérez-Gómez (1992), a reflexão não pode ser vista como um processo psicológico individual, pois implica a imersão do homem no mundo da sua existência, um mundo cheio de valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos. Nessa direção, Contreras (1997) lembra que é preciso incluir a crítica ao contexto social em que se dá a ação educativa. Ou seja, não se pode reduzir a investigação sobre a prática aos problemas pedagógicos que geram ações particulares em aula.

É exatamente nesse ponto que eu questiono a relevância de uma prática reflexiva-crítica que não se limite à ação individual do professor, ou a problemas triviais do fazer pedagógico. Quero dizer, é fundamental considerar a abrangência das ações docentes e da educação em si sobre os fatores de cunho sociais, culturais, econômicos e políticos que envolvem o processo de ensinar-aprender.

Percebo a importância de considerar a realidade social e os contextos culturais e históricos na ação reflexiva sobre a prática, na crítica de Kemmis (1985)

apud Pimenta (2002: 24), ao considerar que:

A centralidade na aula como lugar de experimentação e de investigação e no professor como o que se dedica, individualmente, à reflexão e à melhoria dos problemas é uma perspectiva restrita, pois desconsidera a influência da realidade social sobre ações e pensamentos e sobre o conhecimento como produto de contextos sociais e históricos.

Compreendo a crítica do autor sobre o sentido restritivo de uma investigação centralizada no professor individualmente e na sala de aula. No entanto, defendo neste estudo que a pesquisa que propõe investigar a própria prática docente, pode sim contribuir significativamente para o aprimoramento coletivo, uma vez que o embasamento epistemológico em si, já denota uma ação de cunho coletivo ao

considerar as várias perspectivas e diálogos teórico-práticos. Além disso, o objetivo de qualquer pesquisa desse porte é servir de referência para que outros pesquisadores realizem outras investigações. Nessa direção, vejo que a reflexão crítica das práticas docentes pode oferecer melhoras significativas tanto no âmbito individual quanto no coletivo.

Ao tratar da relação indissociável teoria-prática, Libâneo (1998a) dá relevo à importância da apropriação e produção de teorias como marco para a melhoria das práticas de ensino e dos resultados. Quanto ao processo de autoinvestigação, Contreras (1997) também chama a atenção para o fato de a prática dos professores precisar ser analisada, de modo a considerar que a sociedade é plural, no sentido da pluralidade de saberes, mas também desigual, no sentido das desigualdades sociais, econômicas, culturais e políticas.

Acredito que esses olhares sobre o postulado de Schön (1983) são importantes para a compreensão de que a perspectiva reflexiva-crítica precisa estar vinculada às teorias que a subjazem, sem desconsiderar os contextos sociais em que se realizam e se sustentam as ações pedagógicas.

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