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Como foi possível observar no capítulo anterior, os meados da década de 1980 representaram um período de esforços em âmbito nacional para a expansão da informática em todo o país, e nesse sentido sua inserção na Educação parecia ser uma estratégia muito interessante. Não é de se estranhar, portanto, a existência anterior a 1990 de tentativas de aproximação entre Informática e Educação. Elas tiveram impacto mínimo no sistema, foram desarticuladas do currículo, mas revelam visões importantes sobre as finalidades esperadas da Informática Educativa que ainda hoje permeiam o imaginário relativo a este saber. É, nesse

9 O referido projeto foi publicado na forma de Comunicado no Diário Oficial de São Paulo em 12 de dezembro de

sentido, que é relevante destacar a seguinte publicação presente num Suplemento do Diário Oficial do Município de São Paulo 1988,10 que expressa as finalidades educativas das iniciativas anteriores:

Desde 1986, quando o Prefeito Jânio Quadros determinou a formação de Cursos de Pré- Profissionalização, a Secretaria Municipal de Educação já formou cerca de 48 mil jovens, habilitando- os a enfrentar o mercado de trabalho em melhores condições técnicas [...] No ano seguinte, a procura de interessados cresceu e a Secretaria passou a ministrar outros cursos, como os de Operação de Microcomputadores e seus Aplicativos, de Comercialização e Publicidade e de Aprendizagem Industrial, este com habilitações de Ajustador Mecânico, Reparador de Eletrodomésticos, Eletricista Instalador, Construção Civil e Eletrônica. (SÃO PAULO, 1988)

Essa pequena nota remete a algumas importantes noções quanto ao papel atribuído à Escola enquanto instituição e da informática na Educação. Primeiramente, o conhecimento da Informática aparece associado diretamente com a noção de formação profissional, estando em certa medida relacionado com uma concepção de que a escola pública deveria basicamente atender a um grupo social que necessitasse de preparação para o mercado de trabalho, num processo de profissionalização que visava responder também aos anseios do próprio mercado de trabalho. Vale destacar que muito embora os referidos cursos profissionalizantes não estivessem incluídos no currículo, eram organizados em âmbito de SME (Secretaria Municipal de Educação).

Na mesma matéria do Diário Oficial, foi anunciado um convênio entre a PRODAM e SME para a execução do projeto “A Escola do Futuro” cujo objetivo era incentivar o uso do computador como instrumento de aprendizagem. Neste caso, é possível perceber essa percepção utilitarista da Informática na escola, pois a Assessoria do Ensino Profissionalizante da Secretaria precisou justificar tal investimento nos seguintes termos: "este não é um curso propriamente profissionalizante, mas deverá ter uma decisiva contribuição na criação do hábito

do uso e na absorção da técnica de emprego da informática pelo escolar, podendo ajudá-lo a abraçar uma carreira especializada''. A leitura do referido projeto, elaborado por pesquisadores vinculados à ECA (Escola de Comunicação e Artes) da Universidade de São Paulo também evidencia imagens a respeito das relações entre informática e saber escolar. Muito embora esteja claramente escrito nesse texto se tratar de uma proposta de um trabalho conjunto, tendo como ponto de partida o projeto pedagógico de cada escola, uma leitura atenta do documento revela imagens distintas sobre o universo escolar, segundo as quais a escola era entendida como um espaço de dificuldades antigas, uma instituição de morosidade:

A implementação do uso de modernos recursos de comunicação no ensino de 1º e 2 º graus passa pelo velho problema da mudança do cotidiano escolar ou, mais precisamente, defronta-se com o problema da adoção; pouco adianta introduzir computador, vídeo e outras tecnologias na escola, sob a influência de forças externas, se, depois de passada a novidade e eliminadas estas forças, a situação volta a ser como era antes. É necessário, no caso de experiências bem sucedidas, cuidar da retirada paulatina dos componentes de sustentação externos a instituição escolar para que esta possa, por conta própria, dar prosseguimento a seu projeto de melhoria do ensino. Isto implica que a escola deve continuar tendo condições materiais e ideacionais para a manutenção de seu esforço. (SÃO PAULO, 1988, P14.)

Segundo o trecho acima, há um problema quase estrutural na Escola como instituição: sua tendência à imutabilidade. Seu cotidiano era caracterizado como moroso, atrasado resistente às mudanças, mesmo quando se trata da introdução de novas tecnologias. O texto destacava que a introdução de tais mudanças por “forças externas” não traria resultado. Essa afirmação era bastante coerente, pois nenhuma instituição consolidada seguiria às cegas as indicações de “forças externas” (mesmo se tratando de Universidades e renomados acadêmicos), se tais proposições não estivessem incorporadas à sua própria cultura. Mudanças culturais implicam longa duração e, nesse sentido, interferências na cultura escolar significam impulsionar mudanças estruturais também de longa duração, porém tais medidas somente poderiam ter sentido e eficácia se estivessem alinhadas às finalidades da própria escola e da cultura escolar.

O que impressiona é a solução para tal questão: prolongar a ação de tais forças, consideradas ‘elementos de sustentação’ para que alcançasse o sucesso. Segundo tal ponto de vista, a Escola é uma instituição fraca que depende de apoio externo para realizar um bom trabalho. Esse ponto de vista classifica de antemão o espaço escolar como um espaço de atraso, não problematiza as complexas relações que se estabelecem nessa instituição e ainda lhe nega autonomia para buscar suas próprias soluções. A polarização entre as imagens Escola Atrasada versus Universidade Vanguarda está muito presente no projeto da “Escola do Futuro” e também diluída no imaginário social.

Até aqui é possível perceber que no final da década de 1980 haviam tentativas esparsas da prefeitura de São Paulo em implementar projetos que vinculassem Informática e Educação, além de atenderem um número restrito de envolvidos. Tais projetos consideravam a informática de forma instrumental e pragmática.