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Propostas Curriculares de História

CAPÍTULO III O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

3.1 Propostas Curriculares de História

A partir do fim da década de 1980 do século XX criaram-se várias propostas curriculares de História para o ensino fundamental e médio, as quais circulam pelos Estados e municípios além dos PCN, que são resultado da incorporação de parte dessa produção. Tais propostas têm em comum algumas características, a saber:

• a alteração nas formulações técnicas dos textos curriculares, que passaram a apresentar fundamentações sobre o conhecimento histórico e sobre os demais tópicos da disciplina;

• a preocupação com a implementação dos currículos, buscando sua legitimidade junto aos professores, justificando sua produção e procurando diluir formas de resistência aos documentos oficiais;

• a redefinição de papel do professor, fornecendo-lhe maior autonomia no trabalho pedagógico, concepção esta expressa na ausência de um rol de conteúdos estabelecidos de forma obrigatória para cada série ou ciclo; • a apresentação mais detalhada dos pressupostos teóricos e metodológicos

do conhecimento histórico;

• a fundamentação pedagógica baseada no construtivismo, expresso de maneiras diversas, mas tendo como princípio que o aluno é sujeito ativo no processo de aprendizagem;

• a aceitação de que o aluno possui um conhecimento prévio sobre os objetos de estudos históricos, obtido pela história de vida e pelos meios de comunicação, o qual deve ser integrado ao processo de aprendizagem; • a introdução dos estudos históricos a partir das séries iniciais do ensino

fundamental. (BITTENCOURT, 2011, p. 111 a 112)

O ensino de História, conforme o disposto em algumas propostas curriculares dos Estados e municípios e no PCN, está presente em todos os níveis de ensino e constitui uma das bases essenciais de conhecimento das ciências humanas a partir das séries iniciais até o término da Educação básica.

As formulações atuais para o ensino de História a partir dos anos (ou ciclos) iniciais do ensino fundamental sofreram variações e visam ultrapassar a limitação de uma disciplina ensinada com base nos feitos dos heróis e das grandes personagens, apresentados em atividades cívicas e como figuras atemporais.

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Segundo Bittencourt,

As comemorações e festas comemorativas ainda fazem parte dos conteúdos, embora caiba lembrar que estão sendo introduzidos outros representantes da sociedade brasileira, como nos festejos do Dia do Índio (19 de abril) ou do Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Entretanto, dentre as características gerais das propostas mais recentes, destaca-se a decisão de a História e a Geografia serem objeto de estudo a partir das séries iniciais, em substituição aos Estudos Sociais, e apresentarem uma organização dos conteúdos baseada em eixos temáticos. (BITTENCOURT, 2011, p. 113)

Os PCN de História, elaborado e implementado após a nova LDB (Lei 9.394/96), consolidam essa tendência do trabalho com eixos temáticos, tendo como conceitos básicos a cultura, a organização social e do trabalho e noções de tempo/espaço históricos, introduzidos desde os primeiros anos da educação básica.

Dessa forma, as propostas curriculares visam desenvolver nas crianças, de maneira gradual, uma noção de tempo histórico, trabalhando com a história local ou do lugar, procurando estabelecer relações entre o vivido do aluno e a história local, regional, nacional e mundial. As propostas expressavam a necessidade histórica de trazer para o centro da reflexão ações e sujeitos até então excluídos da História ensinada na escola fundamental (FONSECA, 1993, p.109).

O texto dos PCN reafirmou a importância do ensino de História desde os primeiros anos de escolarização. Segundo o documento, "a disciplina pode dar uma contribuição específica ao desenvolvimento dos alunos como sujeitos conscientes, capazes de entender a História como conhecimento, como experiência e prática de cidadania" (PCN, 1997, p.30).

A LDB, como documento curricular oficial, expressa o que da cultura e da História o Estado brasileiro considera necessário transmitir aos alunos na aula de História. Segundo o que nos dizia a nova LDB:

Art. 26 - Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

Parágrafo 4º - O ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia.

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O texto dos PCN para o ensino fundamental de História também prescreve para que e o que da nossa cultura, da nossa memória, da nossa História deve ser transmitido às novas gerações que frequentam as escolas nas diferentes realidades socioculturais do Brasil. Segundo Fonseca (2009, p. 28-29), a diretriz apontada reforça a preocupação com a inclusão da diversidade cultural no currículo de História. Isso pode ser apreendido no conjunto do texto curricular, especialmente em alguns dos objetivos gerais para o ensino de História:

Os alunos deverão ser capazes de: conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas e políticas reconhecendo diferenças e semelhanças entre eles; Reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas presentes em sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço; Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e como elemento de fortalecimento da democracia. (PCN, p. 33)

Partindo dessas concepções e objetivos, o documento curricular propõe uma organização dos conteúdos em torno de dois eixos temáticos. O primeiro para o primeiro ciclo é "História Local e do Cotidiano", subdividido em torno de estudos sobre a "Localidade e as Comunidades Indígenas". O segundo eixo temático para o segundo ciclo é "História das Organizações Populacionais, Organizações e Lutas de Grupos Sociais e Étnicos, Organizações Políticas e Administrações Urbanas, Organização Histórica e Temporal". Além disso, devemos considerar a inter-relação entre esses temas de estudo e os chamados temas transversais, em particular: Ética, Cidadania, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente.

Em 2003 foi sancionada pelo presidente da República a Lei Federal nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, determinando a obrigatoriedade, no currículo da rede de ensino, da inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" e outras providências. Em 2008 também foi sancionada a Lei Federal nº 11.645, de 10 de março de 2008, que trouxe novas alterações na LDB e modificou a lei anterior, determinando a obrigatoriedade da inclusão do estudo da História e Cultura Afro- Brasileira e Indígena nos ensinos fundamental e médio, públicos e privados, em especial das disciplinas de Educação Artística, Literatura e História Brasileira.

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Esses temas são recorrentes nos projetos curriculares das escolas públicas e privadas e nos conteúdos difundidos pelos livros didáticos, buscando a valorização do ensino de História como um campo de saber fundamental para a formação crítica dos cidadãos e para a construção de uma sociedade democrática.

3.2 Orientações Curriculares de História nas Escolas Estaduais de