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2 POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR EM MEIO AOS

2.1 POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O PAPEL DOS

2.1.1 Propostas do Banco Mundial para formação de professor

O Banco Mundial foi fundado nos Estados Unidos na Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas13. Seu objetivo inicial limitava-se à concessão de empréstimos não comerciais em longo prazo, visando à reconstrução no pós-guerra das economias atrasadas. No entanto, a partir de 1950, com a mudança no cenário internacional e a iminência da Guerra Fria, o Banco passa a oferecer “[...] assistência econômica, política e militar para os países de terceiro mundo”, na expectativa de garantir empréstimos para setores de energia, telecomunicações e transporte (SOARES, 1998, p.18).

No campo da educação, o discurso neoliberal resgata e reformula os enfoques economicistas da teoria do Capital Humano14, e aponta a relação de dependência entre educação e desenvolvimento econômico e social, excluindo os fatores estruturais que determinam as diferenças de classe e enfatiza o valor do desempenho individual no sucesso ou fracasso dos indivíduos na sociedade. Segundo Corraggio (2000) para os ideólogos do Banco Mundial, [...] a educação pode ajudar a reduzir a desigualdade social e proporcionar novas oportunidades aos pobres, aumentando consequentemente a mobilidade social. Analisando essa perspectiva, Gentili (1996) defende que o neoliberalismo induz a transferência da lógica do mercado para a educação, elegendo a concorrência como condição fundamental para assegurar a eficiência e a igualdade dos serviços educacionais prestados. Transfere, pois, a meritocracia que orienta no campo empresarial para o educacional, assegurando, dessa forma, que critérios competitivos orientem a promoção dos mais capazes e dos mais esforçados. Os demais nessa lógica ficariam para trás.

Gentilli (1996) alerta também para o fato de o Banco Mundial produzir um pacote de medida estratégica para melhorar o acesso, a equidade e a qualidade dos sistemas escolares. Envolta por uma determinada ideologia e orientação reformista,

13 Conhecida como conferência de Bretton Woods, realizada, em 1944 nos Estados Unidos, 44 países se reuniram com o objetivo de traçar estratégias que pudessem colaborar para a reconstrução dos países europeus no pós Segunda Guerra Mundial, com vistas a garantir sua estabilidade e crescimento econômico. Segundo Silva (1999), essa conferencia atribui aos Estados Unidos a prerrogativa de coordenar política e economicamente o FMI e o BIRD, ordenando e organizando o bloco capitalista em nível internacional, além de conferir a este maior peso no voto tendo em vista a participação majoritária nas cotas que mantém essas instituições.

14 Para esta teoria, a educação emerge como fator responsável pelo desenvolvimento econômico do país (FRIGOTO,1993).

está implícito o descompromisso de elevar, de fato, a qualidade de ensino, tendo em vista que, em contrapartida, impõe ao Estado brasileiro a redução dos gastos públicos com a educação. Assim, a proposta dá ênfase à descentralização de determinadas ações, em particular aquelas que dizem respeito às responsabilidades financeiras com a manutenção das escolas e a gestão, tendo em vista a municipalização. A descentralização, no entanto, concretiza-se mais como uma desconcentração, pois as grandes diretrizes educacionais, a elaboração do currículo, as políticas de avaliação e de formação docente estão centralizadas junto ao Governo Federal. Às demais esferas do sistema cabe apenas, a execução das ações dentro de parâmetros previamente definidos.

Outro aspecto ressaltado é que o Banco Mundial refere-se à necessidade de a escola envolver os pais e comunidade externa nos assuntos escolares, apontando, inclusive, com a possibilidade de contribuírem, economicamente, para a manutenção da infraestrutura. Além dessa possibilidade, acena com parcerias do setor privado e com Organizações Não-Governamentais (ONGs). Além disso, nas orientações relacionadas ao financiamento da educação, a instituição financeira sugere que estas sejam compartilhadas com as comunidades locais por meio da cobrança de taxas para o ensino superior e empréstimos educativos para alunos carentes, que deverão, posteriormente reembolsar os incentivos feitos com educação.

Referindo-se à gestão da autonomia propagar-se para a educação escolar uma proposta progressiva, salientamos que tanto o Banco Mundial quanto os Ministérios de Educação de países comprometidos com a implementação das políticas de redução do papel e das funções Estado, concebem a autonomia como “[...] mais uma perspectiva de desresponsabilização do Estado com a escola envolvendo a comunidade na gestão educacional e na manutenção financeira das escolas” (CRUZ, 2005, p.44). Assim, o Banco Mundial tem exercido grande influência nos rumos da educação, tanto pelos empréstimos que concede (com custos altos para o tomador) com abrangência em determinada área (no caso a educação), quanto pelo caráter estratégico que desempenha nos processos de reestruturação da economia nos países em desenvolvimento. Diante do exposto, concordamos com Torres (1998, p.185), quando diz que, na política educacional, a intervenção do Banco Mundial,

[...] sem dúvida, é tudo menos um ator neutro, representante da racionalidade científica e da eficiência técnica. É, fundamentalmente, um Banco, um Banco mundial, e é a partir dessa identidade (para a qual é preciso olhar) que define seu papel técnico.

Para entendermos a influência do Banco Mundial na política educacional e sua particularidade na formação de professores, destacamos os principais aspectos da proposta que se refere à capacitação docente, tomando, como referência os trabalhos de Torres (1998), Tommasi (1998) e Santos (1998). Segundo Torres, o Banco avança ao introduzir o tema da docência entre suas prioridades, a despeito de a formação e/ou a capacitação continuarem secundarizadas nos investimentos financeiros. Comparando-se com a ênfase que é dada à infraestrutura, à reforma institucional e à provisão de textos escolares, por ordem de relevância, a capacitação docente aparece depois de todos esses aspectos. Além disso, reforça a autora que a formação/capacitação docente continua a ser vista de forma isolada não atendendo, portanto, às mudanças que necessitam ser introduzidas em outras esferas de modo a tornar o investimento útil e efetivo em termos de custo.

Sabemos que a melhoria da qualidade da educação e o desempenho do ensino tornam os processos de formação e capacitação indispensáveis e complementares. Segundo Torres (1998, p.162), “[...] a formação inicial e capacitação em serviço são diferentes etapas de um mesmo processo de aprendizagem, profissionalização e atualização permanentes do ofício docente”. Não é a formação inicial que deve ser desconsiderada, porém o modelo da formação inicial e em serviço é que tem se mostrado ineficiente e ineficaz.

De acordo com Santos (1998), que apresenta postura semelhante, o Banco Mundial, ao privilegiar as relações custo-benefício, enfatiza a capacitação em serviço como uma forma menos onerosa para formar docentes, desconsiderando a relevância de os profissionais portarem uma sólida formação teórica que privilegie o domínio de esquemas de ensino. Assim, concordamos com o entendimento da autora apresentado nos seguintes termos:

[...] o investimento no conhecimento prático em detrimento do conhecimento teórico, certamente levará à formação de um profissional capaz de seguir diretrizes curriculares, desenvolver propostas que lhe são apresentadas, mas com menor possibilidade de criar projetos, tomar decisões e criticar políticas educacionais. (SANTOS, 1998, p. 135).

Tommasi (1998), que também tem estudado sobre as políticas do Banco Mundial, em particular sobre o Brasil, mostra, como prioridade dessa instituição financeira, melhorar as habilidades dos professores em técnicas de sala de aula. Assim, os projetos fazem previsão de formas diferenciadas de capacitação (em sala de aula e a distância), para promover o estabelecimento de capacitação permanente, prevendo também avaliação dessas atividades e de sua eficácia visando mudar o comportamento dos professores em sala de aula.

2.1.2 Projeto Principal de Educação - PPE: a formação do professor em