• Nenhum resultado encontrado

4. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CONCLUSÕES E PROPOSTAS

4.2.1. Propostas gerais

Começar-se-á, inevitavelmente, por referir a centralização (excessiva) no Estado, cuja preponderância a todos os níveis de organização e de funcionamento do sistema (seja de educação, formação ou orientação) é evidente (tema, de resto, já amplamente debatido

122

no Relatório). Situação que, em certa medida, concorre para o relativo desinvestimento dos demais intervenientes (designadamente, cidadãos, empresas, associações sindicais, culturais ou cívicas...) na procura de soluções para a multiplicidade de questões que se colocam nestes domínios, assim como é agravada pela ainda não totalmente conseguida cooperação e articulação entre profissionais e serviços sobre a tutela do MTS e do ME. Uma das formas possíveis de se ultrapassar este impasse passaria pela inovação nas estruturas, metodologias e formas de organização preconizadas, cujo sucesso depende, em larga medida, de se conseguir uma real expressão das intenções legislativas nas práticas. Por sua vez, o desenvolvimento e a consolidação de redes de cooperação entre as instituições de formação (sejam as escolas, os centros de formação profissional ou qualquer outra instituição responsável pela realização de acções educativas) e a comunidade envolvente (na qual se incluem as empresas), que assumiriam um maior controlo sobre todo o processo de promoção e de divulgação das actividades (formativas, de orientação) aparece como outra forma de viabilizar a referida descentralização, que se pretende acompanhada da participação e consequente partilha de responsabilidades. Ao Estado, caberia cada vez mais um papel de regulação e de definição dos objectivos e metodologias gerais ou, inclusive, de gestão global dos financiamentos e dos resultados sociais obtidos com tais investimentos. Também um mais forte e continuado esforço no estabelecimento de parcerias locais que ampliem e diversifiquem o acesso a acções educativas, formativas e de orientação, em locais como os municípios ou as associações comunitárias, recreativas ou culturais importa como outra medida susceptível de complementar a anterior. No entanto, para que tudo isto faça sentido seria, talvez, importante que, antes de mais, se definisse claramente um projecto de intervenção integrado para os sectores da educação, formação e orientação.

Depois, urge tornar o sistema educativo equitativo, mas diferenciadamente apelativo e adaptado para todos, mesmo os que dele se afastaram ou abandonaram por não se identificarem com as suas propostas e modos de actuação. Para isso, é fundamental começar a criar condições para que a percepção subjectiva do valor e acessibilidade das oportunidades de aprendizagem oferecidas pelo sistema adquiram um significado e uma utilidade reconhecidos e procurados por todos. Como, então, harmonizar formas de (melhor) direccionar a educação e a formação para as necessidades específicas dos diversos públicos-alvo a que se destinam? Uma maneira de o conseguir poderá passar

pela maior flexibilização e diversificação dos meios e da oferta educativa e formativa, nomeadamente sendo contemplada a possibilidade de, a qualquer momento, serem efectuadas transições entre diferentes categorias e fileiras de ensino e formação ou entre o exercício de uma actividade profissional e as anteriores — ou seja, repensando ao actual modelo (estático) de funcionamento e de organização dos sistemas de educação/formação38. Atribuir uma maior ênfase a políticas e práticas de fortalecimento das estruturas de formação, dentro ou fora da escola/centro de formação, afigura-se como outra via. Por outro lado, há que garantir a adequação dos objectivos, conteúdos e metodologias de ensino-aprendizagem às características e necessidades específicas de todos os destinatários. Significa isto que, independentemente do nível etário em consideração, há que procurar contrariar a tendência para o desenvolvimento de respostas únicas para um grupo plural e diversificado de pessoas. No entanto, transformar o sistema de oportunidades, só por si, poderá não ser suficiente, caso não se faça acompanhar de uma mudança na postura dos cidadãos. Eventualmente, a uma maior difusão dos dispositivos indispensáveis à procura e oferta de serviços e estruturas vocacionais na sociedade contribuirá para essa transformação. Os profissionais (da orientação) aí colocados, ao criarem condições para que os indivíduos explorem e reflictam sobre a relação que mantêm com o mundo das formações e das profissões, à partida, ajudá-los-ão no processo de construção e de concretização de projectos pessoal e socialmente úteis e adaptados à realidade envolvente. Estar-se-ia, além do mais, a contribuir para se superarem desfasamentos entre a procura e a oferta (por exemplo, ao nível das expectativas) que, muitas das vezes, explicam a desmotivação ou insucesso dos aprendentes.

O sucesso das medidas anteriores favoreceria grandemente uma maior diluição dos obstáculos que se colocam à participação na educação — outro dos problemas de fundo, transversais a todo o sistema — que, em grande medida, resultam dos desencontros existentes entre o mundo da formação e o do trabalho. Os constrangimentos que dificultam o acesso às actividades educativas são sobretudo de dois tipos: por um lado, os referentes à não adaptação da generalidade das propostas de educação/formação à diversidade de percursos e experiências de quem as procura, dada não só a polarização

38Trata-se, portanto, de repensar as relações entre educação – formação e a orientação – desenvolvimento vocacional dos cidadãos em função da procura mais do que da oferta social.

124

da formação em acções de curta/longa duração como a unicidade dos currículos ou, ainda, a nem sempre conseguida consideração das experiências anteriores (escolares, profissionais, de vida) dos aprendentes; por outro, os devidos à nem sempre bem sucedida articulação entre formação e emprego — recorde-se que, comummente, a primeira se encontra subordinada à segunda —, seja pela importância que ainda hoje têm os diplomas no processo de selecção e de acesso ao emprego, seja pela relativa incipiência de que ainda hoje se revestem os mecanismos e as estruturas de alternância. Também aqui a maior co-responsabilização da iniciativa privada (cidadãos ou formações sociais em que estes se encontram organizados, desde a família, passando pela empresa até à comunidade), pese embora o papel (de gestão, de planificação, de coordenação) que continuaria a caber ao Estado, se afigura como uma estratégia susceptível de ajudar a modificar esta situação — especialmente se daí resultar uma maior aproximação dos objectivos, conteúdos e metodologias de ensino-aprendizagem às expectativas dos públicos-alvo a que se dirigem. O maior envolvimento dos demais agentes sociais em todas as fases do processo educativo, tanto ao nível local ou regional como nacional, surgiria como outra forma de consolidar as pontes entre as estruturas responsáveis pela oferta de educação/formação e as necessidades concretas (dos indivíduos, das suas famílias, das empresas...) a que procura responder. Por sua vez, a maior divulgação e generalização de propostas educativas baseadas no modelo da alternância afigura-se como mais um (poderoso) instrumento capaz de contribuir para a superação de algumas das dificuldades identificadas em termos da articulação formação/emprego, bem como para a valorização da própria formação (inicial ou contínua, da responsabilidade do ME ou do MTS) (e.g., Imaginário, 1999; Pedroso, 1996), para além de outros dispositivos acerca dos quais valeria a pena consolidar e analisar experiências (e.g., formação tutorial).

No que diz respeito aos mecanismos de apoio à gestão da carreira, verifica-se que, de um modo geral, no nosso país, não se encontram previstos quaisquer dispositivos sistemáticos e articulados que permitam apoiar, sinalizar e encaminhar os cidadãos nos diferentes momentos das também variadas transições (por exemplo, entre ciclos ou fileiras de formação, entre contexto educativo e de trabalho, entre situações de emprego e de não emprego) com que esses, previsivelmente, se irão confrontar ao longo das suas existências. Esta é uma situação que acaba por ter repercussões tanto no plano pessoal como económico, visto que, entre outros aspectos, tais acções se relacionam com (a) as

escolhas (educativas, de formação, profissionais) que os indivíduos vão concretizando no decurso das suas vidas, (b) os modos de melhor fomentar a reciprocidade e a conciliação das finalidades e expectativas das organizações (produtivas, educativas) com as dos cidadãos que as integram e (c) os benefícios que tais intervenções (directas ou indirectas) podem trazer à sociedade no seu todo (e.g., redução do desemprego) (Killeen, 1996b). Neste sentido, há que procurar (a) generalizar e divulgar os serviços de orientação escolar e profissional a outros locais que não as escolas ou os centros de emprego ou de formação profissional (e.g., os municípios ou as associações comunitárias, recreativas ou culturais), designadamente sob a forma de agência locais autónomas, as quais poderiam funcionar como um importante complemento aos dispositivos já existentes (entre os quais as UNIVA); (b) consolidar e ampliar os progressos e experiências recentes de cooperação entre os profissionais ao serviço do ME e do MTS, colaboração essa que se poderia traduzir numa mais eficaz detecção e encaminhamento de todos quanto abandonam (precocemente) as estruturas formais de educação ou de formação; (c) diferenciar a oferta de serviços neste domínio segundo os objectivos de quem os procura, por exemplo, em relação ao nível etário dos utentes ou em função do seu grau formal de qualificação; (d) introduzir objectivos de orientação e de desenvolvimento vocacional nos diversos programas (e.g., de formação, de apoio à procura ou criação de emprego) dirigidos por ou na dependência dos serviços (públicos) de emprego, como uma forma de também promover mudanças na quantidade e na qualidade da oferta; (e) dinamizar as estruturas responsáveis pela recolha, tratamento e divulgação da informação sobre o sistema de oportunidades (de educação/ /formação, de emprego), garantindo a regularidade, adequação e acessibilidade da informação face aos seus destinatários preferenciais, (f) sensibilizar os responsáveis pela gestão dos recursos humanos das empresas para a necessidade de darem mais atenção a práticas facilitadoras de um processo gerido de diálogo, entre os indivíduos e as respectivas organizações laborais, sobre as perspectivas de carreira, aspirações, competências e necessidades de desenvolvimento procuradas/oferecidas por cada uma das partes envolvidas.