• Nenhum resultado encontrado

Propriedade atténuante dos humores — Esta

No documento A immunidade : breves considerações (páginas 64-75)

theoria é baseada sobre certos factos innegaveis. Assim os micróbios vivem fracamente, perdendo

76

algumas das suas propriedades, ficando menos vi- rulentos e reproduzindo-se com diffículdade quan- do cultivados em liquidos do organismo de ani- maes immunes e além d'isso estes micróbios assim attenuados sendo inoculados em animaes sensíveis conferem a immunidade aos animaes sujeitos. Pe- las experiências de (Jamaleia sobre o bacillo do carbúnculo, reconheceu-se que, inoculando bacillo do carbúnculo em carneiros muito vaccinados, havia um cedema da região inoculada sem haver diapedese não obstante irem desapparecendo pou- co a pouco as bacteridias; também as de Roger sobre o streptococcus da erysepela provaram que os humores dos animaes imimmisados exercem um certo poder atténuante sobre as bactérias pathoge- nicas. D'aqui se conclue que os humores dos ani- maes vaccinados, quer por uma doença anterior, quer pela injecção de venenos solúveis, adquirem um poder atténuante que tem um papel impor- tante na resistência á infecção.

Propriedade antitoxica dos humores—D'ellafal-

laremos quando tratarmos do modo d'acçao dos soros.

Theorias primitivas da Im- munidade. Órgãos de defeza do organismo. Immunidade natu- ral e adquirida. Acção dos so- ros.

Theorias primitivas—Muitas theorias tem ha-

vido para explicar a immunidade.

Chauffard admittia que a explicação da immu- nidade estava n'uma certa obliteração da impres- sionabilidade. Assim dizia elle que a immunidade era devida ao exgotamento da impressionabili- dade pessoal; mas, sendo esta impressionabilidade verdadeiramente idiosyncrasica e portanto variá- vel segundo os individuos, via-se d'esté modo como ella se dava rapidamente n'aquelles em que o ex- gotamento da impressionabilidade era fácil, ao passo que não se dava n'aquelles que, pela sua natureza especial, estavam promptos a responder á excitação mórbida.

Esta theoria é porém insnfficiente porque se refere á immunidade adquirida pelo individuo e não á produzida pelas doenças que conferem a

78

immunidade mais ou menos duradoira qualquer que seja a impressionabilidade do organismo .^

Pasteur admittia que a immunidade provinha do exgotamento pelo micróbio dos productos do organismo necessários á sua vida.

Chauveau pensava que a immunidade era de- vida á impregnação do meio nutritivo por sub- stancias toxicas segregadas pelo próprio micróbio.

Mas estas theorias caliiram por terra desde que se obteve a immunisação pela introclucção no organismo dos productos solúveis fabricados pelo próprio micróbio. Em seguida vieram as theorias cellulares e humoraes de que nós já tratamos nos capitulos anteriores.

Órgãos de defeza do organismo - A l é m d'estes

modos de defeza, o organismo possuo órgãos de protecção os quaes são os mais ricos em redes vasculares, devido talvez a que os micróbios, pa- rando na primeira rede capillar que encontram, soffrem ahi a acção do órgão. Assim os órgãos- mais importantes são os ganglios lymphatioos; os micróbios podem ahi ficar e a sua destruição faz-se lentamente ou então podem passar além mas a experiência demonstra que a sua virulência ó notavelmente diminuída pois'os symptomas pro- duzidos são diminuidos ou modificados.

O baço umas vezes é util á defeza, outras ve- zes nocivo; isto devido talvez á natureza dos productos que elle segrega pois que em algumas

experiências, em que se fez a extirpação do baço ou a laqueação do seu pedículo vascular, houve attenuação da gravidade da infecção.

A medulla óssea é um dos órgãos importantes por produzir em quantidade os leucocytos poly- nucleares.

Egualmente o apparelho digestivo tem uma acção protectora pois que o estômago e intestino além de actuarem pelas suas secreções, actuam sobre as toxinas quer destruindo-as quer atte- nuando os seus effeitos.

A acção do fígado umas vezes é util, outras nociva pois que Roger demonstrou que elle des- troe certos micróbios taes como o bacillo do car- búnculo e que ao contrario favorece outros taes como o streptococcus; mas esta acção protectora é diminuída pelo jejum e pela mã alimentação.

Finalmente os órgãos d'eliminaçào teem tam- bém uma acção considerável. Assim a importância do rim é absolutamente demonstrada pelas desor- dens observadas em seguida á retenção dos ve- nenos urinários d'origern microbiana. A eliminação das bactérias pelo rim desde muito tempo que está demonstrada: assim Petruschky, Bield e Kraus fazem gosar ao rim uma acção predomi- nante na eliminação bacillar e assim deve ser pois que o rim normal parece não deixar passar os micróbios os quaes só passam no caso de le- sões pathologicas d'esté órgão.

so

micróbios na mina dos aniraaes, aos quaes in- jectou no sangue pouco tempo antes bactérias vivas, depende de lesões mecânicas e chimicas da parede vascular e dos epithelios renaes. Os trabalhos posteriores de Metin confirmaram que os rins e o fígado são impermeáveis ás bactérias introduzidas no organismo quer por via subcu- tânea quer por via intra-venosa e que, quando os tubos de sementeira contém colónias de micróbio injectado, é que houve no liquido semeado, uma certa quantidade de sangue, indicio de uma lesão vascular ou epithelial, mecânica ou chimica.

Além d'estas causas que augmentam a resis- tência natural do organismo ha outras causas que a augmentam também.

Assim Lõwy e Richter mostraram que coelhos mantidos a 41° são resistentes á infecção pelo pneumococcus ; além d'isso a inoculação subcuta- nea de extractos glandulares, do thymus e de soros normaes augmentam esta resistência a qual se traduz por uma abundante leucocytose prece- dida da destruição momentânea dos phagocytos em relação talvez com as substancias bactericidas activas postas em liberdade.

Um dos aspectos pois mais frisantes da irnmu- nidade natural ó a resistência opposta por certos organismos á acção dos venenos. Esta resistência varia muito de espécie para espécie: assim o ne- gro supporta facilmente doses enormes de alcool e de mercúrio o que não acontece com o branco.

Mas é principalmente nas doenças infecciosas que a immunidacle natural adquire uma importância capital. Assim sabe-se que no carbúnculo certas espécies de animaes tae.s como : caviá, coelho, etc. são sensíveis á bacteridia ao passo que outros não d são e o próprio homem é algum tanto re- sistente. Do mesmo modo. o morno apresenta exemplos nítidos de immunidade natural.

A raça gosa uma acção importante na immu- nidade: assim os negros são immunes não só con- tra a febre amarella mas também contra o impa- ludismo. Ha também uma immunidade inhérente á edade sobretudo nos primeiros aimos da vida e egualmente existem immunidades individuaes.

A immunidade adquirida divide-se em activa ê

passiva. A activa dá-so quando se introduz no or-

ganismo uma substancia que produz phagocytose e estado bactericida ou substancia antitoxica e a passiva observa-se quando se introduzem no or- ganismo essas substancias já preparadas.

Ha cinco maneiras diversas de conferir a im- munidade activa e são : ou por um ataque anterior d'uma doença ou pela inoculação d'um virus atte-

nuado ou pela injecção de micróbios vivos ou mortos

ou pela injecção de toxinas microbianas e final- mente pela inoculação de substancias ckimicas.

A immunidade passiva é conferida pela inje- cção d'um soro tirado a um animal vaccinado.

Mas como já dissemos estes différentes modos cie conferir a immunidade adquirida dirigem-se

82

todos d'uma parte a produzirem a phagocytose e d'outra parte a formarem no sangue substancias especificas que actuam directamente ou sobre o micróbio ou sobre as toxinas. No primeiro caso ha a formação d'um soro bactericida tendo a pro- priedade de destruir as bactérias ; no segundo caso ha a formação d'um soro antitoxico que destroe as toxinas.

Posto isto diremos algumas palavras sobre o modo d'aeçao d'estes soros.

Acção dos soros bactericidas — Sobernheim e Frâenkel demonstraram em 1894 que o soro es- pecifico não obstante ser aquecido a 55° durante meia hora, confere do mesmo modo a immuni- dade a um animal novo.

Em seguida Bordet mostrou que o soro bacte- ricida continha duas substancias: uma substancia

preventiva, substancia especifica, anticorpo que re-

siste ao calor; outra substancia, alexina que se destroe com facilidade. Elle demonstrou além d'isso que a substancia preventiva era por si pro- pria incapaz de actuar sobre os micróbios e era preciso que estivesse em contacto com a alexina normal para ter essa propriedade.

Nós já dissemos que, injectando no peritoneo d'um caviá uma cultura de vibrião cholerico, passado algum tempo vê-se ao microscópio a dis- solução completa das bactérias que desapparecem

sem deixar vestígios: este é o phenomeno de Pfeiffer.

Mas qual é a causa d'esta destruição?

Segundo Pfeiffer a acção bactericida do soro produz-se indirectamente por uma transformação de substancia bactericida inactiva em corpo mi- crobicida activo por meio d'uma combinação com as cellulas do peritoneo ; isto é, o anticorpo espe- cifico deve existir no soro debaixo de duas for- mas: uma forma inactiva muito estável e uma forma activa pouco estável.

Dos trabalhos de Metschnicoff e Bordet resulta que no soro bactericida existem duas substancias: a substancia bactericida normal a alexina que é destruida a 60° e a substancia preventiva muito mais resistente que a primeira e que torna os mi- cróbios mais aptos a soffrerem a acção das ale- xinas.

Mas ao passo que Metschnicoff considera o phe- nomeno de Pfeiffer como um estado preparatório cia phagocytose, Pfeiffer ao contrario nào admitte senão a destruição extra-cellular produzida por substancias bactericidas debaixo da influencia de inoculações: mas o que é certo é que esta des- truição extra-cellular só excepcionalmente se faz ao passo que a phagocytose se dá regularmente em todas as phases da immunidade.

Para curar o organismo infectado é preciso que a substancia preventiva encontre n'esse orga- nismo a alexina normal que deve actuar sobre os

84

micróbios e produzir a sua dissolução. Assim Wassermann demonstrou quo inoculando ao mes- mo tempo que o soro especifico uma certa quan- tidade (1'alexina normal provindo d'outra espécie, se cura o animal infectado ; mas a escolha d'essa alexina não é indifférente.

Posto isto diremos duas palavras sobre a ag- glntinação.

Agglutinação —Bordet designa por pbenomeno

à! agglutinação o facto que, debaixo da influencia

do soro especifico, os micróbios em suspensão ho- mogénea em um liquido se reúnem em flocos que em seguida se depositam no fundo do vaso.

Como se sabe o corpo dos micróbios contem uma substancia particular, substancia agglutinada

da Nicolle, provavelmente de natureza albuminóide

que debaixo de certas influencias se coagula re- unindo um numero mais ou menos considerável

de micróbios.

Mas este phenomeno não é somente dirigido contra os micróbios mas sim uma propriedade geral do organismo. Assim Bordet mostrou que depois d'injeeçoes, em animaes, de soro desfibri- nado, o seu sangue adquiria um poder aggluti- nante mui pronunciado em presença dos glóbulos rubros da espécie animal que forneceu o primeiro soro.

Esta agglutinação é produzida por diversas influencias a mais principal das quaes é a «gglu-

tinina substancia produzida pelos elementos vivos

do organismo sob a excitação dos tóxicos micro- bianos; além d'esta substancia Malvoz assignala nos seus trabalhos sobre a agglutinação do ba- cillo typhoso outras substancias taes como o al- dehyde fórmico, o acido acético e o sublimado que provocam sobre certos micróbios uma agglu- tinação como a obtida com os soros especificos.

Mas esta propriedade não é realmente uma propriedade vital pois que Bordet mostrou que os micróbios mortos reagem do mesmo modo que os vivos; assim as culturas do bacillo typhico mortas pelo calor e adclicionadas de algumas got- tas de formol ou sublimado são nitidamente aa- glutinadas pelo soro d'individuos em infecção ty- phica.

A agglutinação tornou-se o ponto de partida de duas grandes descobertas : o diagnostico dif- ferencial do certas bactérias pathogenicas e a de- monstração d'uma febre typhoide no começo. Muitas hypotheses se teem emittido para explicar este phenomeno ; as principaes são :

Hypothèse de Duclaux que diz que ha uma ver-

dadeira coagulação traduzindo-se por um deposito, á superfície, dos micróbios em dissolução no li- quido ambiente.

Hypothèse de Bordet que diz que a agglutinação

depende das leis physicas, isto é, a addição do soro especifico muda a adhesão molecular entre os micróbios e o liquido ambiente.

m

Mas nenhuma d'estas hypotheses explica satis- fatoriamente os factos.

Eecentemente Jooz demonstrou que a aggluti- nação se reduz a uma combinação chimica defi- nida a qual se produz entre as substancias espe- cificas do soro e o protoplasma microbiano, pois que no protoplasma existem pelo menos duas sub- stancias: uma em maior quantidade que se des- troe a 60°, outra resiste a esta temperatura e a cada uma d'estas substancias correspondem no soro especifico anticorpos especiaes com os quaes se unem em combinações mais ou menos estáveis. Finalmente admitte-se que os micróbios agglu- tinados soffreram uma alteração da sua membrana tornando-os desde então aptos a experimentarem

a acção bactericida.

No documento A immunidade : breves considerações (páginas 64-75)

Documentos relacionados