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PROPRIEDADES DOS AGREGADOS RECICLADOS 1 Granulometria dos grãos e conteúdo de finos

SUMÁRIO

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3 PROPRIEDADES DOS AGREGADOS RECICLADOS 1 Granulometria dos grãos e conteúdo de finos

A composição granulométrica é uma característica muito relevante pela sua influência na trabalhabilidade, resistência mecânica, absorção de água, permeabilidade, no consumo de aglomerantes, entre outras propriedades das argamassas.

Numa central de reciclagem brasileira, Miranda (2000) verificou que os teores de finos (<75 μm) em agregados alcançaram até 30 % da massa total. Para Duailibe (2008), ao serem usados em argamassas, os agregados reciclados, com a fração mais fina e maior superfície específica, precisam mais água de mistura e formam materiais com poros menores e com maiores potenciais de sucção.

A NBR 15116 (2004) limita o uso do teor de finos <75 µm em 20%, quando se utiliza o agregado reciclado destinado ao preparo de concretos sem função estrutural. Porém, para o uso do agregado reciclado em argamassas, a norma não apresenta requisitos ou estabelece exigências técnicas mínimas para o seu controle. Já a norma europeia prEN 13139 (2002) limita em, no máximo, 5% o teor de finos <63 µm, para o uso em argamassas de revestimento dos agregados obtidos do processamento natural, manufaturado ou de material reciclado.

Lima (1999) e Miranda (2000) aconselham eliminar parte da fração miúda (<75 μm) do agregado reciclado para melhorar propriedades como, a absorção de água e reduzir os riscos de patologias, pela presença de contaminantes. Além disso, Miranda e Selmo (2004) relatam que finos inferiores a 75 μm podem trazer consequências no seu desempenho, como fissuras, diminuição de aderência, entre outras.

Os agregados reciclados oriundos da britagem de blocos de concreto apresentam uma composição granulométrica mais contínua, sendo considerado adequado para utilização em argamassas, quando comparados com os agregados de alvenaria (MIRANDA E SELMO, 2004).

2.3.2 Forma e textura superficial dos grãos

A forma dos grãos diz respeito às características geométricas do agregado, que podem ser arredondadas (partículas formadas pelo atrito com perda de vértices e arestas), angulosas (agregados de rochas intrusivas britadas que possuem vértices e arestas bem definidas),

achatadas (partículas cuja espessura é relativamente pequena em relação às outras duas dimensões) ou alongadas (partículas cujo comprimento é consideravelmente maior do que as outras duas dimensões). Já a textura superficial diz respeito ao grau de quanto à superfície do agregado é lisa ou áspera, sendo baseada em uma avaliação visual (MEHTA; MONTEIRO, 1994).

Num contexto geral, os agregados reciclados são mais angulares, irregulares, com superfície mais porosa e com textura mais áspera que os agregados naturais (ANGULO, 2000; LEVY, 2001). Essas características podem sofrer variações dependendo da composição do resíduo e do equipamento usado na britagem.

A forma e a textura superficial dos grãos dos agregados influenciam mais nas propriedades da argamassa no estado fresco do que no endurecido (MEHTA; MONTEIRO, 1994). A forma e a textura do agregado miúdo têm um efeito significativo sobre a demanda de água de uma mistura. As partículas mais angulosas e mais lamelares exigem mais água, para alcançar a trabalhabilidade adequada (NEVILLE, 1997; LIMA, 1999).

Tais características podem ser também observadas nos agregados miúdos oriundos de usinas de beneficiamento. São elas: a porosidade e a rugosidade que são atribuídas à quantidade de argamassa aderida ou o próprio material cerâmico, que é mais rugoso e poroso do que o agregado natural.

Materiais granulares angulares e lamelares tendem a formar poros mais tortuosos e a reduzir a conectividade desses poros. O aumento da tortuosidade dificulta a penetração de água e a redução da conectividade dos poros diminui a quantidade de água absorvida (CINCOTTO; SILVA e CARASEK, 1995).

2.3.3 Massa específica e Massa unitária

A massa específica é uma propriedade influenciada pela porosidade do material (NEVILLE, 1997). Já, a massa unitária é influenciada pela porosidade, a distribuição de tamanho e a forma dos grãos (DUAILIBE, 2008).

A massa específica e a massa unitária dos agregados reciclados diferem das observadas nos agregados naturais devido à composição do agregado. Os agregados reciclados possuem massa específica, em média, 10 % menor que a dos agregados naturais. Lima (1999) analisou esse efeito e concluiu que isso se deve à massa específica relativamente menor da argamassa aderida e pelo fato dos resíduos de construção

serem compostos de materiais porosos. Isto se reflete nas massas específicas de argamassas com agregado reciclado que também são menores que as de argamassas convencionais.

2.3.4 Contaminantes e Impurezas

Nos materiais reciclados, é necessário que haja maior observação em relação aos materiais contaminantes ou impurezas, que se encontram presentes pela dificuldade de remoção antes e após a britagem, produzindo efeitos negativos às argamassas, não só às propriedades mecânicas, mas também à durabilidade. Sabe-se que, na fração miúda (menor que 4,8 mm) do agregado reciclado, estão presentes os maiores teores de impurezas.

Contaminantes nos materiais reciclados são considerados os materiais minerais não inertes ou que prejudicam a qualidade de concretos e argamassas, como: cloretos, sulfatos, matéria orgânica além de produtos industrializados leves (papel, plástico, tecido entre outros), vidro, betume, vegetação, terra, madeira e outros. As impurezas e seus teores admissíveis dependem do uso pretendido para o agregado de RCD (LIMA, 1999).

O gesso é um dos mais prejudiciais, que pode levar a expansão da argamassa devido o sulfato. Por isso, nas normas de reciclado, são estabelecidos limites rigorosos ao conteúdo de sulfatos (LIMA, 1999). Para reduzir o efeito do gesso nas argamassas, podem ser usados cimentos mais resistentes a sulfatos, como o CP III e o CP IV (MIRANDA; SELMO, 2004).

2.3.5 Absorção de água e porosidade

A absorção de água é uma propriedade completamente relacionada com a porosidade do material. O agregado reciclado, por ser composto por materiais porosos como argamassas, componentes de alvenaria, entre outros, apresenta taxas de absorção significativas, afetando principalmente a trabalhabilidade e a durabilidade da argamassa (LIMA, 1999; POON e CHAN, 2007; DUAILIBE, 2008; NENO, 2010).

A absorção de água é uma das características em que o agregado reciclado mais difere dos agregados naturais. Nos agregados reciclados, ocorre numa maior velocidade que os agregados naturais, podendo chegar à saturação em poucos minutos (PEDROZO, 2008; DUAILIBE, 2008).

Lima (1999) percebeu que, em diferentes amostras de agregados reciclados, com composições variadas, após 5 minutos de imersão em água as amostras atingiram cerca de 95% da absorção máxima.

Devido à maior absorção, para o uso dos agregados reciclados em argamassas, alguns autores recomendam seu uso na condição saturada, para evitar que o agregado absorva a água de amassamento, necessária para a hidratação e ganho de resistência, prejudicando a mistura. Uma das opções para a saturação prévia do agregado reciclado é levar o mesmo ao misturador e adicionar a água necessária para sua saturação, após pelo menos 7 minutos adicionar o cimento.

A NBR 15116 (2004) limita a absorção de água do agregado reciclado misto (concreto, argamassa e bloco cerâmico) em, no máximo, 17%.

Schulz (1993) propõe as seguintes técnicas para utilizar agregados absorventes: adição de água de acordo com os resultados do teste de absorção de água após 30 minutos; saturação dos agregados por imersão; ou a adição de água à argamassa de acordo com a trabalhabilidade requerida.

A absorção dos agregados reciclados pode variar em função da natureza do material e da faixa granulométrica (ANGULO, 2000).

Apesar da porosidade de uma mistura granular ser uma propriedade dominante no transporte de água, a tortuosidade e a conectividade dos poros mostram-se como características que podem reduzir essa influência (DUAILIBE, 2008).