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Ao nos apropriarmos de Lev Manovich (2001), num dos capítulos anteriores, expomos que a televisão também já possui a lógica algorítmica dos computadores. A TV digital se apoia justamente nos princípios da composição matemática, possibilitando que o sistema forneça funções mais robustas e dê acesso à incorporação de outros comandos programados por softwares. Mas na prática, como isso funciona? Há evidentes benefícios da TV digital em relação à televisão analógica tradicional, como até preliminarmente apresentamos na descrição dos padrões existentes. Agora, pretendemos sumarizar, em específico, quais são as principais propriedades da TVD, que a tornam diferente da TV analógica. Elas vão desde a ordem do desempenho técnico – com a imagem rica em detalhes, melhoria do sinal, som digital, multiplicidade de canais e acessibilidade – até o aspecto social, na medida em que permite a interatividade entre telespectador e emissora. São elas:

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a) Qualidade de Imagem: o progresso implica em um sistema com aperfeiçoamento da

imagem em até seis vezes em relação à TV convencional, o que resulta em conteúdos audiovisuais com uma nitidez muito superior. Como a transmissão é feita através de um fluxo de bits, há a possibilidade de se transmitir uma maior quantidade de informação, por causa – principalmente – das técnicas de compressão, que conseguem reduzir as redundâncias da imagem (eliminando dados que se repetem em cada frame84) sem perdas, de modo que o material comprimido seja idêntico ao original. Basicamente, os padrões de imagens suportados pela TV digital estão caracterizados no quadro 1.

b) Melhoria do sinal: os sinais digitais são capturados por computadores e se tornam aptos à

manipulação. Com a digitalização, o sistema de transmissão/recepção fica mais resistente aos efeitos do ruído, que pode ser detectado e também corrigido. Segundo Valdecir Becker e

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Um vídeo é formado pela soma de quadros fixos, chamados de frames. Vários deles sendo capturados em frações de segundos é o que determina a composição dos movimentos. Há sistemas, por exemplo, em que os vídeos são formados pela cadência de 60 quadros por segundos.

PADRÕES DE IMAGEM HDTV

(High Definition Television)

EDTV (Enhanced Definition Television) SDTV (Standard Definition Television) LDTV

(Low Definition Television)

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Formato da imagem em alta definição (16:9), da mesma proporção utilizada nos cinemas. Oferece uma sensação de maior proximidade com as cenas, apresentando 1.080 linhas de resolução vertical e 1.920 (full HD) ou 1.440 linhas de resolução horizontal.

Formato de média definição, com o aspecto semelhante ao HDTV (16:9), mas com resolução inferior: 720 linhas verticais e 1280 linhas horizontais.

Utiliza-se do atual aspecto dos televisores convencionais, na proporção 4:3. A resolução horizontal também é equivalente à da TV analógica, geralmente apresentando 480 linhas verticais e 640 horizontais.

Definição voltada para recepção em telas com menor dimensão, como smartphones e TVs portáteis. Apresentam 240 linhas verticais e 352 horizontais.

86 Carlos Montez (2004), existe interferência no sistema analógico quando canais são alocados em frequência muito próxima, sendo necessária uma faixa livre entre dois canais para a supressão da interferência, no entanto, no digital, isso é dispensável, havendo, portanto, uma otimização do espectro de frequências.

c) Som digital: em vez do som mono (com um canal de áudio) ou estéreo (com dois canais)

da TV analógica, o áudio da TV digital apresenta seis canais, com uma qualidade similar à de cinema e de home theaters por meio do dolby digital system. Nessa tecnologia, os seis canais independentes de som são: dois frontais, um central, dois traseiros e um de efeito subwoofer, quer dizer, de baixa frequência, para reforçar os sons vindos de trás, proporcionando uma maior sensação de envolvimento com o que é veiculado.

d) Multiplicidade de canais85: são viabilizados múltiplos fluxos de vídeo ao mesmo tempo,

permitindo que mais de um programa de TV (multiprogramação) seja exibido simultaneamente. As tecnologias de transporte permitem que o fluxo carregue diversos formatos de vídeo, e o conteúdo pode ser transmitido em diferentes resoluções. Isto é, os televisores digitais ou proverão imagens em alta definição ou oferecerão ao telespectador a opção de assistir a até seis programas ao mesmo tempo, em resolução mais baixa. O telespectador pode, ainda, escolher entre diversos ângulos de câmera para assistir a um evento esportivo, por exemplo, como já é disponibilizado em operadoras de TV por assinatura. Para Carlos Ferraz (2009, p. 23), “apesar das diversas combinações (interessantes) que podem ser feitas com a multiprogramação, (...) faltam ainda modelos de negócios consistentes para essa característica e, portanto, ela é a que tem tido menos atenção”.

e) Acessibilidade: os sinais digitais proveem mobilidade dos conteúdos televisivos, que

podem ser acessados através da TV portátil e dos dispositivos móveis. No espectro, um espaço é destinado apenas para essas transmissões. O resultado dessa oportunidade é uma experiência diferenciada do ato de assistir televisão. Carlos Ferraz (2009, p. 25) adverte que, no futuro, outra característica importante pode ser uma maior customização dessa experiência.

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No momento, o governo brasileiro e a Globo já sinalizaram o desinteresse na multiplicidade de canais. Sobre isso, discutiremos mais na frente.

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Unindo-se o conteúdo audiovisual de qualidade, a mobilidade e a interatividade, é possível imaginar cenários de personalização em que cada usuário possa receber conteúdo orientado a localizações específicas, adaptado a suas preferências pessoais, etc. Além disso, uma vantagem da TV móvel é que já se tem, desde o início, pelo menos um canal de interatividade disponível, como, por exemplo, o canal de telefonia celular.

f) Interatividade: o sistema TVD torna capaz a ação direta sobre um conteúdo difundido pela

televisão. É apontada como o principal atrativo e, no caso do Brasil, por exemplo, é encarada também como uma promessa de viabilizar ou acelerar o processo de inclusão social, cultural, educativo e econômico, nos lugares onde a população tem menos acesso a outras tecnologias. A propriedade da televisão digital é possibilitada por uma plataforma de software integrada às camadas técnicas que compõem o sistema. Essa plataforma, denominada middleware, é a responsável pela execução dos aplicativos interativos. De acordo com o tipo de serviço oferecido para o telespectador, esses aplicativos promovidos pelo middleware poderão requisitar um canal de retorno ou de interatividade86 (tecnologia que permite comunicação bidirecional, por meio de uma conexão com as redes IP, de telefonia fixa ou de telefonia móvel).

Carlos Ferraz (2009) estabelece uma classificação dos níveis de interatividade em função de duas questões correlacionadas: o canal de retorno e o desenvolvimento de aplicações. A “interatividade local” é aquela que não utiliza o canal de retorno, e as aplicações são armazenadas para serem efetuadas no próprio conversor ou aparelho televisor, sem necessariamente se comunicarem com a emissora, como o Guia de Programação Eletrônica (EPG, Eletronic Program Guide). A “interatividade simples” corresponde àquela que necessita apenas de alguma rede sem conexões muito potentes. Nesse caso, as emissoras enviam dados interativos junto com o fluxo audiovisual, como enquetes, e os usuários podem utilizá-los, devolvendo uma resposta para a emissora. E a “interatividade plena” utiliza a conexão banda larga como canal de retorno, possibilitando o desenvolvimento de aplicações mais robustas, com maior volume de dados. Ferraz cita como exemplo desse tipo de interatividade as aplicações do tipo “vídeo sob demanda”, no qual o telespectador personaliza o conteúdo a que deseja assistir de determinado programa.

Uma vez que o middleware exerce uma relação direta com a disposição da interatividade (enfatizada neste trabalho) e que ele é considerado também um importante

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88 diferencial no ISDB-TB (padrão adotado pelo Brasil)87, investigaremos como se dá sua atuação, sobretudo no processo brasileiro de transmissão digital.

3.3 A função do middleware na TV digital

O sistema básico de TVD (figura 14) é constituído por uma estação transmissora, um meio físico sobre o qual o sinal é emitido, que pode ser o ar ou meios físicos guiados (cabo coaxial, fibra óptica, etc.), e um receptor responsável por receber o sinal transmitido, decodificá-lo e exibi-lo. É imprescindível que sejam estabelecidos princípios que normatizem todo o processo de captura, compressão, modulação e transmissão dos sinais de vídeo, além de todas as interfaces físicas entre os equipamentos envolvidos no processo - o conjunto dessas referências técnicas é justamente o que compõe as definições do sistema.

Figura 14 - Componentes de um sistema de televisão digital

Fonte: BECKER e MONTEZ (2004, p.106)

O trajeto que o sinal faz até chegar à casa do telespectador é o seguinte (figura 15): No primeiro momento, o material audiovisual que atingirá os televisores nas residências percorre um trajeto que tem origem no codificador de fonte de determinada emissora. Este codificador

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