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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DE UM INSTRUMENTO

Avaliar as propriedades psicométricas de um instrumento é um critério essencial para determinar a qualidade de sua mensuração. As características psicométricas principais para verificar

a precisão de um instrumento são a confiabilidade e validade. A confiabilidade refere-se à capacidade de uma escala em mensurar fielmente um fênomeno, sendo a validade a sua capacidade em medir com precisão àquilo que se propõe (CARVAJAL et al., 2011).

A confiabilidade pode ser obtida através da análise da consistência interna e da reprodutibilidade. A correlação existente entre cada item de forma individual, com os demais itens da escala é avaliada através da análise de consistência interna. Em testes com pequeno número de itens, cada um deles possui peso maior e apresenta contribuição significativa para a soma total dos resultados e o cálculo do escore total, ao passo que a existência de vários itens em um teste diminui significativamente a influência particular do item no escore total (PASQUALI, 2013).

Essa homogeneidade entre os itens pode ser verificado por técnicas como o cálculo do α de Cronbach e a técnica de Kuder-Richardson. Contudo, o Coeficiente de Cronbach é o mais utilizado, uma vez que mede a correlação dos itens dentro da escala e analisa como diferentes itens medem as mesmas características. Os valores podem variar de 0 a 1, sendo àqueles inferiores a 0,5 considerados não aceitáveis, valores entre 0,5 e 0,6 como consistência baixa, entre 0,6 e 0,7 como consistência fraca, de 0,7 a 0,8 estariam em um nível aceitável, no intervalo de 0,8 a 0,9 apresentam boa consistência interna, e valores superiores a 0,9 são considerados excelentes (HULLEY et al., 2008; PILATTI; PEDROSO; GUTIERREZ, 2010).

A reprodutibilidade de um instrumento é a propriedade que designa a constância das respostas obtidas em diferentes ocasiões, sob as mesmas condições e com os mesmos sujeitos. Pode-se obter essa propriedade através da técnica de teste-reteste, o qual consiste em aplicar o mesmo instrumento em uma mesma amostra de sujeitos em ocasiões distintas e comparar os resultados de ambos os momentos. Para tanto, determina-se o intervalo de tempo em que espera-se que não haja mudanças nos sujeitos avaliados, ao passo que o mesmo não seja pequeno de forma que os indivíduos possam recordar as respostas da primeira aplicação (PASQUALI, 2009; SAMPIERI; CALADO; LUCIO, 2013).

Para analisar a reprodutibilidade é possível calcular o Coeficiente de Correlação Intraclasse r de Pearson que detecta a variação dos escores do instrumento e permite obter um único coeficiente a depender do número de aplicações da escala. Os valores variam de 0 a 1, e aqueles superiores à 0,70 são considerados satisfatórios (CARVAJAL et al., 2011; CUNHA; NETO; STACKFLETH, 2016)

A validade se refere à um julgamento avaliativo do grau em que evidência empírica e racionalizações teóricas apoiam a adequação e propriedade de inferências e ações baseadas em

escores de teste ou outros modos de avaliação. De forma geral, este conceito se refere à intensidade em que o instrumento realmente mensura a variável ao qual se propõe mensurar (PASQUALI, 2009; SAMPIERI; CALLADO; LUCIO, 2013)

Dentre os tipos de validade, os mais abordados são: a validade de conteúdo, a validade de critério e a validade de construto. A validade de conteúdo aborda o processo onde se avalia a capacidade da variável mensurar um domínio específico de construto. A validade de critério é referida através da relação estatística significante entre a variável e o critério o qual se pretende mensurar, enquanto que a validade de construto relaciona-se com a competência do instrumento em representar e mensurar um conceito teórico (RUBIO et al., 2003).

A validação de construto tem por objetivo constatar a plausibilidade na qual os itens que estruturam o instrumento representam de forma legítima os traços latentes (teoria do construto), os quais pretendem mensurar. Este processo pode ser realizado de diferentes formas, através da análise da representação comportamental do construto, da análise por hipótese, da curva de informação da Teoria de Resposta aos Itens e do falsete estatístico do erro de estimação da Teoria Clássica dos Testes (PASQUALI, 2013).

A análise da representação comportamental verifica a congruência da mensuração do construto a partir da apreciação dos comportamentos (itens) que compõem o instrumento. A capacidade do teste em discernir ou predizer um critério externo a ele mesmo é averiguado pela análise por hipóteses. Na Teoria Clássica dos Testes o resultado final (escore verdadeiro) de um indivíduo em um determinado teste representa o nível do construto que pretende se avaliar a partir da soma total dos escores do instrumento, sendo o erro de estimação a diferença entre o escore verdadeiro pelo escore esperado do teste. E por último, na Teoria de Resposta aos Itens, considera- se o item de forma individual avaliando a probabilidade do examinando em fornecer uma determinada resposta considerando os parâmetros individuais do item e sua relação com o construto ser mensurado; sendo assim, a curva de informação da Teoria de Respostas ao Item permite analisar o valor da informação psicométrico de um item em avaliar o construto (ANDRADE; LAROS; GOUVEIA, 2010; MANFREDINI; ARGIMON, 2010; KLEIN, 2013; SARTES; SOUZA- FORMIGONI, 2013).

A capacidade de discriminação ou predição do teste em identificar critérios que difiram especificamente do construto do instrumento é avaliada através da análise por hipóteses. Existem diferentes formas de assegurar esse tipo de validação, entre elas as mais utilizadas são a validação convergente-discriminante, correlação com outros testes do mesmo construto e a experimentação

(PASQUALI, 2009).

A validação convergente é utilizada quando existe um instrumento já conhecido e validado e que aborde o mesmo construto do instrumento que deseja validar para analisar a relação entre os mesmos. Espera-se, que por mensurar traços latentes teoricamente relacionados, as escalas apresentem alta correlação entre eles. Já a validade discriminante é verificada quando observa-se correlação nula de instrumentos que apresentam traços latentes independentes (PASQUALI, 2007; PASQUALI, 2009).

Para garantir a fidedignidade do instrumento e a qualidade de sua mensuração as características psicométricas devem ser avaliadas. Realizar o processo para verificar a confiabilidade e a validade é imprescindível para assegurar que os resultados obtidos no estudo podem ser interpretados adequadamente e utilizados na prática clínica (CARVAJAL et al., 2011).