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Proprietário versus credores (e outros grupos de interesse):

3. AS DIFERENTES PREMISSAS DA TEORIA FINANCEIRA NO

3.2. R ELAÇÃO COM O MEIO ENVOLVENTE

3.2.2. Proprietário versus credores (e outros grupos de interesse):

Um dos temas que tem despertado o interesse da investigação em Finanças Empresariais é a possível adaptação dos conceitos desenvolvidos à luz da Teoria da Agência (cf. 3.1.2. Proprietário versus gestor: o fim dos problemas de agência?) à relação entre accionistas e credores (ou outros grupos de interesse).

Hand et al. (1982), Chittenden et al. (1996), ou ainda Vilabella e Silvosa (1997), defendem que, no domínio das Pequenas e Médias Empresas, a probabilidade de ocorrência de problemas de "selecção adversa" ou de "risco moral" é mais acentuada, como consequência, nomeadamente, da maior assimetria de informação (cf. 3.2.1. Informação). O aspecto sobre o qual se regista maior preocupação é o do relacionamento com os credores por financiamento. Chung (1993) acentua mesmo que, nas empresas geridas pelo proprietário, o "risco moral" é bastante mais elevado, uma vez que o gestor actua em seu próprio nome, ao passo que, quando o gestor não é proprietário, pode, de certa forma, desempenhar um papel moderador.

15 A dimensão deste problema está, em larga medida, dependente do sector de actividade em que a

empresa se insere. Como é evidente, uma Pequena ou Média Empresa ligada à actividade da Restauração deverá ter menos segredos do que uma outra que actua no domínio da Biotecnologia...

No que respeita aos custos de agência, a questão pode ser analisada sob duas perspectivas:

o autores, como Pettit e Singer (1985) e Chittenden et al. (1996), preocupam-se, sobretudo, com os custos suportados pelos credores por financiamento, no trabalho de acompanhamento das Pequenas e Médias Empresas, argumentando que a importante componente fixa destes custos assume um maior peso, no caso das Pequenas e Médias Empresas;

o por outro lado, algumas Pequenas e Médias Empresas, com o objectivo de resolver ou minorar os problemas de agência, impõem restrições a si próprias, ao nível da quantidade de fornecedores ou de instituições financeiras com que trabalham, de molde a aumentar o número de transacções e criar, desta maneira, um "bom nome" (cf. 3.2.3. "Sinais" e reputação). Esta prática acaba por se consubstanciar num "custo de agência", visto que a empresa, de forma deliberada, "perde acesso" ao mercado, abdicando da eventual obtenção de melhores condições.

A finalizar, merece destaque o papel de charneira desempenhado pelas instituições financeiras, neste âmbito: na verdade, o seu dispêndio de recursos no acompanhamento das Pequenas e Médias Empresas gera externalidades para os outros grupos de interesse, que, na presença de uma instituição especializada na avaliação e julgamento do potencial das empresas, tenderão a diminuir as suas actividades de controlo, baixando os seus custos de agência. Como consequência desta "liderança", é com naturalidade que se perspectiva o desenvolvimento de relacionamentos mais estreitos entre as instituições financeiras e as Pequenas e Médias Empresas (cf. 4.2.4.2.5. Financiamento bancário).

3.2.3. "Sinais" e reputação

Com base nos estudos elaborados por Ross (1977)16 e por Leland e Pyle (1977)17, desenvolveu-se uma teoria, segundo a qual, num quadro de assimetria de informação, as decisões da empresa, em matéria financeira, podem ser utilizadas pelo mercado de capitais como indícios de uma determinada realidade. Deste modo, o trabalho destes autores focou aspectos relacionados com interpretações de diferentes decisões, ou de financiamento, ou de distribuição de resultados, passíveis de serem tomadas por uma empresa. Assim, a título de exemplo, atente-se que a emissão de dívida poderia constituir um "bom sinal", porque a empresa ficaria obrigada a desembolsos periódicos e, consequentemente, restaria menos capital à disposição do "livre arbítrio" dos gestores (problema de agência); emissões de capital próprio transmitiriam um "mau sinal", na medida em que indiciariam uma incapacidade de recorrer a capitais alheios; aumentos dos dividendos traduziriam excelentes expectativas face aos lucros futuros.

Sendo uma teoria construída em torno da relação entre empresa e mercado de capitais, não parece, a priori, poder trazer contributos relevantes para este trabalho. Porém, e conforme é realçado por Wijst (1989), num quadro em que se atribui uma maior importância à questão da assimetria de informação (cf. 3.2.1. Informação), têm que ser equacionadas as "sinalizações" dirigidas ao conjunto mais restrito dos potenciais interessados na empresa e não ao mercado.

Sem a preocupação de uma análise exaustiva (até porque, em matéria de interpretações, há uma vastidão de possibilidades), podem ser referidas várias actuações das Pequenas e Médias Empresas ou dos seus proprietários que visam fazer chegar qualquer indício a

16 Ross, S. (1977), "The Determination of Financial Structure: The Incentive-Signalling Approach", Bell

Journal of Economics, pp. 23-40.

17 Leland e Pyle (1977), "Information Asymmetries, Financial Structure and Financial Intermediation",

"alguém". Por exemplo, dos trabalhos de Keasey e McGuiness (1990), Constand et al. (1991), Norton (1991) e Scholtens (1999), é possível retirar algumas ideias:

o a percentagem do capital próprio detida pelos proprietários-gestores é vista como uma prova de envolvimento e crença no projecto;

o a escolha do intermediário financeiro, que "coloca" a empresa junto de potenciais investidores ou financiadores, terá, por certo, um significado;

o o preço pelo qual são vendidas as acções (seja a investidores particulares, a empresas de capital de risco, ou mesmo numa oferta pública de venda inicial), comparado com o "justo valor teórico" pode levar a suposições diversas, tais como: "se estão a vender barato, é porque não conseguem arranjar dinheiro de outra forma...";

o o facto de um intermediário financeiro não exigir garantias reais ou pessoais é um precioso dado relativamente à qualidade e reputação do devedor (cf. 4.2.4.2. Capitais alheios);

o proprietários que recusam por regra conceder garantias podem dar um sinal da qualidade, de per si, da sua empresa; em contraposição, a abdicação deste princípio pode indiciar dificuldades;

o a forma como se processa a gestão do fundo de maneio (cf. 4.4. Gestão financeira de curto prazo) traduz claramente a "saúde financeira" da Pequena ou Média Empresa.

Neste capítulo, é importante, ainda, fazer menção a McConnell e Pettit (1984), que salientam o facto de qualquer actividade de sinalização de uma Pequena ou Média Empresa aos seus potenciais interessados ser relativamente mais cara e visar suprir uma assimetria de informação mais ampla.

Um outro factor que merece ser tomado em linha de conta é a reputação da Pequena ou Média Empresa e/ou do seu proprietário-gestor. Ao contrário das Grandes Empresas, em que a reputação acaba por constituir um dado objectivo, que se manifesta na atribuição

por uma maior subjectividade deste conceito, "alimentado" pelo decurso do tempo (que introduz, progressivamente, um factor de confiança acrescida nas relações estabelecidas) e pela passagem de informações pela via informal. Assim, e de uma forma algo simplista, dir-se-á que a reputação das Pequenas e Médias Empresas pode equivaler à notação de risco18 de uma Grande Empresa. A consciência deste facto conduz a que algumas Pequenas e Médias Empresas tomem medidas activas, no sentido de cultivar uma "boa reputação", condicionando as suas políticas financeiras (cf. 4.2.4.2.5. Financiamento bancário).

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