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Prossumidores em ação

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CAPÍTULO II – AS EVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS NO JORNALISMO

4. Prossumidores em ação

O termo prossumidor foi anunciado pela primeira vez por Alvin Toffler em 1980 no livro “A terceira onda”. A definição está mais aplicada ao mercado, porém pode ser encaixada também nos estudos da comunicação. Ao contrário do ocorrido na revolução industrial em que as fábricas desenvolviam os produtos para os consumidores, o autor explica que aconteceria o sentido inverso no futuro, dos consumidores para os fabricantes.

No livro, Toffler divide a história em três ondas de transformações: a agrícola, a industrial e a tecnológica. Grande parte do que se vive no século XXI foi previsto pelo autor nesta obra: muitas informações acessíveis, uso de computadores pessoais e a participação mais ativa dos consumidores.

Os veículos de comunicação, com o auxílio da internet, perceberam que valorizar o receptor poderia ser uma estratégia vantajosa para atrair audiência e fidelizar o usuário, alterando a forma de distribuição e produção de conteúdo.

As mídias são assim, de fato, desterritorializadas, sem que isso signifique uma perda ou dissolução da dimensão local na produção de conteúdos. Elas não estão mais ligadas apenas a uma zona geográfica, mas a uma comunidade de proximidade local ou semântica, a redes sociais ouvintes, de espectadores, de leitores ou de produtores, que podem estar dispersos e situados em qualquer lugar do mundo (LEMOS; LÉVY, 2010, p.73).

Clay Shirky (2011, p. 25) explica que os usuários não utilizarão mais a mídia para um simples consumo e propõe uma abordagem diferenciada em que a produção e o compartilhamento transformarão esses modelos antigos. O autor chama atenção por apresentar o conceito de um engajamento na web que gere oportunidades para o usuário, a Cultura da Participação aproveita dos hábitos das pessoas para alterar e revolucionar os meios. Motivados a participar podem romper com os velhos padrões por meio da criatividade e trazer mais democracia com o uso das ferramentas digitais. “Mas a mídia é na verdade como

um triatlo, com três enfoques diferentes: as pessoas gostam de consumir, mas também gostam de produzir e compartilhar. Sempre gostamos dessas três atividades, mas até pouco tempo a mídia tradicional premiava apenas uma delas”.

Shirky ainda explica que a participação é algo inerente e natural, faz parte de um pacote de novos padrões. Mesmo sendo nova, antes feito apenas por profissionais capacitados, e o indivíduo nunca ter praticado, poderá sim dar um retorno positivo. As atuais ferramentas no setor da informática, os softwares de fácil manuseio, acabam permitindo um domínio maior das técnicas operacionais.

O fenômeno do YouTube comprova essa teoria. Lançado em junho de 2005 se tornou um canal de web programado e editado pelos usuários no envio de vídeos, de qualquer localidade, a partir de seus próprios aparelhos conectados a internet, visto por bilhões de pessoas. O artesão esquecido em determinada região pode virar um fenômeno ao divulgar sua técnica na rede, o mesmo acontece com cantores, cozinheiros, professores, entre outros. O cidadão comum antes esquecido e dominado pela televisão e outros veículos, agora tem a chance de se abrir ao mundo.

O modelo de negócio do YouTube se construiu por meio da circulação gratuita, então como levantar fundos e ganhar dinheiro com a novidade? Por meio de parcerias com empresas renomadas no setor do audiovisual, música e também com a publicidade inserida nos vídeos, os anunciantes e empresários conseguiram tirar proveito da plataforma. Na web a medição de audiência por parte do usuário ainda apresenta pontos a serem melhor desenvolvidos, já que métodos de audiência da televisão foram adotados também na rede, desconsiderando aspectos relevantes como perfil do público, participação e tempo de permanência. Entre as literaturas estudadas há uma crítica quanto às metodologias hoje empregadas para conseguir chegar a um consenso.

Nem sempre a participação do usuário é vista de forma positiva e desbravadora. Burgess e Green (2009, p.42) relembram que apesar de trazer sinais de novos tempos e incentivar a participação coletiva o site foi criticado sobre as questões de moralidade, ofensas e enaltecimentos de atos de violência. O uso desenfreado, principalmente pelos jovens causou relatos de “ciberintimidação” – quando as tecnologias são usadas para intimidar pessoas. Em diferentes países o acesso ao YouTube foi bloqueado e restrito devido o mau uso.

Debates a cerca do bom e do mau uso do YouTube se resumem a ideias sobre ética. Mas a ética da participação no YouTube não pode ser reduzida a julgamentos sobre quais padrões morais predeterminados estão sendo postos em prática. De maneira mais pragmática, a ética pode ser definida como a liberdade e a capacidade de atuar de modo reflexivo - ou seja, considerar as implicações éticas da prática pessoal e da formulação de ações baseando-se nessa percepção ética, em um determinado contexto.No contexto do YouTube, as normas éticas podem ser compreendidas como as regras para a prática que estão sendo continuamente cocriadas, contestadas e negociadas na rede social do YouTube.

A inteligência coletiva é definida como a finalidade última do ciberespaço, pois nesse meio é possível a derrubada de antigos paradigmas de relacionamentos, conhecimentos, e o nascimento de novas formas de agrupamentos humanos e organizações, novas formas de divulgação dos saberes, nunca imaginado nas ciências tradicionais, e sem precisar a dimensão de onde o homem chegará. Comportamentos pré-moldados de antes inseridos num mundo vertical sem muitas mutações foram extintos na irreversível evolução tecnológica na qual o mundo está vivendo.

Squirra (2012a, p.55) trata o tema da seguinte maneira:

Reconhece-se que alterar esse cenário não é deslocar-se por caminhos isentos de dificuldades, armadilhas, espinhos ou pedras. Mas a lógica da evolução indica que não existe saída: a velocidade e a profusão da informação da pós-modernidade evidenciam que a transversalidade colaborativa é mais altaneira que os formatos até então praticados.

A adaptação ao conceito moderno de produção e consumo requer perplexidade, aceitação, desconfiança e cuidado. Sentimentos comuns a tudo que é novo e ainda está em aberto e sendo dialogado. Na sociedade digital a criatividade pode ser trabalhada de forma em que todos possam usufruir deste benefício ilimitado.

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