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lustração 2 População Absoluta de Índios nos Municípios do Rio Grande do Sul :

4.1 O MOVIMENTO INDÍGENA

4.1.3 Protagonismo indígena

O protagonismo remete ao conceito de emancipação e está ligado à noção de indivíduos capazes de se autodeterminar-se produzindo e vivendo de acordo com normas próprias. Ser protagonista de suas necessidades é desafiar o sistema posto para além das políticas estabelecidas por normas.

18 Thais. Claudemir. SMS. Porto Alegre, outubro de 2014.

O protagonismo é um sentimento além da atuação visível ou invisível da participação, pois refere uma ordem coletiva, para além da individualização que se percebe no sistema capitalista estabelecido em nossa sociedade.

O modelo de Estado capitalista que vivem as minorias como os grupos indígenas, faz com que as políticas públicas de ação na saúde, por exemplo, sejam precariamente construídas. Ou como definiu Max Weber (1982) nos modelos atuais as atividades regulares existentes na estrutura de Estado são distribuídas de forma fixa com deveres oficiais, as quais constituem as autoridades burocráticas.

Reconhecer pelas relações existentes pelos novos sujeitos quais os sentimentos as demandas são capazes de despertar, tendo em vista a necessidade de tornar-se parte, como antes referido, cria o protagonismo, ou, a capacidade de pensar uma trajetória que inclua o coletivo, e não a ação individualizada. Pois, o envolvimento de grupo, coletivo não se dá por oposição ao indivíduo, e sim com uma conexão entre o meio interno e o externo para uma emancipação social do ser humano.

Considerando que a legislação constitucional reconhece aos povos indígenas suas especificidades étnicas e culturais há que se verificar como refere Albert Hisrchman (1973) de que forma se dá a participação dos sujeitos envolvidos no processo de formulação e aplicação das políticas públicas de saúde indígena.

Para o referido autor, há um modelo de análise de fenômenos sociais, organizacionais, políticos visando pensar na forma como nos comportamos no interior de organizações. Para ele a saída é considerada uma fuga, quando não estamos satisfeitos com determinada situação e mudamos a atitude em prol de uma “fuga” por uma alternativa.

Assim, a atitude positiva, atuante considerada como “saída” pelo autor, sob a perspectiva dos grupos indígenas, seja, pelas necessidades materiais necessidades, tendo em vista a situação social, organizacional desses grupos, ou ainda, por cidadania que faz relação direta com o pertencer, sentir-se parte do Estado vigente.

Ao refletir sobre o tema me deparo com a ausência de contribuição social em valores capitais do indígena para o Estado regido sob as amarras do capitalismo, em que o capital, o lucro é o que cada um de nós pode oferecer com a força de seu trabalho, a fim de acumular cada vez mais capital para a sociedade capitalista. No

caso, os indígenas estão aquém da lógica do capitalismo, visto que não estabelecem com esse Estado a relação entre contribuinte e sociedade.

Diante da necessidade de contribuir socialmente com valores capitais monetários necessários para a acumulação diversos interesses diferentes são desafiados, podendo o interesse de o gestor estar distante do interesse do sujeito indígena e do coletivo indígena, surgindo conflitos que devem ser equacionados, não apenas pelos gestores, que apresentam suas demandas e agendas políticas, mas pelos grupos indígenas, indivíduos que se apresentam como coletivo.

Ainda que existam necessidades, e são muitas, desde alimentação, habitação, saúde, saneamento, meio ambiente os indígenas estabeleceram vínculos com o Estado em que estão inseridos e além da legislação que determina a preservação desse coletivo, há relações estabelecidas com a sociedade que não podem ser ignoradas, como educação, lazer, meio ambiente saudável e cultura.

No Rio Grande do Sul tem destaque às discussões envolvendo direito à saúde das etnias Kaigang, Guarani, Charrua, Xokleng e Kaiowá, residentes em diversas aldeias espalhadas nos municípios como Viamão, Porto Alegre, São Miguel e Tenente Portela, cada uma com suas peculiaridades culturais.

Frente à legislação nacional (Constituição Federal), bem como a legislação Municipal, as quais regulam e pretendem assegurar o acesso à saúde aos povos indígenas como usuários (cidadãos) do SUS verifica-se uma disputa com o sistema SUS e o movimento indígena no momento em que o sistema de saúde vigente apresenta dificuldades em trabalhar conjuntamente com as aldeias sob as bases nos princípios do SUS, os quais envolvem além do atendimento (hospitais, consultas, emergências, etc.) uma política de Educação Permanente, a qual envolverá a Gestão e o Controle social que se dará a partir das demandas dos povos, comunidades, movimentos e organizações indígenas.

Com o subsistema em disputa questiona-se se o modelo existente do SUS é suficiente para atingir as demandas do povo indígena sem ignorar as culturas e o protagonismo como coletivo.

Há então, o exemplo de participação política para os indígenas, como a assembleia, que é um campo de atuação que cria mecanismo de participação, legitimada pela Constituição Federal para os sujeitos indígenas atuarem, opinarem,

como usuários das políticas de saúde pública. Constitui, assim, um espaço para participação política.

A legislação refere a participação, com o advento dos conselhos de saúde, entretanto, o questionamento surge da qualidade desta participação. Se os coletivos indígenas possuem autonomia de participação. Possuem atuação efetiva na formulação de políticas públicas de acordo com suas demandas e necessidades? Ou trata-se de espaços participativos constituídos como encontros de grupos de pessoas?