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Uma vez verifiquem-se, por meio do procedimento administrativo competente, preenchidos os requisitos para a concessão da patente à invenção, deverá o Estado reconhecer a proteção jurídica em favor do titular do invento, ao qual é outorgado o direito de exploração exclusiva do bem.

Ademais, a proteção conferida pela patente representa um reconhecimento ao inventor e uma forma de estímulo ao desenvolvimento tecnológico e científico, na medida em que proporciona uma contraprestação pelo trabalho desenvolvido e investimentos efetuados no desenvolvimento da invenção. No que se refere à invenção e à produção de medicamentos, o estímulo ao investimento em pesquisas implica o próprio favorecimento da saúde pública.

Por se tratar a patente de um direito de propriedade, assim, também, confere ao seu titular os direitos de, com exclusividade, usar, gozar, dispor do bem e reivindicá-lo, protegendo-o da interferência de terceiros.

Para que o inventor possa exercer os direitos que lhe são outorgados, o Estado confere-lhe, também, mecanismos de defesa de modo a afastar a interferência de terceiros.

Dessa feita, a Lei 9.279/96 reservou seu quinto capítulo, primeira seção, para tratar da proteção conferida pela patente.

De acordo com o artigo 4133, a extensão da proteção patentária determina-se pelo teor de suas reivindicações, o qual será interpretado tendo-se em vista os relatórios descritivos e os desenhos. Observa-se, portanto, que a reivindicação delimita a proteção conferida pela patente.

Tão logo esteja definido o limite de proteção da patente, a mesma lei citada passa a dispor sobre a proteção outorgada ao inventor, assim o faz no artigo 42:

Art. 42. A patente confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com estes propósitos:

I - produto objeto de patente;

II - processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado.

§ 1º Ao titular da patente é assegurado ainda o direito de impedir que terceiros contribuam para que outros pratiquem os atos referidos neste artigo.

§ 2º Ocorrerá violação de direito da patente de processo, a que se refere o inciso II, quando o possuidor ou proprietário não comprovar, mediante determinação judicial específica, que o seu produto foi obtido por processo de fabricação diverso daquele protegido pela patente.34

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Art. 41. A extensão da proteção conferida pela patente será determinada pelo teor das reivindicações, interpretado com base no relatório descritivo e nos desenhos. Cf. BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Loc. cit.

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Denota-se da análise do dispositivo legal acima que a LPI determina que a sociedade abstenha-se de praticar qualquer ato, cujo objetivo seja a exploração do bem protegido, pela sua produção ou circulação, prejudicando direitos assegurados em lei.

A infringência da lei e dos direitos do inventor denomina-se contrafação, e esta pode ocorrer de duas formas, direta ou indiretamente. O infrator pratica, diretamente, a contrafação quando fabrica o produto protegido pela propriedade industrial e, indiretamente, no momento em que colabora com a violação, comercializando uma falsificação, mesmo que não a produza.35

A produção ilegal dos bens patenteados causa enriquecimento ilícito e traz enormes prejuízos ao inventor, o qual deixa de obter os lucros de sua criação, tendo, inclusive, perdas materiais por não recuperar seus investimentos com as pesquisas.

Assim, para coibir a prática de atos lesivos à propriedade industrial, a mesma lei 9.279/96 determina a responsabilidade civil do infrator, cominando-lhe o dever de indenizar o titular da patente pelos prejuízos causados.

Dispõe o artigo 44, do diploma legal citado, que “ao titular da patente é assegurado o direito de obter indenização pela exploração indevida de seu objeto, inclusive em relação à exploração ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da concessão da patente.”36

Em consonância com o dispositivo acima, Mamede assevera:

Efeito necessário do privilégio de exploração econômica do invento ou do modelo de utilização, o artigo 44 da Lei 9.279/96 assegura ao titular da patente o direito de ser indenizado pela exploração indevida de seu objeto, mesmo se ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da concessão da patente.37

Pela análise e interpretação da legislação, denota-se, inclusive, a vedação da importação de produto patenteado, o qual não foi colocado à venda no mercado externo por seu titular, o que se denomina importação paralela.38

Importante mencionar, ainda, que a LPI prevê a hipótese do usuário anterior, aquele que já explorava o produto anteriormente à concessão em favor do titular, continuar a

35

BEZERRA, 2010, p. 106.

36

BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Loc. cit.

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MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro. 2. ed. São Paulo: FGV, 2008. v. 1. p. 241.

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Tal prática, no entanto, poderá ocorrer em algumas hipóteses, devidamente comprovadas pelo titular do direito, em que não seja possível a produção do objeto patenteado, por deficiência econômica, em um país que a proteção tenha sido conferida. Neste caso, uma vez que não haja a importação do produto patenteado, poderá ocorrer o seu licenciamento compulsório, como será demonstrado posteriormente.

explorar o bem, desde que esteja de boa fé. Assim, na forma do artigo 4539 da mencionada lei.

Além de assegurar ao inventor proteção em âmbito civil, com a previsão de indenização, os artigos 183, 184 e 18540 da supracitada lei tipificam os crimes contra as patentes, cominando-lhes penas de detenção, as quais podem chegar a um ano ou multa.

Exceções às proteções conferidas pelas patentes, no que tange especificadamente às patentes de produtos farmacêuticos, ocorre nos termos do artigo 43, inciso III41, da LPI, em relação às chamadas farmácias magistrais, também conhecidas como farmácias de manipulação, em que não constitui infração à propriedade industrial a prescrição de um medicamento pelo médico, medicamento este que venha a ser produzido por um profissional farmacêutico habilitado.

Nesse sentido, discorre Gontijo:

A definição trazida no inciso III do art. 43 corresponde a definição de farmácias magistrais segundo disposição trazida na RDC 33/2000 da ANVISA, hoje substituída pela RDC 214/2007, norma cogente editada pela ANVISA que regulamenta o funcionamento das farmácias magistrais, também conhecidas como farmácias de manipulação.

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Art. 45. À pessoa de boa fé que, antes da data de depósito ou de prioridade de pedido de patente, explorava seu objeto no País, será assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e condição anteriores. § 1º O direito conferido na forma deste artigo só poderá ser cedido juntamente com o negócio ou empresa, ou parte desta que tenha direta relação com a exploração do objeto da patente, por alienação ou arrendamento. § 2º O direito de que trata este artigo não será assegurado a pessoa que tenha tido conhecimento do objeto da patente através de divulgação na forma do art. 12, desde que o pedido tenha sido depositado no prazo de 1 (um) ano, contado da divulgação. Cf. BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Loc. cit.

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Art. 183. Comete crime contra patente de invenção ou de modelo de utilidade quem:

I - fabrica produto que seja objeto de patente de invenção ou de modelo de utilidade, sem autorização do titular; ou

II - usa meio ou processo que seja objeto de patente de invenção, sem autorização do titular. Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Art. 184. Comete crime contra patente de invenção ou de modelo de utilidade quem:

I - exporta, vende, expõe ou oferece à venda, tem em estoque, oculta ou recebe, para utilização com fins econômicos, produto fabricado com violação de patente de invenção ou de modelo de utilidade, ou obtido por meio ou processo patenteado; ou

II - importa produto que seja objeto de patente de invenção ou de modelo de utilidade ou obtido por meio ou processo patenteado no País, para os fins previstos no inciso anterior, e que não tenha sido colocado no mercado externo diretamente pelo titular da patente ou com seu consentimento.

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

Art. 185. Fornecer componente de um produto patenteado, ou material ou equipamento para realizar um processo patenteado, desde que a aplicação final do componente, material ou equipamento induza, necessariamente, à exploração do objeto da patente.

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Cf. BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Op. cit.

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Art. 43. O disposto no artigo anterior não se aplica: [...]

III - à preparação de medicamento de acordo com prescrição médica para casos individuais, executada por profissional habilitado, bem como ao medicamento assim preparado; Cf. BRASIL. Lei nº. 9.279, de 14 de maio de 1996. Loc. cit.

Verifica-se, portanto, que nos casos em que a farmácia de manipulação, por meio de seu profissional habilitado que é o farmacêutico responsável, preparar medicamento objeto de patente, mediante prescrição médica para casos individuais (para aquele paciente e não em larga escala) não estaria violando nenhum direito de proteção conferido pela patente, ao contrário, estaria amparada pelas disposições contidas no inciso III do art. 43 da LPI.42

Assim sendo, desde que preenchidos os requisitos necessários à proteção da propriedade industrial, esta será concedida, bem como serão assegurados ao titular do direito os mecanismos necessários para que este usufrua de seu bem de forma pacífica.

Apesar de conferir proteção aos inventos, impende salientar que tal proteção concede-se em caráter temporário, pelo que a própria lei estabelece os prazos de vigência.