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Os programas de monitoramento no geral muito têm se preocupado com aspectos específicos da qualidade da água, como a determinação de variáveis, e utilização de métodos consolidados e mais objetivos, de forma que a avaliação do ambiente no entorno do corpo d’agua, como as características de suas margens, a presença de micro habitats e outras características pouco tem sido feita pelo uso ou associação de métodos tradicionais e métodos qualitativos.

A ocupação das bacias hidrográficas e consequentemente os distintos usos das águas alteram as características não somente dos corpos d’água em si, mas das margens e do entorno desse recurso, sendo então poucos os cursos d’água que ainda mantêm suas condições naturais preservadas (ALLAN, 1995).Para se realizar uma avaliação holística da qualidade das águas, é necessário dispor de uma metodologia que seja capaz de integrar variáveis representativas dos processos alteradores das suas condições naturais, bem como das respostas à ação dos estímulos externos, que podem variar (em escala) do nível individual ao ecossistêmico (BARBOUR; STRIBLING, 1995). Nesse cenário, surgem os Protocolos de Avaliação Rápida (PAR), inicialmente desenhados para ser ferramentas de baixo custo capazes de determinar a capacidade do rio para dar suporte à vida aquática, podem ser definidos como uma ferramenta que fora desenvolvida no intuito de complementar o monitoramento ambiental dos sistemas aquáticos, por meio da qual será realizado o levantamento de dados qualitativos, que subsidiarão a elaboração de um diagnóstico ambiental do meio em que esse corpo hídrico se encontra.

4.5.1 Histórico

Nos Estados Unidos, até a década de 70, análises qualitativas eram a base dos estudos de monitoramento ambiental, contudo, em meados da década de 80 os órgãos ambientais perceberam a necessidade de estabelecer métodos qualitativos para avaliação de recursos hídricos, dada a demora e altos custos envolvidos na realização de pesquisas quantitativas. Assim, de acordo com Barbour et al. (1999), em 1986 foi iniciado um estudo das atividades de monitoramento de águas superficiais da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), que resultou no relatório “Surface Water Monitoring: A Framework for Change” (EPA, 1987). O relatório além de enfatizar a necessidade de reestruturação dos programas de

monitoramento praticados trazia recomendações específicas para execução das mudanças sugeridas, dentre as quais se destacavam:

• A elaboração de um guia de avaliações custo-efetivas para a identificação de problemas e de tendências de avaliação;

• A aceleração, o desenvolvimento e a aplicação de técnicas de monitoramento biológico promissoras. (SILVEIRA, 2004).

Em 1989, em resposta ao “Surface Water Monitoring: A Framework for Change” (EPA, 1987), Plafkin et al. (1989) escreveu um documento estabelecendo os primeiros protocolos, que foram desenvolvidos pela “Divisão de avaliação e Proteção de Bacias Hidrográficas”, no intuito de fornecer dados básicos para fins de qualidade da água e gerenciamento de recursos hídricos (SILVEIRA,2004).

Desde então, as discussões sobre a importância de critérios integrativos e o uso de ferramentas baseadas nesses critérios para a avaliação de recursos hídricos se intensificaram, países como Canadá, Alemanha, Austrália e Grã-Bretanha, tem utilizado PAR’s (RODRIGUES E CASTRO, 2008). No Brasil a utilização de protocolos de avaliação de ecossistemas ainda é restrita, pois a maior parte dos estudos focam no compartimento aquático e, apesar da crescente utilização dos protocolos em estudos de monitoramento, sua utilização no país é mais comumente vista em pesquisas acadêmicas de ensino superior.

4.5.2 Protocolos de Avaliação Rápida no Brasil

No Brasil uma modificação do protocolo da Agência de Proteção Ambiente de Ohio - EUA (EPA, 1997) é o Protocolo de Avaliação Rápida das Diversidades de Habitats em trechos de bacias hidrográficas. O modelo foi adaptado por Callisto (2002) aos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro e tem sido utilizado por muitos pesquisadores da área de recursos hídricos. A depender do objetivo da avaliação, os protocolos podem apresentar outras subdivisões, contudo, na principal delas o protocolo subdivide-se em 2 partes, uma ocupada em avaliar as características físicas e a outra de comunidade aquática.

Basicamente, os protocolos de avaliação rápida consistem num conjunto de procedimentos baseados em parâmetros pré-estabelecidos conforme a finalidade do estudo. No geral, envolvem observações em campo, que são registradas na forma de descrição e traduzidas por um sistema de pontuação ou de classificação dos ambientes (RIGOTTI et al., 2015).

No protocolo mais comumente utilizado, a primeira parte, proposta por Callisto (2002) modificado de EPA (1987), é composta por 10 parâmetros que buscam avaliar a partir da caracterização dos trechos e com base em impactos de origem antrópica a qualidade do recurso

hídrico, onde cada um dos parâmetros é associado a uma pontuação (4, 2 ou 0), de acordo com o grau de degradação. Já a segunda parte, modificada por Hannaford (1997), busca avaliar o corpo hídrico com base nas condições do habitat e nos níveis de conservação das condições naturais, onde a pontuação (5, 3, 2 ou 0) é atribuída conforme grau de preservação observado. Ao final da avaliação, as pontuações são somadas e chega-se a classificação dos trechos avaliados em: Impactados (0-40), Alterados (41-60) e Naturais (> 61). O modelo de protocolo é apresentado no Anexo A desse estudo.

Rigotti et al. (2015) e Pimenta, Gomes e Pena (2009) e Lima et al. (2016) consideram os protocolos como um método de avaliação rápida que busca caracterizar aspectos ecológicos, biológicos e sedimentológicos de um curso d’água aplicado in loco, o que é visto como uma vantagem do método frente a outros sistemas de avaliação.

4.5.3 Utilização dos Protocolos de Avaliação Rápida

A utilização de Protocolos de Avaliação Rápida é mais comum na pesquisa acadêmica na área de Recursos Hídricos (RODRIGUES et al., 2008). A seguir são apresentados estudos onde os protocolos foram empregados de diferentes formas, percebeu-se que os mesmos podem envolver: diferentes escalas de aplicação, propostas de adaptação de protocolos pré-existentes, associação com ferramentas estatísticas, distintos níveis de escolaridade dos aplicadores (estudantes, comunidade do entorno do corpo hídrico, pesquisadores), dentre outras.

Rodrigues et al (2008), no estudo realizado no Parque Estadual do Itacolomi, aplicou o protocolo modelo de Barbour (1999) e verificou que como o protocolo modelo havia sido elaborado para uma área com características muito distintas de sua área de estudo, seria necessária uma adaptação, afim de torná-lo adequado à área de campos rupestres do cerrado. Dessa forma, promoveu treinamentos e oficinas aos aplicadores voluntários, selecionou uma área de “referência” de qualidade ambiental e aplicou o protocolo adaptado ao contexto de estudo. Dentre os principais resultados obtidos, destacou a importância da participação social no monitoramento de recursos hídricos, a necessidade de adequação dos protocolos e a consolidação desses como ferramenta de avaliação de qualidade ambiental.

O estudo de Rodrigues et al (2008) é um dos trabalhados mais citados em estudos que envolve o PAR, dada a forma que a autora utilizou para abordar o tema e os desdobramentos de sua pesquisa. Rodrigues et al. (2008), por exemplo, reforçaram sobre a necessidade de adequação dos protocolos já existente dada a importância em adaptá-los às especificidades regionais e locais, já que as características dos corpos d’água se alteram em função de fatores como clima, relevo, geologia e vegetação.

Ainda em relação à adaptação de protocolos, Lobo, Voo e Abreu (2011) realizaram um estudo com aplicação do PAR na sub-bacia do Rio Pardinho – RS. Os autores objetivavam elaborar um protocolo que fosse eficiente, de fácil aplicação e capaz de refletir o impacto local. Para tal, aplicaram o protocolo proposto por Callisto et al. (2002) e obtiveram um alto desvio- padrão entre as respostas obtidas para cada uma das 22 perguntas que compunham o questionário original, o que era esperado, visto que esse protocolo havia sido elaborado para uma bacia hidrográfica com características distintas da bacia do estudo. Posteriormente, o protocolo original foi reformulado, por meio de inclusão e exclusão de questões, a fim de deixá- lo o mais representativo possível para a região de estudo. Assim, ao se calcular o desvio-padrão das respostas obtidas no novo protocolo e compará-las ao desvio-padrão obtido para o protocolo original, o autor concluiu que houve uma redução de 91,3% do desvio-padrão médio obtido anteriormente. Tal resultado demostrou que o novo protocolo proporcionou uma avaliação mais fidedigna do corpo hídrico em questão.

Quanto à influência da sazonalidade na aplicação dos protocolos, os resultados do estudo de Oliveira e Nunes (2015), obtidos a partir da aplicação do PAR realizada em 4 campanhas distribuídas ao longo do ano no Rio Pequeno em Linhares (ES), revelaram, a partir do cálculo do desvio-padrão, que a sazonalidade não influenciou na pontuação obtida no PAR. O autor concluiu que o manancial estudado passa por fortes impactos antrópicos oriundos principalmente do uso e ocupação do solo, e alertou para a necessidade de adoção de medidas que visem a melhoria das políticas públicas de saneamento básico e da ordenação no usos e ocupação do solo, afim de minimizar os processos de degradação do corpo hídrico.

No âmbito da associação dos protocolos com ferramentas estatísticas, Lima et al. (2016) realizou um estudo no córrego Caveirinha, Goiânia-GO, onde aplicou o PAR e realizou Análise das Componentes Principais (PCA). Segundo o autor, a metodologia possibilitou perceber a real interferência antrópica no córrego, além de permitir qualificar e quantificar o tipo e intensidade no uso do solo no entorno do leito responsável pela alteração nos parâmetros analisados, apontando para a necessidade de intervenção para a recuperação da área avaliada.

Observa-se com a literatura as diferentes concepções que os Protocolos de Avaliação Rápida podem apresentar e, analisando os resultados dos estudos apresentados acima, percebe- se também que o PAR tem se revelado uma ferramenta útil na avaliação complementar de ambientes fluviais. A utilidade dessa ferramenta se deve às diversas formas em que pode ser empregada, o que permite adequação da mesma para diferentes estudos e objetivos, motivo pelo qual os primeiros modelos de protocolos foram propostos.