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4.1 Prova de Psicogénese da leitura e da escrita

Tendo em conta as características e os objetivos deste trabalho, procurou-se utilizar um instrumento que permitisse caraterizar a motiva- ção para a leitura e a escrita, em crianças de 5-6 anos, antes da entrada para o ensino formal (Mata, 2006). Assim, para selecionar os sujeitos pertencentes à amostra, foi aplicada uma prova sobre a psicogénese da leitura e escrita da autoria da Doutora Margarida Alves Martins.

A prova é dividida em três partes, encontrando-se apresentada de seguida.

4.1.1 - Apropriação das utilizações funcionais da leitura

A primeira parte da prova pretende avaliar a apropriação das uti- lizações funcionais da leitura através de uma entrevista individual semi-

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diretiva a cada criança. A entrevista sofreu alterações na sua apresenta- ção, utilizando como suporte e inovação um Power Point animado em que as perguntas eram transmitidas através do computador. Foram cria- das condições para proporcionar interação entre a criança e o computa- dor, uma vez que todas as perguntas relativas a esta primeira parte da prova eram comunicadas através do mesmo. Após responder à pergunta, a criança ia de seguida carregar para ouvir a próxima pergunta.

Pretendia-se ao longo da entrevista, levar as crianças a verbaliza- rem situações funcionais de utilização da leitura e de escrita, de que já se tivessem apercebido, através de contatos mais ou menos formais.

As perguntas eram as seguintes: “1. Já sabes ler? 2. Queres apren- der? 3. Para que é que tu achas que serve saber ler? 4. O que é que uma pessoa pode fazer quando já sabe ler? 5. Já sabes escrever? 6. Queres aprender? 7. Para que é que tu achas que serve saber escrever? 8. O que é que uma pessoa pode fazer quando já sabe escrever? 9. Conheces alguém que saiba ler e escrever? Quem? (2 pessoas) 10. O que é que tu já viste essa pessoa ler? 11. O que é que tu já viste essa pessoa escrever? 12. Achas que essa pessoa gosta de ler e escrever? 13. O que é que já viste a outra pessoa ler? 14. O que é que já viste a outra pessoa escrever? 15. Achas que a outra pessoa gosta de ler e escrever?”

No caso de se verificar recusa em responder, as questões eram repetidas e a criança incentivada a responder o melhor que conseguisse, tendo o cuidado de não influenciar a sua resposta. Se continuavam sem responder, seguia-se para a questão seguinte, tentando que não se sentis- sem mal nem muito preocupadas por não terem conseguido responder (Mata, 2006).

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4.1.2 - Representação da utilidade social da escrita

No sentido de avaliar a perceção sobre a relação entre suportes e conteúdos de escrita, foi aplicada a prova sobre a representação da utili- dade social da escrita. Esta 2ª parte diferenciava-se pelo seu caráter mais lúdico, sendo composta por um fantoche manipulado pela entrevistadora. Para iniciar, criavam-se alguns momentos de descontração entre o fanto- che e a criança, ao mesmo tempo que iam sendo colocados em cima da mesa os materiais a utilizar: um livro de histórias, um livro de quadradi- nhos, um livro sobre animais, uma carta dentro de um envelope, um folheto de publicidade, um rótulo de um produto, uma revista e uma receita.

Era perguntado à criança “sabes o que são estas coisas? De segui- da era proposto um jogo: “Vamos fazer um jogo. Este fantoche que eu tenho aqui vai tentar ler as coisas que estão escritas em cada uma destas coisas. Só que às vezes ele vai-se enganar, outras ele vai ler o que lá está mesmo escrito. Tu vais ter dizer quando ele se engana e quando lê bem”.

As perguntas efetuadas tinham a seguinte ordem: em primeiro lugar o fantoche lia no livro de quadradinhos, e lia bem. Em segundo, o fantoche lia no livro de animais e também lia o conteúdo correto. Em terceiro, o fantoche lia no rótulo do produto mas lia mal, isto é, lia o con- teúdo da revista. De seguida, o fantoche lia na revista mas também de forma errada, em vez de ler o conteúdo da revista lia o conteúdo da carta. Em quinto lugar, o fantoche voltava a ler de forma errada, no folheto de publicidade lia o conteúdo da história. De seguida, o fantoche lia o con- teúdo da carta de forma correta. Por último, voltava a errar, e trocar con- teúdos, na receita lia o rótulo do produto.

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4.1.3 - Conceptualizações sobre a linguagem escrita

Por forma a analisar as conceptualizações infantis sobre a lingua- gem escrita foi aplicada a 3ª parte da prova. Esta constituía-se como uma entrevista de tipo piagetiano, em que era ditado a cada criança um con- junto de palavras e uma frase, sendo-lhe pedido que as escrevesse como soubesse, como fosse capaz (Martins, 1996).

As palavras que eram ditadas eram três palavras linguisticamente próximas reenviando para animais da mesma família (gato, gata, gati- nho), duas palavras do mesmo tamanho reenviando para referentes de tamanho diferente (formiga e cavalo) e uma frase contendo umas das palavras escrita anteriormente (o gato come o rato) (Idem).

A primeira palavra cuja escrita foi proposta a cada criança foi o seu nome próprio. Esta tinha como finalidade pôr a criança à vontade perante uma palavra que a grande maioria delas nesta faixa etária já sabe escrever, de modo a facilitar o resto da entrevista (Mata, 2006).

Foi então dada uma folha de papel branco e pedido que escrevesse o nome. De seguida foi dito à criança: “Vais escrever como souberes, como fores capaz, a palavra gato”, após a escrita da palavra, dizia-se: “Lê lá o que escreveste, mostra-me com o teu dedo”. O mesmo procedimento era repetido para as palavras gata, gatinho, cavalo e formiga. Para estas últimas era também pedido à criança que lesse o que ficava quando se tapava a parte inicial da palavra escrita por ela, para o caso de formiga, ou após ter tapado a parte final da palavra escrita por ela no caso de cava- lo (Mata, 2006; Martins, 1996).

63 Para terminar, era pedido que escrevesse a frase “o gato come o rato”, sendo-lhe em seguida solicitado que a lesse e mostrasse onde esta- vam escritas as respetivas palavras (Martins, 1996).