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As avaliações em larga escala organizadas no Sistema de Avaliação da Educação Brasileira – SAEB a partir dos anos 1990 contemplaram apenas os anos finais dos ciclos da educação básica, 4ª série/5º ano do Ensino Fundamental, 8ª série/9º ano do Ensino

Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. As séries/anos iniciais do Ensino Fundamental, não participavam de avaliações externas, exceto as de alguns sistemas estaduais, como no caso do Ceará e Pernambuco (MORAIS; LEAL; ALBUQUERQUE, 2009) que antes de 2007 já iniciavam avaliações nesta etapa do Ensino Fundamental, a fim de modificarem e programarem políticas públicas relacionadas ao combate ao analfabetismo infantil.

De acordo com o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (BRASIL, 2008a), uma das metas estipuladas seria sobre a necessidade de alfabetizar as crianças até no máximo os oito anos de idade, incluindo ao ensino de nove anos a responsabilidade de iniciar o ciclo de alfabetização desde o 1º ano do Ensino Fundamental, quando a criança teria 6 anos de idade. Essa meta fora estipulada em decorrência aos resultados apresentados pelas últimas edições do SAEB, nas quais consideravam baixos desempenhos de habilidades básicas nas séries/anos mais complexos. (OLIVEIRA; ROCHA, 2007).

A fim de proporcionar aos estados e municípios um diagnóstico inicial da situação de alfabetização dos alunos das escolas públicas, o Ministério da Educação – MEC junto ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, apresentaram, em 2008, uma avaliação diagnóstica para o 2º ano do Ensino Fundamental.

[...] a criação do Provinha Brasil pode representar uma política importantíssima para a qualificação do ensino oferecido às crianças brasileiras. Tal como anunciado oficialmente pelo MEC-INEP (2008a) interpretamos que o diagnóstico precoce das aprendizagens dos pequenos alfabetizandos não só cumpre uma inadiável necessidade de monitoramento das práticas de alfabetização em nossas redes públicas de ensino, como deve colaborar para a definição de políticas de formação continuada e de práticas de ensino inclusivas no interior da escola, através do atendimento eficaz às diversidades de ritmos e estilos dos alunos. (MORAIS; LEAL; ALBUQUERQUE, 2009, p. 302)

A Provinha Brasil, diferente das avaliações do SAEB, acontece em dois momentos durante o ano letivo, no início e ao término. As duas etapas da provinha proporcionam ao professor e a escola diagnosticarem antes do trabalho de intervenção, próprio no 2º ano do Ensino Fundamental, e no cumprimento desse trabalho, ao término do ano letivo. É perceptível, dessa forma, as habilidades e competências que foram agregadas a aprendizagem da criança.

Existem críticas acerca do “nivelamento” ou uniformidade das aprendizagens que as avaliações externas em alfabetização geram. Esteban (2009), ao argumentar sobre o uso da Provinha Brasil associando-a uma pedagogia baseada no exame resguarda a sua crítica à primeira edição dessa avaliação. Em uma de suas afirmações, a autora demonstra sua insatisfação na classificação que a provinha pode gerar. Além de apontar esta forma de

avaliação como vinculada a mensuração e ao controle do Estado, tanto da escola quanto da ação do professor. No entanto, se partirmos para a prática, nessa avaliação o professor detém de todo processo de aplicação e correção dos resultados, bem como dos instrumentos, podendo desse modo à luz de sua percepção crítica confrontar os resultados que a provinha revela àqueles que ele constata no dia a dia na sala de aula.

Ademais, não há alguma forma, além da avaliação em larga escala, de conhecer em um determinado nível pré-estipulado o que o educando já sabe, não sabe ou está em fase de consolidação, de maneira organizada, com instrumentos bem elaborados e comunicação ampla dos resultados. Quando se pensa em avaliação em larga escala não se deve limitar ao pensar sobre o exame, são duas práticas diferentes, principalmente no que se refere ao uso das informações.

Apesar da aplicação da Provinha Brasil do Avalie Alfa no estado Bahia ser realizada por equipes externas à escola e os seus resultados consolidados por uma equipe de assessoria, no caso a UFC, os professores têm total acesso aos dados e aos resultados gerados por essa avaliação. Os mesmos são reunidos pelas equipes gestoras de suas escolas e municípios que por sua vez são formados, familiarizados para a visão pedagógica dos dados, a partir da leitura e compreensão dos gráficos, que muitas vezes parecem apenas números e estatísticas, tanto para eles quanto para os próprios professores (RIBEIRO et. al., 2013).

Portanto, ao confrontar os resultados que os educandos demonstram na Provinha Brasil e aqueles que eles apresentam nas avaliações ao longo dos dias letivos, é possível conduzir o professor a um caminho que possa esclarecê-lo acerca do próprio processo avaliativo, tanto dele como do sistema. E, além disso, refletir sobre a matriz de referência de competências e habilidades de que trata uma avaliação em nível nacional à luz da matriz curricular que deve ser realizada em sala de aula.

A crítica às avaliações em larga escala no tocante à uniformização e descontextualização dos níveis se faz mediante ao uso que se faz dela. Em nível federal a implementação de políticas públicas que sirvam a todo o país só o será mediante seu diagnóstico como um todo, no entanto quando falamos de ações mobilizadas pelas unidades federativas é preciso que estes resultados sejam relidos a partir da realidade de cada região ou Estado. No caso do Avalie Alfa, que considera a Provinha Brasil de Matemática do 2º ano do Ensino Fundamental como instrumento para avaliar seus alunos, o Estado da Bahia faz todo um esforço para ter seus dados consolidados e analisados para a consequente apropriação deles para o uso pedagógico, o que também incentiva que os municípios e escolas o façam. (RIBEIRO et. al., 2013).

A Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação no 9º artigo, afirma que há incumbência da União em

[...] IV - estabelecer em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum [...]. (BRASIL, 1996).

A Lei estabeleceu o que deve ser minimamente trabalhado nas escolas brasileiras. A base comum do currículo, fornecida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, orienta os estados e municípios sobre as competências e habilidades consideradas fundamentais ao longo de cada ano/série dos ensinos, o que por sua vez possibilita o planejamento e a definição das matrizes de referência de avaliação, as quais norteiam a elaboração de itens para as provas em larga escala de âmbito nacional. Desse modo, a Matriz de Referência, documento que compreende uma referência de competências e habilidades fundamentais aquele ano/série, é utilizada na elaboração de itens das avaliações em larga em escala e compreende objetivos educacionais estimados para dado ano/série. A matriz de referência deve ser considerada como um parâmetro para a análise do trabalho realizado pela escola, e não como um “currículo padrão” que deve estipular as competências e habilidades mínimas a serem exigidas naquele ano/série escolar (MAIA, 2010).

Em suma, um sistema nacional de avaliação em larga escala pode prover informações estratégicas para aprofundar o debate sobre as políticas educacionais de um país e mostrar o que os alunos estão aprendendo, ou o que deveriam ter aprendido, em relação aos conteúdos e habilidades básicas estabelecidos no currículo. Como os currículos geralmente são muito extensos, a elaboração de provas nacionais indica quais as aprendizagens a serem consideradas fundamentais e asseguradas a todos os alunos. (CASTRO, 2009, p. 276).

A organização dos sistemas de educação, através da LDB (nº 9.394/1996), responsabiliza a União a estabelecer competências e diretrizes para a educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) junto aos estados e municípios de forma a nortear os currículos e os conteúdos mínimos na formação do indivíduo. Dessa forma, as competências e habilidades referentes ao Ensino Fundamental estão dispostas nos PCN, de forma a enfatizar a importância do trabalho docente diante das “novas competências” da sociedade moderna e da base comum na educação pública do país.

Evidenciar as competências fundamentais de cada ano/série não significa “enxugar” o currículo da escola, visando à preparação dos alunos apenas para aquelas poucas habilidades, a interpretação da LDB de que haja conteúdos mínimos sugere um currículo educacional básico a todos os municípios e estados, a fim de propiciar uma formação comum,

mas não extingue a responsabilidade das instituições de ensino em prover um currículo que expresse a mais do que o “mínimo exigido”.

A forma como a escola vê a avaliação e “prepara” seus alunos na aquisição de competências mínimas exigidas demonstra a cultura que se divulga sobre o ato de avaliar, e ao mesmo tempo empobrece-o.

Nota-se que o problema é mais do que entender a cultura de avaliação que se quer, é realizá-la, pois essa ação denota esforço e mudança de hábitos e atitudes em torno do projeto pedagógico que se elege (PIPOLO, 2010). A Provinha Brasil, conforme ressalta Dias (2012, p. 2160) pode contribuir na “[...] construção de cultura avaliativa que vise à aprendizagem do estudante e do professor, bem como o desenvolvimento da escola.”.

A Provinha Brasil, sendo ela diagnóstica e não contabilizada nos resultados oficiais do país, como no IDEB, recebe menos força dos estados e municípios no seu cumprimento. Nessa perspectiva é que esta se volta mais ainda à ação docente, buscando, por meio do professor, a sua implementação enquanto subsídio à prática pedagógica.

[...] revela-se um instrumento de aplicação e correção simples, viável no contexto real de nossas redes públicas de ensino. As orientações de encaminhamentos vinculadas aos resultados verificados também se encontram sintonizadas com o que há de mais relevante na recente produção acadêmica sobre o ensino de alfabetização. (MORAIS; LEAL; ALBUQUERQUE, 2009, p. 308).

Diferente das demais avaliações em larga escala, a Provinha Brasil pode ser aplicada pelo próprio professor da turma e/ou pessoas internas/externas à escola, contanto que sejam seguidos os protocolos de aplicação, a fim de garantir a confiabilidade dos dados obtidos com ela. Os instrumentos aplicados pelo INEP e distribuídos pelo MEC são: Caderno do Aluno, Guia de Aplicação, Guia de Correção e Interpretação de Resultados, e um caderno de Reflexões sobre a Prática na edição do início do período letivo.

O Caderno do Aluno inicia-se por uma questão exemplo, em que o professor resolve com o aluno e as demais questões são respondidas pelo aluno. As questões são de múltipla escolha que contêm somente uma opção correta. No entanto, cada opção de escolha que não seja o gabarito, evidencia um possível caminho que o educando possa ter seguido na direção da resposta correta.

O Guia de Aplicação é o caderno do aplicador e contém todas as questões que o aluno precisará ouvir do aplicador para respondê-las. O Guia de aplicação apresenta os enunciados das questões e os sinaliza com o símbolo de um megafone para a leitura daquele texto. Além disso, cada item do Guia de Aplicação apresenta abaixo dele um comentário que

apresentam as hipóteses sobre as diferentes marcações das respostas, o que foi dito anteriormente sobre cada resposta indicar um possível caminho que a criança tenha seguido.

O Guia de Correção e Interpretação de Resultados apresenta dados sobre a Provinha Brasil, quem aplica, quem é avaliado, como os resultados podem ser corrigidos e aferidos, o que norteia a elaboração da provinha e como ela poderá ser usada a partir da leitura dos seus resultados. Além disso, o Guia traz os procedimentos necessários à correção do teste, com os níveis21 de cada aluno distribuídos por acertos, as habilidades contidas nestes níveis e as hipóteses sobre o desenvolvimento a partir da constatação do nível.

O caderno de Reflexões sobre a Prática discute a importância da Provinha Brasil e do uso dos seus resultados por todos da comunidade escolar, inclusive a socialização dos resultados com as famílias para que elas estejam próximas a esse processo, além de proporcionar ao professor reflexões acerca dos materiais disponibilizados pelo MEC para os ensinos e a formação continuada dos professores.

Nota-se que o material referente ao protocolo de aplicação da Provinha Brasil estima o envolvimento não somente dos professores, mas também dos gestores. A Provinha Brasil diferencia-se das demais avaliações em larga escala por fornecer dados que poderão ser utilizados diretamente pelos gestores e professores da escola, estimulando as discussões acerca das ações da escola sobre o 2º ano do Ensino Fundamental, foco desta avaliação. A Provinha Brasil tem como uma de suas finalidades constituir-se como

[...]um instrumento pedagógico, sem fins classificatórios. Ela foi concebida a partir do pressuposto de que uma avaliação da fase inicial da alfabetização pode trazer para o professor e para o gestor da escola informações que vão contribuir para o aperfeiçoamento e a reorientação das práticas pedagógicas. Apresenta-se, dessa forma, como instrumento que propiciará o redimensionamento da prática pedagógica do professor.(BRASIL, 2012d, p. 7).

A importância dessa avaliação não está somente nos resultados que poderá revelar, mas no uso que desses resultados poderá ser pensado, discutido e analisado. À proporção que a escola interage em uma cultura de avaliar para conhecer e diagnosticar seus educandos a fim de intervir no processo de ensino, mais facilmente proporcionará qualidade ao processo educacional no qual está inserida. Além de resgatar o papel da família na aquisição desse processo.

21 O documento de Guia e Correção dos Resultados (BRASIL, 2012b, p. 11) afirma que “A Provinha Brasil se vale, para a elaboração de sua escala e a seleção dos itens que compõem cada teste, da teoria da resposta ao item, com base no Modelo de Rasch.” De acordo com Camara (2013), os níveis são uma escala de proficiência resultado da análise dos itens pré-testados pelo trato da TRI, considerando o trato dos itens por meio das respostas dos educandos.