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A psicanálise despontou no século XX quando da publicação de A Interpretação dos Sonhos, de Freud (1900), passando a ser reconhecida mundialmente. Porém teve início num campo restrito, o da neurologia, com o objetivo de compreender a origem das doenças nervosas “funcionais”. Nesse período a psicanálise restringia-se ao campo neurológico e o fator psíquico não era considerado e tampouco conhecido, apenas por místicos, filósofos e os chamados “charlatães”.

Na história da psicanálise, a hipnose teve papel fundamental na construção da teoria e para o campo terapêutico. Com a colaboração de Freud, Breuer, em 1881, a partir da experiência com a hipnose no tratamento de uma jovem que “sofria de histeria”, tornou possível descobrir que [...]

[...] os sintomas, de fato, haviam aparecido em lugar das ações não efetuadas. Assim, para explicar a etiologia dos sintomas histéricos, fomos levados à vida emocional do indivíduo (a afetividade) e a ação recíproca de forças mentais (a dinâmica), e, desde então, essas duas linhas de abordagem nunca mais foram abandonadas (FREUD, 1920-1922, p. 139, grifo nosso).

Em sequência à experiência citada, desvendou-se a existência dos “impulsos mentais” perdidos na memória do paciente. A esses processos mentais foi dado o nome de “inconsciente”. A descoberta da origem dos sintomas histéricos foi testada e confirmada por volta de 1890 e conceituada com o nome de método catártico que, segundo Freud (1856; 1939 apud JOLIBERT, p. 37), significa “purgar, liberar um afeto estrangulado”. Esse método é visto como o precursor da psicanálise e “apesar de toda a ampliação da experiência e toda modificação da teoria, ainda está nela contido como seu núcleo” (FREUD, 1856; 1939 apud JOLIBERT, p. 37), uma vez que, com o abandono da hipnose, transformou-se em psicanálise.

[...] a ênfase na vida instintual (afetividade), na dinâmica mental, no fato de que mesmo os fenômenos mentais aparentemente mais obscuros e arbitrários possuem invariavelmente um significado e uma causação, a teoria do conflito psíquico e da natureza patogênica da repressão, a visão de que os sintomas constituem satisfações substitutas o reconhecimento da importância etológica da vida sexual, e especificamente, dos primórdios da sexualidade infantil.

Além de considerar que os aspectos afetivos e psíquicos, ainda que inconscientes, o conflito psíquico, os sintomas, a sexualidade, a sexualidade infantil são importantes para a psicanálise, Freud (1903, p. 222) acrescenta: “As atitudes afetivas da infância a complicada relação emocional das crianças com os pais”. Freud criou também o método da “associação livre”, regra fundamental para realizar o trabalho de psicanálise, que consiste no compromisso do paciente em abandonar as reflexões conscientes para comunicar suas ideias ao médico, com intuito de fazer a interpretação (FREUD, 1903, p. 222).

Ornellas (2005, p. 47) diz que o “termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional que tem como instrumento de trabalho a fala e a escuta”.

Ao fazer a escolha pela conexão psicanálise e educação, acreditamos que, ao falar, o sujeito se coloca se expõe e se desloca da posição passiva para a ativa, tal como se espera do sujeito professor, independentemente da posição ou da metodologia que utiliza (presencial ou distância). Assim, pensamos que, ao se expressar através da escrita no AVA, os sujeitos participantes desse processo ainda que o façam de forma consciente, neles a dimensão do inconsciente comparece.

Em relação ao inconsciente Freud (1932, p. 90, grifo nosso) observa:

Denominamos inconsciente um processo psíquico cuja existência somos obrigados a supor — devido a algum motivo tal que o inferimos a partir de seus efeitos —, mas do qual nada sabemos. Nesse caso, temos para tal processo a mesma relação que temos com um processo psíquico de uma outra pessoa, exceto que, de fato, se trata de um processo nosso, mesmo. Se quisermos ser ainda mais corretos, modificaremos nossa assertiva dizendo que denominamos inconsciente um processo se somos obrigados a supor que ele está sendo ativado no momento, embora no momento não saibamos nada a seu respeito. Essa restrição faz-nos raciocinar que a maioria dos processos conscientes são conscientes apenas num curto espaço de tempo; muito em breve se tornam latentes, podendo, contudo, facilmente tornar-se de novo conscientes. Também poderíamos dizer que se tornaram inconscientes, se fosse absolutamente certo que, na condição de latência, ainda constituem algo de psíquico.

Freud (1932) ressalta acima que nos processos conscientes podemos ter momentos em que o inconsciente comparece sem que possamos determiná-lo. Adianta ainda que, [...]

[...] a fim de explicar um lapso de linguagem, por exemplo, achamo-nos na obrigação de supor que a intenção de fazer um determinado comentário estava

presente na pessoa. Concluímo-lo, com segurança, a partir da interferência dessa intenção no comentário que ocorreu; mas a intenção não foi levada a cabo e era, portanto, inconsciente. Quando, a seguir, nós a revelamos à pessoa que cometeu o lapso, se ela reconhece tal intenção como lhe sendo familiar, era-lhe esta, então, apenas temporariamente inconsciente; se, contudo, a repele como algo alheio, tal intenção foi, então, permanentemente inconsciente (FREUD, 1932, p. 90-91).

Para Freud (1917), o inconsciente é o conceito fundamental da psicanálise, ainda mais que poderá existir o processo de transmissão de conhecimento entre inconscientes.

A definição de inconsciente em Freud, segundo Garcia Roza (2008) é o conceito fundamental da psicanálise, e, para chegarmos ao inconsciente, é necessário acessar “as lacunas das manifestações conscientes” (GARCIA-ROZA, 2008, p. 168), lacunas estas definidas como sonho, ato falho, chiste e sintomas.

Acreditamos que os processos inconscientes permeiam também as relações pedagógicas, independentemente do cenário em que estejam os sujeitos que compõem o processo de ensino-aprendizagem. Conforme coloca Moran (2004), o desafio maior de um professor é a busca por uma educação que integre todas as dimensões do ser humano, intelectual, emocional, ético e tecnológico.