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CAPÍTULO II – VIH/SIDA

2.5. Psiconeuroimunologia

A contribuição dos factores subjectivos na manutenção do equilíbrio biológico, através da sua acção sobre o sistema imunitário é estudada pela disciplina denominada “psiconeuroimunologia”. Neste campo de estudo, realizaram-se importantes contribuições a favor da compreensão de como as variáveis psicológicas são capazes de modular, até certo ponto, as respostas do sistema imunitário, tanto no sentido da imunocompetência como no da imunodepressão.

A Psiconeuroimunologia constitui um novo campo interdisciplinar que vem cobrir a lacuna existente entre as neurociências e a imunologia, devido à falta de interdisciplinaridade que predominou até poucas décadas atrás. Foram ambas áreas com um importante desenvolvimento nos últimos cinquenta anos, mas foram ampliando o seu campo de conhecimentos quase sem considerarem as relações entre o sistema estudado e o restante dos sistemas do organismo. Ainda que o conhecimento sobre estes sistemas tenha sido, sem dúvida, fundamental para o desenvolvimento das ciências da saúde, a descoberta de vias anatómicas, fisiológicas e bioquímicas que conectam os sistemas nervosos, imunológicos e endócrino permitiu concluir que os diferentes componentes do organismo não são estruturas isoladas. Pelo contrário, passou-se a estabelecer uma complexa rede de relações, tanto anatómicas como funcionais, que se ligam aos diferentes sistemas e órgãos entre si, em particular, o sistema neuroendócrino e imunológico. Tais inter-relações adquirem uma importância singular devido às funções de protecção, homeostase e controle que desenvolvem dentro do organismo, das quais dependem o bom funcionamento do organismo e a adaptação dos indivíduos ao ambiente (Ulla & Remor, 2002).

Dos estudos realizados, que são considerados suficientemente representativos da acção investigadora, gostaria de salientar os seguintes:

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Scheleifer, Keller, Camerino, Thornton e Stein (1983). Compararam a resposta linfocitária com a estimulação de mitógenos, em sangue proveniente de homens cujas mulheres era portadoras de cancro terminal. Os resultados demonstram que a resposta linfocitária durante os meses posteriores à morte das esposas era significativamente mais baixo.

Baron, Cutrona, Hicklin, Eussel e Lubaroff (1990). Concluíram na sua investigação que, esposas de doentes de cancro que dispunham de um maior suporte social, também experimentavam uma maior imunocompetência.

Glaser, Rice, Stout, Speicher e Kiecolt-Glaser (1986), realizaram uma investigação com estudantes de medicina, aos quais recolheram amostras de sangue seis semanas antes dos exames e no dia em que começavam os exames. Os resultados mostram que a percentagem de células NK e a sua capacidade de destruição sofriam uma dramática diminuição no dia de começo de exames, em comparação com a primeira amostra obtida seis semanas antes.

Reynols e Kaplan (1990), estudaram o papel do isolamento social na etiologia e evolução do cancro, referindo que mulheres que vivem sozinhas possuem um risco significativamente maior de morrer de todos os tipos de cancro. Por sua vez, os homens que possuem uma menos quantidade de relações sociais, no caso de padecerem de cancro, apresentam uma menos taxa de sobrevivência.

O cancro, como outras doenças crónicas, provocam importantes transtornos psicológicos, não só pela própria doença, mas também pelo significado pessoal e social que se lhe imputam (Die Trill, 1987; Ferrero, 1993). De acordo com os dados disponíveis sobre transtornos psicológicos em doentes oncológicos, a sua prevalência é o triplo que ma população em geral (Derogatis, Morrow & Fetting, 1983; Salvador, 1987).

O vinculo entre determinados factores de natureza psicológica e as possíveis variações na competência imunitária, que deixariam o indivíduo mais susceptível à acção de agentes patogénicos, é de especial relevância quando falamos da infecção pelo VIH. Podemos dizer, de acordo com estudos realizados nesta direcção, que um pior estado de ânimo, um maior nível de stress ou estratégias de coping não destinadas à solução activa dos problemas, relaciona-se com uma progressão viral mais veloz e,

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portanto, com um pior prognóstico. Por esta razão, intervenções psicológicas destinadas a estabelecer um bom ajuste psicológico do indivíduo, hábitos de vida apropriados ou um adequado controlo de stress estariam a colaborar com a terapia farmacológica na manutenção de níveis imunológicos adequados, evitando na medida do possível, as consequências advindas da progressão viral (Ulla & Remor, 2002).

3.5.1. Psiconeuroimunologia e VIH/SIDA

Diversos estudos em psiconeuroimunologia sugerem que factores psicológicos, tais como a ansiedade e a depressão, podem ter um papel importante na progressão da infecção por VIH. Em pessoas com um diagnóstico de seropositividade recente, os factores citados podem exacerbar a imunodepressão induzida pelo VIH, provocando um rápido decréscimo dos parâmetros imunológicos como os CD4 (Burack, Barrett, Stall, Chesney, Ekstrand & Coates, 1993; LaPerriere, Antoni, Scheiderman, Ironson, Klimas, Caralis & Fletcher, 1990).

Alguns investigadores evidenciaram que o diagnóstico de seropositividade produz profundos efeitos psicológicos, tais como ansiedade e depressão, que parecem contribuir com a progressão da doença. Nesse sentido, Antoni, Scheiderman, Fletcher & Golsteins (1990), numa investigação realizada com pessoas à espera do diagnóstico de possível infectado com VIH, observaram que o conhecimento da seropositividade produzia uma relevante diminuição das respostas imunológicas. Ao contrário de quando o resultado era negativo, em que se observava um aumento da actividade imunológica.

Segerstrom, Taylor, Kemeny, Reed & Visscher (1996), referem que as crenças negativas relativas á evolução do processo de deteorização produzido pelo VIH resultam numa rápida diminuição dos CD4.

A influência dos factores psicossociais sobre a função imunológica é, actualmente, uma evidência. Como vimos, elevações no nível de stress podem modular a função imunológica. Em caso de stress agudo, observa-se uma elevação na competência imunológica, por ser esta uma resposta adaptativa. Porém, quando se trata de stress crónico, a competência imunológica pode ficar comprometida, havendo um

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decréscimo tanto na actividade como na proliferação de determinadas sub-populações de linfócitos (Ulla & Remor, 2002).

Estritamente relacionado com o stress crónico estaria o apoio social. Este mostra-se como um forte factor modulador da percepção de ameaça, que têm os sujeitos das situações nas quais se encontram, e portanto, modulador também da resposta ao stress do sujeito. Por outro lado, relativamente às estratégias de coping, observaram-se diferenças significativas em função do tipo de estratégia utilizada. Estabeleceu-se uma certa generalização nos estudos, na qual um estilo activo de coping seria mais adaptativo e favoreceria uma elevada competência imunológica. Por último, fazendo uma alusão aos hábitos de vida, ressaltam-se os estudos desenvolvidos sobre a prática de exercício aeróbio, que se apresentam como um factor de modulação de parâmetros imunológicos (Ulla & Remor, 2002).

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