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6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

6.5 Publicações Independentes e Mídia Radical

Caldwell e Zappaterra (2014) afirmam que o apetite mundial por consumir e criar conteúdo apresenta-se em constante crescimento e publicações tradicionais – com sua busca por números enormes de circulação – não parecem mais saciar essa necessidade de consumo cada vez mais específico e de nicho dos leitores. É notável que zines publicados independentemente e publicações de interesse minoritário vem crescendo para suprir essa carência de conteúdo específico.

Publicações independentes são, de forma resumida, peças editoriais vinculadas sem o intermédio de uma grande editora ou marca, tendo o processo de criação, edição e publicação muitas vezes centrado em uma única pessoa. Esse estilo de publicação tem ganhado uma força poderosa nas tendências gráficas emergentes, ao passo de que seus editores via de regra não têm medo de escrever longos textos online ou passar por outras áreas de conhecimento como arte, arquitetura, fotografia, moda e música (CALDWELL; ZAPPATERRA, 2014)

Um bom exemplo prático do potencial político de uma revista independente é a revista ​Adbusters​. Fundada no Canadá em 1989 como uma organização pró-ambientalista anticonsumista, ela continua até o presente momento a desafiar o estabelecimento com as suas campanhas internacionais, como o ​Buy Nothing Day e a ​Digital Detox Week​; resistindo até os dias atuais, sua existência é uma crítica ao formato tradicional de revistas, “cujo conteúdo é conhecido por ser criado ao redor da publicidade, que, para muitas revistas, é o que importa: vender anúncios” como afirma Vince Frost, diretor de arte da Zembla.

FIGURA 10 – Capa da edição de nº 23 da Revista

Adbusters ​The Blueprint for a Revolution​ (1998) FIGURA 11 – Capa da edição de nº 37 da Revista Adbusters ​Design Anarchy​ (2001)

FONTE: Adbusters Media Foundation 12 .

6.5.1 Zines

Publicações independentes possuem os mais diversos formatos de veiculação e o formato conhecido como zine tem ganhado força atualmente. Isto se dá em parte pelo seu caráter de faça-você-mesmo e, logo, sua fácil reprodução em pequena e média escala. Duncombe (2008) explica que zines podem existir em mais formatos, estilos, assuntos e qualidades do que pode se esperar desta forma de publicação, porém elas possuem em comum a ideia radicalmente democrática e participativa do que a cultura pode ou deva ser.

Zines falam de e para uma cultura underground. e enquanto outros grupos de indivíduos se reúnem em torno da criação compartilhada de sua própria cultura, o que distingue zinesters de hobbistas de jardim é sua autoconsciência política. Muitos zinesters consideram o que fazem uma alternativa e atacam a cultura comercial e o capitalismo de consumo. (DUNCOMBE, 2008 p. 8 Tradução livre)

FIGURA 12 - Zine publicada pela Contra Editora

FONTE: Publicações independentes para os tempos políticos atuais 13

Além disso, um dos pilares da ​cultura underground foi sem dúvidas a zine; surgida14 na década de 1930 com as publicações científicas (PRADO, 2014) e, inicialmente, conhecidas como ​fanzine , sua natureza alternativa e amadora auxiliou a difusão de bandas ​punks​.15 Criando uma rede complexa de formas de expressão, compartilhamento e circulação (PRADO, 2014). Os criadores de zines também comumente definem-se contra a ideia de uma sociedade baseada no consumo, privilegiando mais uma vez a ideia do faça você mesmo: faça sua própria cultura e pare de consumir aquela que é feita para você. (DUNCOMBE, 2008)

13 Disponível em:

<https://www.vice.com/pt_br/article/kzjd53/publicacoes-independentes-para-os-tempos-politicos-atuais>. Acesso em: jun.2019

14 Expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia.

15 O termo fanzine é forma contraída das palavras inglesas ​fanatic e ​magazine​, inicialmente se tratava de um tipo de publicação de histórias de ficção científica, mas posteriormente ampliou-se para abordar também temas em histórias de quadrinhos, terror, literatura policial, bem como música e militância política. (PRADO, 2014)

FIGURA 13 - Zines Punks britânicas dos anos 70

FONTE: Fanzines from the 1970s 16

Nesse contexto, o zine ou Fanzine pode ser compreendido como uma “mídia radical” essa teoria refere-se a um tipo de mídia – geralmente em pequena escala e em muitas formas diferentes – que expressa uma visão alternativa de políticas, prioridades e perspectivas hegemônicas. (DOWNING et al., 2001)

Fanzines são veículos amplamente livres de censura, em que não há preocupações com grandes tiragens ou lucratividade e seus editores são os únicos encarregados de todo o processo de produção, incluindo escrita, edição e distribuição. Isso torna sua confecção dependente apenas da disponibilidade, do orçamento e do interesse de cada editor (CAMARGO, 2011 ​apud​ Magalhães, 1993).

Zines também são canais de elaboração e difusão de uma mensagem política em um veículo emocional; neles podemos encontrar um espaço onde é possível discutir as vivências e anseios de seus interlocutores, uma vez que possuem uma configuração que se posiciona no

meio termo entre uma carta pessoal e uma revista, possibilitando esse compartilhamento de experiências e visão de mundo.

Um exemplo desse fenômeno em um viés com enfoque político, por exemplo, trata-se da zine ​Impeachment - Câmara dos Deputados: A publicação transcreve e mostra na íntegra o discurso de todos os congressistas da sessão 091, do dia 17/04/16, que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef, na Câmara dos Deputados, criando uma catalogação dos pronunciamentos e informando a população sobre os posicionamentos políticos dos envolvidos.

FIGURA 14 - Zine ​Impeachment – Câmara dos Deputados​ por Coletivo Oitentaedois

FONTE: Publicações independentes para os tempos políticos atuais 17

Duncombe (2008) em seu livro ​Notes from Underground: Zines and the Politics of Alternative Culture reconhece que a vasta amplitude dos zines causa as tentativas de classificá-los em uma forma absoluta inevitavelmente apresentará falhas e lacunas, porém a partir de seus estudos ele propõe a seguintes categorizações generalistas para zines:

17 Disponível em:

<https://www.vice.com/pt_br/article/kzjd53/publicacoes-independentes-para-os-tempos-politicos-atuais>. Acesso em: jun.2019

TABELA 1 - Taxonomia da zine proposta por Stephen Duncombe (2008)

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