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CAPÍTULO 4. Análise dos Dados

4.5. Conjunto 3 Publicidades de Divulgação do Concurso Cultural Dove

4.5.3. Publicidade 6

“Teve uma época em que eu fui bem mais magra.

E quando eu perdi minhas curvas, perdi minha identidade.

O que me identifica é a Camila que tem o bumbum grande e as coxas grossas. É assim que eu me sinto bem.”

Camila

No anúncio acima temos a representação de uma mulher, ao lado dela temos uma mini-narrativa, abaixo temos um texto divulgativo do Concurso Cultural, a foto dos produtos Dove e o slogan da Linha Firming.

Pelas categorias da GDV, o valor dado aos elementos presentes no anúncio pode ser atribuído por meio da posição que ocupam. A imagem está na margem superior esquerda, no campo das informações dadas e ideais. Já o texto, à direita e no canto superior, está no campo das informações novas e idea is. O texto do concurso cultural, por sua vez, está localizado à esquerda na margem inferior, que corresponde ao campo das informações dadas e reais, já a imagem dos produtos e o slogan estão à direita na margem inferior, que é o campo das informações novas e reais.

107 Desse modo, seguindo a lógica ocidental de olharmos sempre da esquerda para a direita, as informações novas permanecerão na nossa memória já que serão os últimos elementos a serem olhados.

O enquadramento da imagem em plano geral sugere um dist anciamento entre leitor e participante. Além disso, permite ao leitor visualizar o corpo todo da participante: branca, jovem, loira, altura média, gorda, confiante, sorridente e sensual. Pelo sistema do olhar, percebemos uma imagem de demanda que suscita sedução, pois a participante olha diretamente para o leitor em uma pose sensualizada, com os braços na parede, cabeça levemente inclinada para traz e bumbum empinado.

O ângulo vertical e oblíquo suscita uma relação de superioridade e desalinhamento com o leitor, reforçando e remetendo à narrativa: “É assim que eu

me sinto bem”, e ao discurso da “gordinha sexy” das enquetes.

A seguir temos uma síntese da análise da imagem.

Metafunção Representacional - GDV

Representação Narrativa conceitual transacional

Metafunção interacional - GDV

Olhar: posição demanda

Enquadramente: plano geral

Perspectiva: ângulo vertical e oblíquo Modalidade: Naturalística

Metafunção Composicional - GDV

Valor

Centro/margem: imagem no centro Dado/Novo: imagem / texto

Ideal/Real

texto e imagem / chamada concurso cultural e slogan + produtos

Saliência

Efeito de cores:

brilho e cores do corpo ganham destaque. Produtos também em cores.

Contraste: corpo em cores versus ausência de fundo

108 O narrativa aparece como uma resposta a uma suposta pergunta dos

leitores, ‘você se sente bem sendo gorda?’. Como se a participante precisasse

justificar o por quê é gorda e por quê não emagrece e molda seu corpo de acordo com os padrões que a sociedade determina.

(1) Teve uma época em que eu fui bem mais magra.

O primeiro enunciado tem início com o verbo “ter” com significado de

processo existencial, equivalente ao verbo “existir”. Esse é empregado em forma de circunstância que determina o tempo em que a participante era magra. O enunciado (1) poderia ser entendido, como já dissemos acima, como uma resposta

à pergunta do senso comum, “por que você não é mais magra?”, já que a

participante parece se justificar por não se encaixar nos padrões de beleza, ou seja, ela já esteve dentro desses padrões. É interessante notar o intensificador

“bem” atrelado à expressão “mais magra” além de demonstrar o ponto de vista da

narradora – não é gorda, está apenas menos magra do que antes –, compara o corpo mostrado na imagem com o que era antes.

(2) E quando eu perdi minhas curvas, perdi minha identidade.

Em (2) é possível notar a utilização do processo material “perder” para justificar o não ser mais magra da sentença anterior. A identidade da participante

é representada pelo atributo “curvas”. Dessa forma, a identidade é vinculada ao

corpo, representado pela presença de curvas, se não há curvas não há identidade, o que se tem é apenas um corpo sem identificação, mas que se encaixa no modelo ideal hegemônico de corpo, e que, segundo a narradora, não a faz se sentir bem. Assim, o corpo físico é representado como distinto do corpo social quando não há curvas.

109 No excerto (3) temos um processo mental no qual a experienciadora revela como ela se sente em relação as suas curvas, “me sinto bem”. Assim, a participante demonstra satisfação com o próprio corpo e, por conseguinte, com sua identidade.

O “corpo diferente”, então, é representado por meio de categorização por identificação física “curvas”, “bumbum grande” e “coxas grossas”. Nota-se

que, dentre essas representação, duas são avaliativas, pois utilizam os adjetivos

“grande” e “grossas” para caracterizar os elementos descritos. E, novamente,

temos o “corpo diferente” sendo representado por meio de uma fuga ligeira aos padrões de beleza hegemônicos, já que “bumbum grande” e “coxas grossas” são referências de tamanho comparadas aos modelos estéticos padronizados. Não há marcas explícitas ou defeitos na imagem representada.

Notamos que as representação do “corpo diferente” nos 3 anúncios do Conjunto 3 é feita por meio de identificação física de alguma parte de seu corpo. Esses atributos físicos sempre avaliados como exagerados, ou fora do tamanho ideal, legitimam e reforçam o modelo dominante de corpo feminino, magro, curvilíneo (mas não em excesso) e exercitado. O corpo feminino, então, é representado sempre fragmentado, e as partes que são representadas aparecem em posição central no discurso, sempre remetendo ao ideal vigente de beleza física: magra, coxas, bumbum e curvas torneadas, porém pequenos.

As identificações físicas nunca são neutras, e são usadas para chamar a atenção dos leitores para alguns traços físicos em detrimento de outros, essa seleção aponta para uma objetificação das participantes por meio dos apelos sexuais, tanto da imagem quanto do texto.

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