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SEÇÃO 3 ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA NO TRABALHO PRISIONAL

3.2. As punições extra legais

Um conceito que cabe nessa problemática é o de violência negociada, de Castro e Silva (2008), que fez uma pesquisa no sistema prisional do estado do Rio de Janeiro, intitulada Nos braços da lei: O uso da violência negociada no interior das prisões. Segundo este autor: “A violência negociada seria, grosso modo, uma substituição da penalidade legal por castigos físicos, estando acordada entre os atores envolvidos” (CASTRO E SILVA, 2008). O termo negociada esclarece o autor que não está vinculado a uma relação de consumo, ou comercial, mas à aplicação de normas punitivas, sendo objeto de negociação entre agentes e presos, com a finalidade de criar um meio alternativo de punir as infrações cometidas, sem que se utilizem os meios legais, juridicamente falando, passando a operar num registro paralelo ao das normas e regras formais previstas na instituição.

tortura2 ou dos castigos físicos em seu cotidiano de trabalho, através da experiência profissional de 6 anos atuando no sistema penitenciário da Paraíba, acabamos presenciando alguns atos desse tipo, e posso dizer que não é uma visão muito agradável, gera conflitos internos em nós indivíduos, do qual se questiona se é realmente necessário que haja essas práticas para solucionar problemas nos presídios.

Quase todos os informantes não confessaram a existência desse tipo de prática, exceto o Agente W., que é prestador de serviço e está trabalhando no sistema a 14 anos e nos relatou algo bastante revelador:

Quando entrei no sistema era mais na porrada mesmo, a gente resolvia as coisas, a verdade é essa. A gente resolvia as coisas na porrada, mas também não tinha tanto direitos humanos, direitos humanos não, as pastorais em cima como tem hoje. Hoje, a caneta está valendo mil vezes melhor. (Agente W, 2015)

Portanto, a questão da violência negociada, no sistema prisional paraibano, a partir do relato de nosso entrevistado aqui citado, era uma realidade do cotidiano de trabalho dos agentes penitenciários, pelo menos a 14 anos atrás. Algo bastante importante de ser refletido, já que o Agente W. ressalta que como antes não havia uma grande fiscalização por parte do movimento de direitos humanos, dentre eles as pastorais carcerárias, era uma forma de se resolver se utilizando da força física, ao invés da caneta, ou seja, a aplicação da regra, que segundo ele, hoje valeria muito mais.

Ainda sobre a violência negociada, há um relato que aprofunda melhor essa questão na prática:

Tinha casos que resolvia. Chegou a ponto do preso até bater palma por a gente tirar um apenado de dentro de uma cela que ele estava dando trabalho demais e não aguentavam mais. [...] A gente foi aplaudido, por incrível que pareça, pelo uma cela no primeiro andar, eu e meu companheiro, a gente foi aplaudido. Mas, na realidade, no outro dia o preso se queixou ao diretor adjunto e esse queria punir a gente. A partir desse momento, eu disse um preso não coloco mais uma mão em cima dele. Vou usar a palavra, e se possível a caneta. (Agente W, 2015)

Infelizmente, naquela época tinha que ser utilizada a forca mesmo, tinha cela que tinha 40 homens, nessa que a gente foi pegar lá. Os caras não estavam aguentando o cara mais não. Ou eles quebravam o cara de uma vez ou a gente tinha que tirar. Foi chamado a gente e a gente tirou e o caba não quis sair de jeito nenhum da cela. A gente não ia querer os presos batendo em outro preso na frente da gente, aí que ia desmoralizar a gente. Então, a gente é que tinha que pegar ele. [...] A gente teve que pegar como diz na mão mesmo e trazer. A gente trouxe e, infelizmente, ele reagiu e a gente teve que quebrar mesmo. (Agente W, 2015)

Notem que o segundo relato caracteriza de vez a violência negociada, os agentes sentiram na obrigação de resolver, a partir da força física, para que não saíssem “desmoralizados”, pois a função deles era resolver, e tinham legitimidade social pautada pela negociação entre presos e agentes. O mais interessante é quando o entrevistado fala que “naquela época tinha que ser utilizada a força”, ou seja, ele procura justificar que no sistema em outros tempos, que não esses onde a realidade é outra, foi necessário o uso da força, onde hoje não haveria mais necessidade, porque além da fiscalização, há uma possibilidade muito maior hoje dos agentes serem punidos legalmente por atuarem com esse tipo de prática.

Ainda sobre a época do Agente W., ele nos fala que:

Quando entrei no sistema, na realidade, o sistema era esse mesmo. Ou resolvia na tapa ou não resolvia, porque o sistema como diz a linguagem, o sistema era bruto mesmo. Hoje, o sistema como já falei antes, o sistema mudou muito. Hoje, o pensamento é outro, totalmente diferente. Hoje, a gente conta as histórias aos mais novos, o cara pensa até que a gente está fazendo fantasia, mas na realidade, quem viveu sabe, não foi fantasia. (Agente W., 2015)

Ao declarar que o sistema era outro, o agente supõe que as práticas de hoje mudaram para melhor, ou ainda há práticas desse tipo que não são reveladas com tanta clareza, como revela o informante, como o próprio já disse, hoje temos os direitos humanos que estão sempre atuando na repressão a essas práticas.

Ainda sobre seu tempo, ele continua:

Entre os agentes, o chefe de disciplina disse vamos testar o galego hoje, porque ninguém me conhecia direito ainda. Vou testar o que, 05:00 horas da tarde entra lá no isolado e quebra tudo no pau. A verdade era essa. Se tinha um perturbando apanhava até quem estava dormindo. E, infelizmente, era o que estava resolvendo no momento, porque a caneta naquele tempo não tinha tanta caneta não. [...] hoje, está mais rigoroso as coisas. Tanto melhorou o sistema, como os direitos humanos está mais em cima. (Agente W, 2015) Considero esses relatos como sendo o ápice da pesquisa, até então ninguém teve a coragem ou o interesse em divulgar que praticou ou presenciou a prática de tortura no sistema prisional paraibano. Sei dos riscos que estou correndo ao divulgar essas informações, uma vez que tortura é um crime hediondo.

Apesar de ser enfático na descrição de sua prática no sistema antigamente, o Agente W. hoje não concorda com essa postura, sempre ressaltando que não havia outra forma de atuar naquela época. Para ele, isso ocorreu, mas procura justificar que:

treinamento, não tinha equipamento, não tem nada. Hoje, o sistema está bem equipado, apesar que o déficit de agente é grande ainda. Mas, hoje, o sistema está muito mais bem equipado em todo local. (Agente W, 2015)

Realmente o sistema atual conta hoje com instruções nas unidades sobre como proceder corretamente no uso da força, claro que na prática nem sempre os protocolos são seguidos, pois sempre há um clima de tensão, o conflito é pesado do ponto de vista físico, os presos eles atacam da forma que lhe convém, ao passo que o agente necessita atuar sem machucar o preso. Situação essa que acaba sendo complicada. É muito difícil, as vezes um grupo de agentes não consegue conter um preso que está sob efeito de drogas e reage de todas as formas possíveis. Portanto, entre os julgamentos que possam aparecer no seio social. A vida do agente em frente a essa realidade é no mínimo complexa e carece de reflexão mais aprofundada, sem preconceitos ou julgamentos aparentes.

Um autor que fez uma leitura sobre os agentes penitenciários, apesar de não ser um estudioso na área, em seu livro Carcereiros, o médico Drauzio Varella, o qual julgo ser um exercício sociológico bastante rico em descrições densas sobre a realidade desses atores sociais em meio ao sistema prisional. Segundo Varella (2012):

Para tão poucos controlarem tantos, é preciso conhecer as leis do crime, entender o funcionamento da cadeia, a dinâmica e o impacto do encarceramento na mente humana, decifrar personalidades e intenções ocultas, ter anos de experiência e empregar métodos nem sempre ortodoxos. (VARELLA 2012, p.40)

Para esse autor, os agentes penitenciários são pessoas que possuem ou procuram possuir uma série de diferentes conhecimentos acerca do mundo em que atuam, para que possam além de sobreviver em meio à prisão, ter uma atuação profissional efetiva e eficaz junto aos presos, seja agindo em consonância com as leis, regras e normas, ou através de “métodos nem sempre ortodoxos”, ou seja, de ações muitas vezes ligadas a princípios que não são encontrados em corpos jurídicos legais ou normatizadas em papel, mas na cultura, nos valores e principalmente nas ações cotidianas específicas do próprio ambiente carcerário.

A leitura de Drauzio é brilhante, na medida em que não pretende nem tomar partido contra ou a favor de nenhum dos lados, muito menos de julgar esse ou aquele ator social como bom ou mau. Suas problematizações apresentam momentos em que o leitor fica sem saber quem defender ou condenar, mostrando sensibilidade suficiente para dizer que a dinâmica social leva os indivíduos a agirem, em certas ocasiões de uma forma e não de outra, algo muito crucial para o cientista social, que está preocupado em captar essa dinâmica e não reduzir atores sociais numa novela com roteiro definido e limitado.

Em relação aos outros informantes, alguns indicam que é possível que em seus cotidianos, haja práticas nem sempre ortodoxas, tão bem descritas pelo Agente W. anteriormente. O Agente R.(2014) nos apresenta uma frase interessante em sua fala: “muitas vezes é a caneta que dá a sentença e a palmatória que dá a pena, né? Mas, enfim, cada um sabe o que faz”. Mais adiante ao falar sobre um dos tipos de punição, que é a repreensão verbal para com o preso, ele nos relata como ocorre:

É tenso, você precisa dá punição, ser enérgico. Saber que você ali é quem está no comando, eles precisam de adequar a forma do presídio agir, não o presídio se adequar a forma do preso agir. Já presenciei, enfim, mas é inerente a função, você precisa ter a voz, precisa dá o comando, precisa efetivar realmente a punição para que sirva de exemplo, para que outros não façam a mesma coisa. É um momento meio tenso, mas, enfim, precisa ser feito é inerente a função. (Agente R, 2014)

Quando perguntado aos agentes se os presos temeriam mais a caneta do que a pancada, muitos relataram coisas interessantes, que passo a apresentar agora. Essa questão passa pelo processo em que pesa a caneta, que no caso envolve a sindicância, processo pelo qual alguns agentes penitenciários acabam acumulando como função a cumprir dentro das unidades prisionais.

Mas, a respeito de quem pesaria mais, a caneta ou a pancada, o Agente W., nos informa mais uma vez que:

Rapaz, se você perguntasse a qualquer um ele prefere o cacete do que a caneta, porque a caneta vai atrapalhar ele futuramente nas progressões de regime, vai atrapalhar ele, e o cacete não vai. Paga ali mesmo e pronto. Bota um gelozinho e fica bom. E a caneta não. [...] A caneta tem mais, se fosse duas, três, quatro tapas não estava ali, estava no regime já tranquilo. Mas, o poder da caneta é mais forte que o da tapa. (Agente W, 2015)

O Agente X., nos conta a respeito do papel da sindicância em um presídio:

A questão de sindicância atrasa a vida dele, vai atrasar aí por mais ou menos 6 meses a 1 ano cada isolado que ele tem, qualquer benefício que ele venha a ter mais na frente, se ele responder uma sindicância a um ano atrás ele vai ser atrasado, ele pode perder esse benefício por causa dessa sindicância que ele respondeu e foi condenado. (Agente X, 2014)

A sindicância é um processo administrativo interno onde é executado geralmente por um agente penitenciário, do qual cabe ouvir o preso e os agentes sobre fatos que ocorrem dentro da unidade prisional, questões como faltas previstas na Lei de Execuções Penais, tais

como desobedecer a disciplina interna, desacatar funcionário, briga entre os presos e etc. São algumas das causas que provocam uma sindicância, além de outras, como a de encontrar com o preso material ilícito, etc. Para cada ação tem uma reação, e cabe ao agente que conduz o sindicante definir qual a punição a ser executada.

Mas, há uma questão interessante aqui, alguns presos não sabem nesse processo de sindicância que é o agente quem dá a “canetada”, é o que relata a Agente M.(2014): “Eles ainda não se deram conta pra isso. Dizemos sempre que foi o juiz. Mas na verdade quem julga sou eu. Mas como o processo vai pra Vara de Execuções Penais (VEP), eles acreditam que a penalidade é do juiz”.

É certo que o juiz toma conhecimento da punição administrativa, mas não é ele quem a determina, haja vista que isso é prerrogativa do Estado, cabe ao juiz a punição jurídica, como a regressão da pena, que acaba vindo no mesmo tempo que a outra punição. Isso é tão arraigado no cotidiano, que até um de nossos informantes nos fala como se a última palavra fosse mesmo a do juiz, ou seja, não é só o preso que não sabe como a sindicância funciona. Para o Agente A.(2014): “Toda ocorrência de falta que o apenado comete, logo é avisado para o juiz, vem dele a canetada final”. O que vem do juiz é a decisão da regressão ou não da pena, do regime semi-aberto ou aberto para o fechado, mas a falta disciplinar ela é dada na punição administrativa.

A partir desse cotidiano muitos presos revelam para os agentes, chegando inclusive a pedir que seja dado a pancada ao invés da canetada. Vejamos o que nos diz alguns dos informantes a respeito disso. Para o Agente R.(2014): “a gente sente que é isso que realmente eles (presos) temem né. Eles temem mais a canetada do que a mãozada, até pelo cotidiano deles”. A Agente M.(2014) também segue essa linha, nos contando que uma vez: “Ele [preso] falou: preferia levar uma surra do que responder isso ai doutora! Isso só vai me prejudicar”.

Nas palavras do Agente W.(2015) sobre sua experiência atual no sistema prisional, ele nos informa, ainda sobre o poder da canetada, que: “A prova é esse diretor que está lá. Ele não dá uma pancada em ninguém, porque, na realidade, a gente não está ali pra dar em ninguém, mas a punição deles serve por 200 tapas”.

No entanto, segue um relato que mostra como nem sempre essa é uma lógica permanente e com eficácia absoluta, pois há presos que não temem a canetada, por algumas questões pelas quais explica alguns informantes:

Depende do preso. Um determinado preso, líder de facção, traficante pesado. Sempre quando eu ia pegar a oitiva dele, o mesmo dizia: a senhora pode colocar ai o que quiser, minha pena é de 200 anos mesmo. Não tava nem ai

pras sindicâncias. Já outros prefeririam o castigo físico. Porque sabe que vai atrasar sua saída. (Agente M, 2014)

Nessa unidade que trabalho tem um cara lá que tem 30 homicídios, um caba desse não tem mais o que perder na vida mais não, ele não vai ter medo de você. Ele chegou a ameaçar o nosso diretor, ameaçou um companheiro nosso lá, um caba desse não tem mais o que perder, 30 homicídios nas costas, um caba desse tem que ter cuidado nele, e tentar conversar com ele. (Agente W, 2015)

Portanto, não se trata, conforme Silva (2008) de encarar o indivíduo como sendo “um ser passivo diante das configurações que a sociedade lhe apresenta, mas de vê-lo como fonte e matriz dessa tênue ordem social que precisa ser reconstruída cotidianamente por cada um no desempenho dos mais variados papéis sociais” (SILVA, 2008). Esse autor ainda nos aconselha a não analisar os fenômenos sociais de acordo com conceitos prontos e acabados, já que as pessoas reais não possuem posições fechadas e imutáveis, sendo os papéis sociais diversificados e contextualmente referenciados. Segundo ele:

Erguida a partir de multiplicidade relacionais, a penitenciária caracteriza-se como espaço social no qual os internos que ali cumprem pena podem fazer suas opções de vida. É lógico que o espaço circunscrito pelos muros e pela vigilância cotidiana dos guardas e funcionários impõe limites a tais possibilidades. Ai, todavia, emerge o poder de criação humano, capaz de inventar e reinventar a vida social nos mais variados contextos. [...] (SILVA, 2008, p.119).

A “violência negociada”, logo, seria uma das formas de “acordo” possíveis no sistema prisional, pois como nos indica Silva (2008), os internos fazem suas opções de vida, não são meros sujeitos passivos, possuem limitações a partir da atuação dos agentes penitenciários e do Estado, mas, buscam diferentes meios de se sobressair dos imperativos, com um poder de criação fantástico.

Tanto agentes como presos, precisam no decorrer de sua convivência na prisão desempenhar papéis, representar, construir fachadas, desenvolver construções sociais, adquirir conhecimentos inerentes à vida prisional, fazer ajustamentos primários e secundários diante da instituição prisão e buscar inovar nas ações com o objetivo de reinventar suas vidas, mantendo a dinâmica do cárcere em constante movimento.

Verificamos em Goffman (1992), quando o mesmo escreve em Manicômios, prisões e conventos, sobre aspectos não institucionalmente definidos da administração de uma prisão, e nos diz que:

[...] em termos de ação, a administração da prisão em grande parte se ocupa do problema de “segurança”, isto é, procura impedir a desordem e a fuga. Um

aspecto importante da definição que a administração da prisão dá do caráter dos internados é que, se tiverem a menor oportunidade, tentarão fugir à sua pena legal. Pode-se acrescentar que o desejo de fuga dos internados, e sua usual disposição de suprimir esse desejo por causa da possibilidade de serem apanhados e castigados, exprime (embora através de sentimentos e ação, não de palavras) um acordo com a interpretação dada pela administração. Por isso, grande parte de conflito entre a administração e os internados está coerente com o acordo quanto a alguns aspectos da natureza dos internados. (GOFFMAN, 1992, p. 157)

Além disso, Goffman (1992) lança mão de mais dois conceitos, que foram mobilizados na pesquisa: de ajustamentos primários e secundários. Os primeiros se referem aos papeis social e culturalmente definidos para os atores. Assim, os agentes penitenciários

devem ser não mais e não menos do que a sociedade/instituição/cultura os prepara para ser; os

segundos seriam relativos ao extra-oficial das definições institucionais/sociais/culturais do que devem ser e fazer os agentes penitenciários, definidos por Goffman como: “qualquer disposição habitual pelo qual o participante de uma organização emprega meios ilícitos, ou consegue fins não-autorizados, ou ambas as coisas, de forma a escapar daquilo que a organização supõe que deve fazer e obter e, portanto, daquilo que deve ser” (GOFFMAN,

idem).

Assim sendo, esse conceito de ajustamentos secundários de uma instituição total, nos indica a necessidade de levar em consideração em nosso trabalho que:

[...] a doutrina oficial segundo a qual uma instituição é dirigida pode ser tão pouco aceita na prática, e uma perspectiva semi-oficial ser tão firme e integralmente estabelecida, que precisamos analisar os ajustamentos secundários relativos a esse sistema autorizado, mas não muito oficial. (GOFFMAN, 1992, p. 163).

Diante das palavras de Goffman é que busco aqui refletir mais sobre outras formas de punição ligadas ao cotidiano prisional, apesar de não admitirem a violência negociada de forma literal, acabo percebendo que há outras formas de punição que não necessariamente passam por um acordo, mas acabam sendo impostas pelos agentes penitenciário de acordo com a gravidade do ato que o preso comete, ou até mesmo se esse representa explicitamente ou não um risco para a ordem do cárcere.

O Agente F., nos dá um exemplo disso:

Quando a gente vê que é um caso que está fora do controle da estrutura, um apenado que tem um risco de ser resgatado, entendeu? Uma quadrilha chegou lá, a gente vê o perfil dele o cara tem um histórico tal, tal, tal, vamos tirar esse cara daqui. Vai pra o Juiz comunica o fato a ele pra ele tomar as providências. (Agente F, 2014)

O Agente A.(2014) também acrescenta que os agentes: “Agem dentro da legalidade, depende da situação, há uso de armamento menos que letal e condução do apenado a cela do isolamento, em casos tais como motim, os envolvidos geralmente são transferidos para presídios”.

Ocorre, deste modo, uma forma de punição muito peculiar e interessante, da qual cabe aqui revelar, a transferência de presos para outras unidades prisionais. Uma punição bastante temida pelos presos, segundo o Agente F.:

O que é que eles (presos) têm medo? De serem transferidos, já aconteceu várias vezes. A gente vai e transfere. Já transferi vários. A gente restringe os direitos, visita, banho de sol. Restringe por um período de tempo dependendo