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Nesta obra, o sumário é estruturado em unidades, contendo os capítulos onde são explicitados tópicos que podem ser ali encontrados, enumerados, e com suas respectivas páginas. É possível encontrar também seções como “Exercícios de

revisão”, “Experimento” e nos capítulos que encerram cada unidade há a seção “Compreendendo o mundo”. A Figura 5 ilustra o sumário do volume 2 desta obra.

Figura 5. Fragmento do sumáriodo Livro Química (REIS, 2013), Volume 2 Fonte: Reis (2013)

Na leitura do sumário foram selecionados os tópicos apresentados no Quadro 2, tendo sido considerados todos os títulos nele compreendidos. Com isso, em alguns casos, a análise foi realizada na unidade como um todo, ou no capítulo como um todo, ou apenas nos títulos integrantes dos capítulos, seguindo o critério definido e apresentado nos Encaminhamentos metodológicos deste trabalho. Por exemplo, no Volume 1, Unidade 1 e Capítulo 5, foram analisados o conteúdo apenas dos itens 1. Reciclagem de lixo e do item 2. Tratamento de água.

Quadro 2. Títulos analisados – QUÍMICA (REIS, 2013)

VOLUME 1

Unidade 1 – Mudanças Climáticas Capítulo 5 – Separação de Misturas  1. Reciclagem do lixo (p. 65)

 2. Tratamento de água (p. 69)

VOLUME 2

Unidade 2 – Poluição da Água (p. 72) Unidade 5 – Lixo Eletrônico (p. 265)

VOLUME 3

Nenhum tópico encontrado Fonte: elaboração da autora

Nesses livros cada unidade é iniciada com um tema amplo relacionado a questões ambientais e/ou sociais, seguida por um breve texto com a temática, como no caso da unidade 2 – Poluição da água (p.72), no qual é apresentado um pequeno texto introdutório sobre o tema (Figura 6). A seguir, cada um dos capítulos é iniciado com outros textos, pertencentes a seção “Saiu na Mídia!”, os quais são “extraídos de publicações (revistas, jornais, trabalhos científicos) da internet relacionados ao tema da unidade” (REIS, 2013, p. 323).

Figura 6. Apresentação da unidade 2 do Livro Química (REIS, 2013) Volume 2 Fonte: Adaptado de Reis (2013)

Assim, de modo geral, a estrutura de cada capítulo se dá pela apresentação dos textos “Saiu na Mídia!”, seguidos de questões intituladas “Você sabe explicar?”, em sequência os conteúdos químicos são apresentados e no decorrer deles, a autora responde às perguntas do “Você sabe explicar?”, utilizando um tópico explicativo.

Os temas sociais utilizados são sempre amplos como mudança climática, poluição das águas, lixo eletrônico, dentre outros. Em raros momentos, o autor convida o educador-educando para pensar sobre a realidade, quando o faz, é de maneira pontual, como no box lateral, situado na página 84 do volume 2, o qual propõe a realização de um levantamento pelos alunos sobre a realidade brasileira

(Figura 7). Entretanto, não é apresentada nenhuma atividade que possibilite a problematização e reflexão crítica dessa realidade.

Figura 7. Exemplificação das atividades propostas em boxes no livro Química (REIS, 2013) Fonte: Adaptado de Reis (2013)

Para exemplificar tomaremos como recorte o texto “Estiagem afeta abastecimento de água em cidades do Paraná” (p. 64), integrante do volume 1 da obra, publicado na seção “Saiu na Mídia!”. Este traz uma reportagem que aborda a situação de estiagem vivida em algumas cidades do Paraná e estabelece relação com os problemas de abastecimento de água nesses locais.

Em relação aos textos dessa seção, no manual do professor, a autora até sugere que estes são “momentos oportunos para o professor fazer o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre os assuntos tratados nos textos e/ou problematizá-los, trazendo as situações apresentadas para o cotidiano” (REIS, 2013, p.323), embora não traga sugestões de como fazê-lo e nem mesmo o que se entende sobre problematização. Na verdade, as sugestões de abordagem presentes no manual se restringem à forma como trabalhar os conteúdos químicos.

Ao final do texto, em “Você sabe explicar” (p. 64), pergunta ao aluno “por quais processos a água captada dos mananciais passa até chegar à nossa casa?”. Esta pergunta é respondida dentro do próprio capítulo, mas no tópico seguinte – Tratamento de Água (p.71), com um texto explicativo intitulado com a mesma pergunta formulada anteriormente – “Por quais processos a água captada dos mananciais passa até chegar à nossa casa?”.

Assim, as questões formuladas nos livros são respondidas pela autora dentro do próprio capítulo, minimizando a atuação do aluno, enquanto sujeito de seu aprendizado, reforçando o caráter passivo da educação e fragilizando a mediação do professor, já que não suscita a busca pela construção do conhecimento.

Concordamos com a descrição do PNLD 2015 sobre esta obra quando informa que esta “supera visões de ensino de Química baseadas exclusivamente (grifo nosso) em regras, nomenclatura e resoluções de questões de vestibulares” (BRASIL, 2014c, p. 31). Entretanto, observamos que tanto o manual do professor quanto o conteúdo dos livros pouco favorecem a problematização de temas sociais e ambientais no espaço escolar, uma das questões mais desafiadoras da prática docente. Esta mesma estrutura é notada em todos os volumes analisados dessa obra.

Dessa forma, apesar da obra se valer de temas sociais/ambientais que são estruturadores dos capítulos estes não apresentam uma problematização da realidade na perspectiva freireana e nem na perspectiva CTS, mesmo quando traz questões inerentes à CT, pois em ambas as perspectivas o contexto histórico, político e cultural, assim como o científico e tecnológico são determinantes e indissociáveis na compreensão de temas sociais.

Assim sendo, nessa estrutura, podemos dizer que o contexto é apresentado como uma ilustração, com a função de facilitação, como ocorre nas abordagens piagetianas que,

[...] supõe o desenvolvimento cognitivo de forma espontaneísta, independente das práticas de ensino, que então só têm como função tornar o ambiente adequado para o desenvolvimento. A teoria piagetiana também trata, por caminhos diversos, do sujeito universal, não levando em consideração a questão histórico-cultural na construção da aprendizagem (OLIVEIRA et al., 2015, p.4).

Em se tratando da relação entre o tema/conteúdo, outra categoria de análise nesse estudo, observamos que os conteúdos químicos que integram a obra são aqueles tradicionalmente constantes em livros didáticos. Estes são apresentados na sequência da seção “Saiu na Mídia”, sem estabelecer relação direta com o tema proposto. Por exemplo, no volume 2 capítulo 5, o texto “Poluição das águas urbanas” (p.74), situado na seção “Saiu na mídia!”, foi usado para iniciar a questão inerente a temática e em “Você sabe explicar?”, foi perguntado se os alunos sabem quais são os problemas causados pelo lançamento de esgotos, sem tratamento, diretamente nas águas. Esta pergunta é respondida, posteriormente, com o tópico “Quais os problemas causados pelo lançamento de esgotos, sem tratamento,

diretamente nas águas?” (p. 84), mantendo a estrutura já apresentada anteriormente.

Relacionado a esta problematização os conteúdos químicos são: “Preparação de soluções (p. 75), “Relações entre soluto e solução” – Concentração em massa (p. 78), Densidade (p. 80), Título em massa (p. 82), Cálculo da densidade de uma mistura (p. 82), Título em volume (p. 86), Concentrações em ppm (p. 88).

Assim, apesar de serem conteúdos pertinentes ao tema, estes são apresentados sem estabelecer nenhum tipo de relação com o mesmo. Isto é, entendemos que a relação poderia ser obtida, por exemplo, através das atividades presentes no capítulo, já que os conceitos químicos não devem ser suprimidos, mesmo em abordagens mais inovadoras, mas adequados à situação de ensino. A questão é que nas atividades esse mesmo fato é marcante, uma vez que estas são direcionadas à fixação dos conteúdos químicos, exemplificados neste caso pela atividade experimental “Interações solvente-soluto” (p.76 e 77) e nos exercícios/questões de vestibulares.

Na obra, quando o conteúdo se relaciona ao tema, esta se deve ao fato do próprio conteúdo já estabelecer relação com a temática. Como por exemplo, na unidade 5 do volume 2, onde o tema central é lixo eletrônico e os conteúdos químicos desenvolvidos ao longo dela são referentes a Pilha e Eletrólise. As atividades, mais uma vez, seguem o mesmo padrão, sem estabelecer relação.

Vale ressaltar que não acreditamos que os conteúdos químicos devam ser suprimidos para dar lugar às abordagens temáticas isoladas. Ao contrário, entendemos o conteúdo químico como instrumento necessário para que o aluno possa entender e modificar seu meio social (LUFTI, 1992). Assim, contextualização, na esfera da problematização da realidade dos alunos, vai além de relacionar os conceitos com problemas sociais. Ou seja, o conteúdo químico é essencial neste processo.

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