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5 A VOZ DOS INTEGRANTES DO GRUNEC

QUADRO 2: CATEGORIA RAÇA E RACISMO NO CARIR

Respostas dos participantes à questão: Como você analisa as questões de raça e racismo no Cariri? Elas diferem do panorama nacional?

PARTICIPANTES RESPOSTAS

Dandara

Elas não diferem do panorama nacional. É bastante complicado aqui no Cariri, porque nós moramos em uma cidade absolutamente racista.

Aqualtune Não difere, e em alguns momentos eu acho que é até mais grave do que no resto do Brasil.

Zumbi dos Palmares Não diverge muito daquilo que acontece no Brasil. Agora aqui no Cariri, é o fato, da identidade e da presença negra ter sido negada por muito tempo.

Beatriz Nascimento

Eu acho que elas são reflexos de tudo que acontece a nível nacional, a diferença e a dificuldade no Cariri especificamente é porque

nós estamos inseridos num contexto estadual, onde a população negra é invisibilizada.

Ganga Zumba

De forma nenhuma, o racismo ele não tem cara de acordo com a sua regionalidade não.

Abdias do Nascimento

O racismo no Cariri é muito evidente tal qual como ocorre no Brasil, ele não diferencia muito porque tanto no Cariri, como no Nordeste, como no Brasil algumas pessoas não têm aquela noção histórica do que é e como a colonização brasileira se ocorreu.

João Cândido

Eu acredito que não. Se a gente olhar para o que acontece no Cariri inclusive a nível do Ceará, vai perceber que existe uma espécie de ideologia de que o estado do Ceará não tem negros, que no estado do Ceará o racismo não é tão presente. Fonte: Crédito direto ao autor

No que se refere a concepções sobre raça e racismo no Cariri, os informantes compreendem que não difere ao se reportar à realidade nacional, que não existem diferenças na forma como o racismo é encarado e como ele é praticado. A diferença no caso específico da Cariri cearense, é que por muito tempo a população negra foi invisibilizada. Mas quais são as concepções ou definições para esses dois termos? Como essa discussão não foi elencada nos capítulos teóricos desse estudo, foi pertinente trazer nesse momento, um levantamento para dissipar dúvidas sobre as questões de raça e racismo que os informantes da pesquisa respondem.

Como acentua Munanga (2003, p. 1) “o conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, que significa sorte, categoria, espécie.” Conforme o autor, essa terminologia foi primeiramente utilizada nas ciências naturais, para classificar as espécies dos animais e dos

vegetais. Nesta perspectiva o pesquisador Lineu, usou-o para classificar as plantas em inúmeras classes.

No entanto, como pondera Guimarães (2012), o primeiro registro em que se utilizou o termo raça, para designar a diversidade humana em espécies e denominá-la em grupos contrastados, foi do estudioso François Bernier. Assim, esse termo passou a atuar nas diferentes relações sociais. Munanga (2003, p. 1) pontua que o conceito de raça era utilizado nas ciências naturais em meados dos séculos XVI-XVII, e foi modificado “para legitimar as relações de dominação e de sujeição entre classes sociais (Nobreza e Plebe), sem que houvessem diferenças morfo-biológicas notáveis entre os indivíduos pertencentes a ambas as classes”. O que se destaca nesta afirmação, é que o critério de cor da pele, na época, não era o que sustentava os pensamentos de superioridade e sim, as questões sócio- econômicas. Conforme o autor, foi a partir do século XVIII que o fator – cor da pele – foi utilizado como requisito de diferenciação entre as raças e por isso, a diversidade humana ficou dividida em três raças: branca, negra e amarela.

Porém, no século XX com o progresso dos estudos voltados para genética humana, Munanga (2003) ressalta que os pesquisadores dessa área do saber, concluíram que biológica e cientificamente raças não existem, e que este conceito foi construído historicamente para legitimar a dominação das classes e tentar explicar a diversidade humana.

Concordando com Munanga (2003), cabe reconhecer que raças no plural não existem e que esse conceito foi e ainda é utilizado no imaginário social, para servir de hierarquização entre os sujeitos sociais, tratando de um aspecto ideológico. E é nesse contexto, que se justificam o uso desse conceito nos diferentes estudos, como uma categoria social, ora de dominação, ora de exclusão.

A pesar do conceito de raça não ter nenhuma evidência científica, o movimento negro se apropria do termo, como forma de autoafirmação política contra a violência racial sofrida pela população negra. Uma vez que, o termo raça surge no dia a dia, como um marcador social, para definir diferenças sociais, econômicas e culturais. E assim acontece com o movimento estudado, seus participantes se apropriam do termo para legitimar a identidade afrodescendente e atuar com questões mais específicas contra o racismo e toda forma de opressão.

A compreensão do conceito de raça é importante, ao revelar que o racismo se dá a partir de tal abordagem. Assim, segundo Santos (2000) o racismo é uma teoria que supõe a superioridade de certos grupos humanos sobre outros, em função de diferenças físicas, biológicas e psicológicas. Aprofundando mais essa observação, Munanga (2003, p. 8) afirma que

o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural. O racista cria a raça no sentido sociológico, ou seja, a raça no imaginário do racista não é exclusivamente um grupo definido pelos traços físicos.

A raça na cabeça dele é um grupo social com traços culturais, lingüísticos, religiosos, etc. que ele considera naturalmente inferiores ao grupo a qual ele pertence. De outro modo, o racismo é essa tendência que consiste em considerar que as características intelectuais e morais de um dado grupo, são conseqüências diretas de suas características físicas ou biológicas.

A citação acima reforça o caso brasileiro, em que o racismo na prática se dá de vários modos, no discurso religioso, na política, economia e na cultura. E na região do Cariri cearense, não é diferente, pois além de sofrer o racismo nas relações sociais, como aponta a informante Beatriz Nascimento “O principal problema/embate é se combater o

racismo aqui de um modo que nos percebam enquanto

negros e negras na região.” Ou seja, o que dificulta o debate

na região é justamente essa negação de que o negro existe, e conseqüentemente o racismo. Então, como combatê-lo?

Assim, apesar de reconhecer o impacto que o racismo e seus efeitos perversos atingem a sociedade, pôde-se perceber nas falas dos informantes, o entusiasmo e a garra de continuar na luta e no empreendimento de ações específicas contra o racismo, preconceito racial e toda forma de discriminação, sofrida pelos afrodescendentes.