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1. Ai! Que conta!

2. A Matemática é a coisa mais difícil que eu não consigo aprender. 3. Eu acho que estou com dor de cabeça de tanta Matemática. 4. Ai meu Deus! Me ajuda a aprender Matemática.

5. Tenho muita vontade de aprender Matemática.

6. Eu adoro Geografia, História e Ciências, mas a Matemática é muito difícil para mim. 7. Eu acho que um dia eu vou aprender.

Ao apresentar seu desenho Edilene revelou que atualmente não considera a Matemática ‘muito ruim’ agora ela compreende melhor. Mas, está estudando expressão numérica e acha muito chato e muito difícil. Tem conta de mais de vezes, tudo misturado, e eu não sei qual é que eu uso primeiro. Das outras disciplinas eu gosto, não sinto nenhuma dificuldade. Em virtude de sua experiência desastrosa, ela disse, muitas vezes, que detestava matemática, mas que, no presente, não mais a considerava “muito ruim”, embora esteja estudando ‘expressão numérica’ e ache isso muito chato e muito difícil. Tem conta de mais e de vezes, tudo misturado, e eu não sei qual é que eu faço primeiro.

Quando lhe perguntei qual era sua maior dificuldade em matemática ela me disse que são principalmente “as continhas”, assim falando: Eu lia bem, gostava de ler, mas tinha que fazer aquelas continhas e era muito ruim. Só falta eu aprender a divisão... depois que eu aprender a divisão, pronto! Tudo ficará mais fácil!

Fica evidente que essa aluna passou grande parte do tempo de sua vida tentando aprender “alguns algoritmos” que para ela não fizeram e ainda não fazem sentido algum. Mas, para os professores, esses elementos foram e são fundamentais para qualquer pessoa, qualquer aluno, por isso, a fizeram repetir tantas vezes sem que em nada mudassem suas práticas para que ela pudesse aprender.

Dona Firmina, a aluna que iniciou a escolarização aos 59 anos, manifestou sentir muita dificuldade para estudar matemática, assim dizendo:

Matemática até hoje eu não sei, eu faço uma confusão com os sinais! O ‘de mais’ [referindo-se ao sinal da adição] eu não compreendo... só o ‘de menos’ [subtração] que eu sei um pouco. Mas, por exemplo, não me pergunte esse aqui que eu não sei [escreve o sinal da multiplicação], e esse aqui piorou [sinal da divisão]. Eu pego um exemplo, tem 25 dividido por 3 e eu não dou conta de fazer essa divisão! Continuamos nosso diálogo discorrendo sobre a questão, adequando o problema para uma situação real. A questão era: Como ela faria para dividir vinte e cinco reais para três pessoas? Dona Firmina foi realizando decomposições e distribuindo o dinheiro em valores iguais para as três pessoas. Chegando ao fim sobrou um centavo e ela me perguntou: E agora como é que se divide esse valor em matemática se na vida real não se divide UM CENTAVO?

Nesse processo destaco dois aspectos: o primeiro é o fato de estar lidando com dinheiro, um aprendizado de seu cotidiano e que lhe faz mais sentido, portanto, nessa situação as dificuldades se dissipam. O segundo é marcado pela dicotomia que é feita entre o que é

estudado em sala de aula, com o que o aluno conhece no seu cotidiano. As dificuldades de D. Firmina e de Edilene, como também a de outros alunos que se manifestaram, referem-se às operações matemáticas, pela forma como são tratadas em sala de aula. As operações são abordadas sem que haja qualquer relação com situações reais e mais concretas, dificultando a compreensão dos algoritmos apresentados que são reduzidos, simplificados e abstratos, não fazendo sentido para os alunos.

Na minha prova de matemática tirei um e meio, sabe o que é isso? Eu fico triste

[com a feição entristecida], por que eu não consigo me lembrar de como ‘se faz’ os cálculos. Continua Dona Firmina, como se falasse consigo mesma: Sinto muita vontade de aprender e não consigo. Não sei multiplicar, somar... Preciso aprender isso. Diz que para isso precisaria praticar muito com uma pessoa que pudesse explicar bem para ela aprender. Sente dificuldade em aprender na sala de aula, uma vez que: o que é passado na lousa eu não entendo. Só faço copiar.

Essa situação é merecedora de atenção por parte dos professores, pois corremos o risco de contribuir para que os alunos percam – ainda mais - a autoconfiança, uma vez que essa se encontra fragilizada e o que os fazem permanecer na escola é somente a força de vontade de concluir os estudos. Essa é uma grande motivação intrínseca que os move para a continuação dos estudos. Dona Firmina demonstrou que sabe resolver problemas matemáticos e faz as operações de um problema real, mas não consegue desenvolver o que lhe é apresentado em sala por ser “abstrato”, não ser, para ela, real.

Para Fátima, de 29 anos, está sendo muito difícil estudar matemática. Percebi que ela ainda não se apropriou dos procedimentos matemáticos, nem mesmo para se desvencilhar das situações do seu cotidiano. Ela me disse assim:

Para mim a matemática é a disciplina mais difícil. Por causa das contas. O dia de prova de matemática é o pior pra mim. São as contas. Eu estudo muito, mas, quando chega na hora eu esqueço tudo. A professora explica como é para fazer, mas quando chega na hora, no dia da prova, eu esqueço tudo! Agora, com as outras matérias eu não tenho dificuldades... é mais só com a matemática.

Sandro é um jovem para quem a matemática acabou impedindo que ele estivesse, no presente, estudando na 2ª série do Ensino Médio. Assim disse ele:

Isso se deu não por falta de interesse, foi mais por causa dos professores... Na época, [referindo-se ao período em que cursava a 1ª série e quando então foi reprovado], tinha uma professora que quando o aluno não sabia dar uma resposta

à pergunta dela, ela vinha e dava um “cascudo” na cabeça. Até a minha mãe foi lá no colégio, por causa disso. Não era só em mim que ela batia, mas também em todos os outros alunos. Esse medo de errar me atrapalhou, eu não conseguia aprender, só ficava pensando se ia apanhar... Hoje perdi um pouco mais o medo de errar, porque quando erro meus pais compreendem. Errar é humano.

A violência física que Sandro sofreu em sala de aula por parte da professora fez com que ele, certamente, ficasse bloqueado em relação ao aprendizado de matemática. Como na situação escolar inicial, ele pôde contar com a mãe que intercedeu a seu favor, passou a ter os pais como referência de proteção e tem menos medo de errar. No entanto, essas marcas ainda lhe causam dificuldade para enfrentar os erros que comete em matemática. Sente-se ainda constrangido, pois, inicialmente, me disse que fora reprovado “por não ter feito o pré- escolar”, mas, na continuidade de nossa conversa ele acabou revelando a violência que sofrera nas primeiras séries. Uma marca que lhe acompanha e ainda incomoda muito.

Josiel me disse que gosta de geografia, de português e de história, mas não gosta de matemática nem de física. Disse não gostar de matemática, porque matemática é uma coisa que a gente tem que usar bastante a memória. Estar fazendo contas é uma coisa que mexe muito com a memória da gente. Refere-se à dificuldade de compreensão em relação às abstrações que a matemática apresenta. Não se queixa dos professores de matemática e resguarda para si essa dificuldade sentida, diz que eles estão lá para ensinar, se a gente não aprende é por falta de “ética” (sic) da gente. Usa o termo ética para se referir à falta de compreensão e de postura adequada dos alunos. Segundo ele, os alunos são os únicos responsáveis pela dificuldade em aprender.

Apesar das lembranças muitas vezes desagradáveis em relação às experiências anteriores que tiveram estudando matemática, os alunos, de modo geral, dizem querer aprender matemática de um modo mais fácil, vencendo as dificuldades que sentiram e ainda sentem. Dizem que gostariam de estudar uma matemática mais atual, como falou Luciano no grupo focal. Marcos, de 22 anos, trabalha em uma vidraçaria e manifestou que precisa aprender mais sobre medidas de área para não errar as contas no trabalho. Isto principalmente em razão de – por política da firma - qualquer erro que cometa reverte para ele, como, por exemplo, ter que assumir as despesas de um vidro que tenha sido cortado com medidas diferentes das demandadas. Ele diz que o cliente não perdoa, não quer nem saber se errei ou não e o patrão não quer levar prejuízo, sobra para mim.

O aluno Matos, de 36 anos, revelou que gosta de matemática e que para ele a matemática é muito importante em virtude de necessitar muito dessa disciplina para desempenhar seu trabalho. Ele trabalha com a instalação e a manutenção de aparelhos de refrigeração, por isso, precisa calcular as dimensões dos espaços para definir de modo correto a capacidade do aparelho que deverá ser instalado. Diz que para isso sabe muita matemática, física e química, mesmo que não tenha completado oficialmente os estudos. Tudo isso faz parte do meu trabalho, aprendi muito.

Desenho 6: Natureza – ‘Matemática é uma disciplina como outra disciplina. Eu até gosto de estudar