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Consciência fonémica

3.2. Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (QECR)

Ao longo dos anos, a União Europeia tem mantido um alargamento significativo e acolhe europeus com origens étnicas, culturais e linguísticas diversas. Por tal facto, será mais importante do que nunca que os cidadãos possuam as competências necessárias para entender e comunicar com os seus vizinhos.

Com vista a uma uniformização de níveis de proficiência22, ao nível de toda a Europa, começou a considerar-se, em 1991, na Suíça, no Simpósio do Conselho da Europa sobre a “Transparência e Coerência na Aprendizagem das Línguas, Objetivos, Avaliação e Certificação”, a criação de um instrumento que fosse universal e orientador para os utilizadores, professores, investigadores, autores de materiais didáticos e decisores políticos.

Glória Fischer (1998) define o Conselho da Europa como sendo “uma organização intergovernamental com sede em Estrasburgo que tem como principal objetivo promover e garantir a dignidade dos cidadãos e o respeito pelos seus valores fundamentais, que são a Democracia e os direitos humanos e, neste sentido, chamar a atenção para a diversidade e a identidade cultural e promover o entendimento entre os povos”. Depois de vários pareceres favoráveis sobre a matéria em apreço, os países participantes (entre os quais Portugal) conceberam o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (QECR), após vários anos de estudos. O QECR surgiu, assim, em 2001, pelas mãos do Conselho da Europa, juntamente com o Portfólio Europeu de Línguas (PEL) e o Europass.

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Para os alunos que frequentam o 2º e o 3º ciclo existe, ainda, uma avaliação externa e nacional, ou não, no final de cada ciclo 22

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No que concerne ao QECR, Tavares (2006:9) refere que este é um instrumento que está subjacente ao ensino de uma língua estrangeira e que propõe de modo sistematizado uma educação intercultural23 em igualdade plena, passando por uma aquisição plurilinguística24 e pluricultural25, atendendo às especificidades de cada sujeito.

Por seu lado, Grosso (2004:35) profere que o QERC:

“é um documento não-dogmático, cuja proposta reflete uma abordagem multi e interdisciplinar onde convergem modelos de aquisição/aprendizagem de línguas, de comunicação em línguas e de avaliação, um documento aberto e flexível em que são previsíveis metodologias de diferentes tradições educativas.”

De acordo com o próprio QERC, este documento é uma abordagem sem compromissos com qualquer tipo de teoria de aquisição/aprendizagem da língua ou mesmo teoria de comunicação. Trata-se de um documento claro e acessível, tem o intuito de eliminar barreiras de comunicação e pretende “fornecer uma base comum para a elaboração de programas de línguas, orientação para currículos, exames, manuais, entre outros, em toda a Europa.”26 O mesmo documento é visto como sendo um resumo das competências a adquirir e promover:

 a cooperação e informação entre os vários países e as chamadas línguas estrangeiras;

 a criação de uma base sólida para o reconhecimento dos diplomas/qualificações passadas;

 ajuda entre os vários intervenientes do ensino;

 a reflexão sobre as práticas e os esforços transnacionais.

Segundo Fischer (2002:20), está dividido em nove capítulos que expõem os seguintes aspetos:

“[c]ontexto político e educacional [ou seja as finalidades ou objetivos e funções do mesmo];

[n]íveis [comuns] de referência;

[u]tilização de língua e utilizador de língua;

[e]nsino e aprendizagem de línguas [ou melhor apresenta as escalas das

competências];

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Educação entre discentes de culturas distintas, mas que estão envolvidas nesse ato educativo. 24

Refere-se a aquisição de mais do que uma língua e distingue-se de multilinguismo que se refere à coexistência de duas ou mais línguas oficiais numa determinada comunidade (por exemplo, Portugal tem duas línguas oficiais desde 1999 – o Português e o Mirandês).

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Refere-se à aquisição de mais do que uma cultura. 26

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[a] função das tarefas no ensino e aprendizagem de línguas;

[d]iversificação linguística e currículo

[a]valiação.”

No entanto, no Projeto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa (PDLEP) é apresentado um aspeto menos positivo do Quadro, que passamos a transcrever:

“Na verdade, ao pretender servir de referência genérica para todos os universos de aprendentes, em qualquer tipo de situação de aprendizagem, o QECR tem necessariamente de se basear numa abstração da figura do aprendente e, por consequência, de tudo o que diga respeito às questões da aprendizagem ou aquisição de língua. Este posicionamento parece algo contraditório, especialmente quando [se] enquadr[a] numa perspetiva comunicacional

orientada para a ação, do uso das línguas, onde a tipologia de ações de comunicação em que os sujeitos participam surge como fundamental. […] a meu ver, decorre daqui um défice de alcance instrumental para o QECR como instrumento de planificação de currículos e de construção de instrumentos de avaliação que contraria os usos previstos para o QECR.” (PDLEP, 200:4-5)

Na nossa opinião, o QECR é um instrumento que pretende simplificar, o mais possível, a tarefa do professor no que diz respeito ao enquadramento do aluno num determinado patamar da aprendizagem ou de competências, dando diretrizes e pistas sobre a forma de desenvolver a sua proficiência. Chama a atenção para fatores, que vão dos pessoais, motivadores ou culturais que levam o aluno a aprender uma determinada língua. Pode ser considerado um documento orientador ou um ponto de partida comum para o ensino de línguas, no sentido de delinear ou sistematizar possíveis conteúdos programáticos. O seu problema é que, de facto, por mais que tente chegar a todos os aprendentes, ele não o consegue, pois parte da probabilidade de um indivíduo de referência que na, maioria das vezes, não existe. Daí ser necessário ter o cuidado de o usar, sempre como instrumento passível de reflexão ou modificação que se adeque a cada caso.

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