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J6 C1 Intertextos Tipo Página

1 “Está na ementa: ‘Racismo.

Edição e venda de livros fazendo

apologia de idéias

preconceituosas e

discriminatórias. Art. 20 da Lei nº 7.716/89 (redação dada pela Lei nº 8.081/90). (...).’.”

Legal 86

2 “Leio na ementa: ‘(...) I. O habeas corpus é meio impróprio para o

reexame dos termos da

condenação do paciente, através da análise do delito – se o mesmo configuraria prática de racismo ou caracterizada outro tipo de prática discriminatória, (...). II. Não há ilegalidade na decisão que ressalta a condenação do paciente por delito contra a comunidade judaica, não se podendo abstrair o racismo de tal

comportamento, (...). III. Tais condutas caracterizam crime formal, de mera conduta, não se exigindo a realização do resultado material para a sua configuração. IV. Inexistindo ilegalidade na individualização da conduta imputada ao paciente, não há por

que ser afastada a

imprescritibilidade do crime pelo qual foi condenado. (...)’.”

3 2. Voto do Relator. Em 12 de

dezembro de 2002, teve início o julgamento pelo Plenário. Na ocasião, o Relator votou no sentido de deferir o habeas para declarar a extinção da punibilidade do paciente pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. Está no voto: ‘(...) 1 (...) ... a impetração não se

insurge contra a condenação por crime de discriminação ou preconceito, (...). 2. Assim, a

questão que se coloca neste

habeas corpus é a de se

determinar o sentido e o alcance da expressão racismo, (...). 3. Embora entre antropólogos , no decorrer dos tempos, tenha havido divergência sobre a conceituação de raça, (...). 4.

Considerado, assim, em

interpretação restrita, o crime de racismo, a que se refere o art. 5º, XLII, da Constituição, (...). 5. Não sendo, pois, os judeus uma raça, não se pode qualificar o crime por discriminação pelo qual foi condenado o ora paciente (...). 6. Em face do exposto, defiro o presente habeas corpus para

declarar a extinção da

punibilidade do ora paciente pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva.’.”

4 “Nessa oportunidade o Ministro Maurício Corrêa antecipou-se na

ordem de votação e, após discorrer sobre a evolução histórica do povo judeu, pediu vista. (...). Leio em seu Voto: ‘9.

(...). 10. (...). 11. (...). 12. (...). 13. (...). 14. (...). 15. (...). 16. (...). 17. (...). 18. (...). 19. (...). 20. (...). 21. (...). 22. (...). 23. (...). 24. (...). 25. (...). 26. (...). 27. (...). 28. (...). 29. (...). 30. (...). 31. (...). 32. (...). 33. (...). 34. (...). 35. (...). 36. (...). 37. (...). 38. (...). 39 (...). 40. (...). 41. (...). 42. (...). 43. (...). 44. (...). 45. (...). 46. (...). 47. (...). 48. (...). 49. (...). 50. (...). 51. (...). 52. (...). 53. (...). 54. (...). 55. (...). 56. (...). 57. (...). 58. (...). 59. (...). 60. (...). 61. (...). 62. (...). 63. (...). 64. (...). 65. (...). 66. (...). 67. (...). 68. (...). 69. (...). 70. (...). 71. (...). 72. (...). 73. (...). 74. (...). 75. (...). 76. (...). 77. (...). 78. (...). 79. (...). 80. (...). 81. (...). 82. (...). 83. (...). 84. (...). 85. (...). 86. (...).

87. (...). 88. (...). 89. (...). 90. (...). 91. (...). 92. (...). 93. (...). 94. (...). 95. (...). 96. (...). 97. (...). 98. (...).’. “

5 “Após esse voto pediu vista o Ministro Gilmar Mendes. (...). Está no voto: ‘(...) ... a noção de

racismo – ao contrário do que equivocadamente sustentado na impetração – não se resume a um conceito de ordem estritamente antropológica ou biológica, (...).

Jurisprudencial 109

6 “3. Voto. A raiz da controvérsia está em reconhecer ou não a condição de imprescritibilidade para o delito de discriminação contra os judeus. Analiso. Para dirimir essa controvérsia, é importante que se faça, ainda que de forma sumária, a recuperação da origem histórica do judaísmo. (...). O Ministro Maurício Corrêa, na oportunidade em que pediu vista, procedeu a essa retomada

histórica. Leio: ‘(...) 2. Não há dúvida de que os judeus não se constituem em uma raça, (...). 3. Formulo, apenas para agitar o debate, a seguinte passagem bíblica: (...). 4. Aí começa, verdadeiramente, a saga dos judeus, (...). 5. Mais adiante,

depararemos com situação

curiosa: que era Dalila? (...). 6.

Essa é a saga trágica de um povo existente desde aquela época. (...). 7. O êxodo do Egito para a Terra Prometida é outra saga maravilhosa. (...). 8. (...). 9. (...). 10. (...). 11. (...). 12. (...). 13. (...). 14. (...). 15. (...). 16. (...). 17. (...). 18. (...).

7 “Em tempos modernos, o Rabino Henry I. Sobel definiu os judeus como um povo. Leio: ‘(...)... As aspirações universais do Judaísmo (...).”

Outras fontes 114

Rattner. Leio: ‘(...) ... a definição mais apropriada para o povo judeu... (...).”

9 “Digo eu: Sendo os judeus um povo e não uma raça... (...). Miguel Reale em seu parecer afirma: ‘(...) A história contemporânea (...)’”.

Técnico-jurídico 115

10 “Com a mesma orientação Izidoro Blikstein: ‘(...) no discurso nazista, o termo ariano designa ‘raça superior’, por oposição ao termo semita, que designa ‘raça inferior’. (...).”

Doutrinário 115

11 “Nesse sentido, leio síntese conclusiva do Professor Celso Lafer. Leio: ‘(...) IX – Síntese conclusiva. Respondo, assim, à consulta formulada: o crime cometido por Siegfried Ellwanger é o da prática do racismo (...).”

3.7.1 Análise dos intertextos

Os intertextos classificados nesse voto são: 06 “jurisprudenciais”; 02 intertextos “técnico-jurídicos”; 01 “doutrinário”; e 02 classificados como “outras fontes”. No total, 11 intertextos.

No tocante aos intertextos jurisprudenciais, percebe-se que os mesmos foram empregados como referência expressa a posicionamentos anteriormente defendidos por outros membros da Corte. Percebe-se que ao julgador interessou transcrever ipsis literis longos trechos desses votos, o que resultou na reapresentação das mesmas razões já expendidas. Sequer tais intertextos foram submetidos à refutação pelo julgador. Ademais, saliente-se, é possível que o emprego desse recurso tenha sido motivado como modo de rememoração dos temas já abordados, ou, ainda, possa ser analisado como expressão de desinteresse – do julgador – em desenvolver pesquisa acurada sobre a temática. Logo, pode-se concluir tratar-se de caso em que as razões dos demais julgadores foram explicitamente incorporadas ao voto em análise, de tal sorte que passaram a constituir o próprio entendimento do julgador em apreço (J6).

Merece destaque, também, o interesse do julgador em discutir a prática de discriminação contra o povo judeu recorrendo à rememoração de fatos atribuídos à sua trajetória histórica. Embora se apresente como narrativa que vise à circunstanciação de eventos à história judaica, duas observações merecem atenção: a primeira, no que toca à incorporação no texto decisório de narrativa de cunho bíblico, destituída de caráter histórico efetivamente

comprovado; e, a segunda, como resultado, a adoção dessas narrativas como “verdades” acerca do povo judeu. Dessa forma, ao recorrer à trajetória judaica, o julgador parece colocar o povo judeu como centro da discussão em face das perseguições sofridas, em detrimento da pessoa do paciente, este, sim, sujeito cuja conduta encontra-se efetivamente em julgamento.

Os intertextos extraídos de citações dos pareceristas apenas reiteram as razões já apresentadas, mediante o reconhecimento acerca da conduta delituosa do paciente Siegfried Ellwanger.