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1. METODOLOGIA

A pesquisa na área de música apresenta particularidades. Como bem nos apresenta Freire (2010), a prática musical é uma atividade estética, uma forma de expressão poética, portanto intrinsecamente criativa. A pesquisa, declara a autora, é uma atividade de investigação científica destinada a gerar conhecimento novo, inclusive na área de música, a partir da interação entre a prática musical e a reflexão teórica. A pesquisa sobre música não é uma atividade estética mas sim uma atividade científica (ainda que debruçada sobre um objeto de natureza estética: a música), seja ela de natureza predominantemente teórica ou metodológica, seja mais voltada para a dimensão prática ou empírica.

O rumo da pesquisa em música vem se multiplicando nas últimas décadas.Assim, o setor de etnomusicologia, por exemplo, cresceu significativamente projetando a cultura brasileira e a musicologia se expandiu com inúmeras publicações sobre a música brasileira incorporados à musicologia histórica.

Destacamos que os músicos que se dedicam preferencialmente à performance não encontram respaldos na etnomusicologia e na musicologia , para esclarecimento de suas específicas indagações. Mas temos conhecimento de que no início do século XX, esta distância entre os setores com a pesquisa diminuiu oportunizando então um diálogo mais construtivo entre o conjunto de ideias científicas e estéticas.

Observamos que o progresso da pesquisa em música nas últimas décadas, como nos declara Freire e Cavazotti (2007, p. 9)possibilitou abraçarmos em um tratamento científico, a subjetividade da música e da interpretação musical, valorizando sua natureza essencialmente estética. Afirmam ainda que “a concepção de pesquisa , segundo as diversas linhas de abordagem é divergente, o que talvez explique porque o relacionamento entre música e pesquisa tem gerado frequentemente posicionamentos conflitantes”.

Acreditamos que a pesquisa aplicada à música poderá proporcionar oportunidades expressivas para surgirem novos conhecimentos uma vez que os meios utilizados para a pesquisa científica podem, realmente , contribuir para a evolução da realização musical.

Freire (2010) acrescenta ainda que nenhuma expressão artística pode ser avaliada ou validada pela pesquisa uma vez que a arte se legitima por diferentes caminhos e lógicas.

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Porém, a pesquisa pode promover uma reflexão a respeito da arte e suas práticas. Peloe que “o retorno dessas reflexões construídas pelas pesquisas sobre música ao fazer artístico certamente pode contribuir para uma transformação qualitativa do artista e de suas práticas” (FREIRE, 2010, p. 10).

Ressaltamos que, concordamos com Freire (2010) quando anuncia que a relação que se estabelece entre músicos e música abre as portas, em muitos casos, à abordagem subjetiva. A flexibilidade e aberturas que a pesquisa qualitativa permite, são propíciasa indagações sobre a música e ao desenvolvimento de pesquisa sobre ela assim como sobre as práticas que a envolvem, em virtude da natureza estética e da dimensão humana envolvidas.

1.1. Natureza do Estudo

Segundo Flick (2009) o que realemente conduz a uma abordagem objetivista é basicamentediferenciada dos interesses que assistem a uma abordagem predominantemente subjetivista, cujas respostas não dependem, forçosamente, de uma padronização ou de uma quantificação.

Para Erasmie e Lima (1989) colocar questões é uma arte cuja clareza é a base para a investigação. Questões essas e ideias sobre observações realizadas dependem amplamente das hipóteses ou da teoria que poderá trazerinterrogações várias.

Já, Freire e Cavazotti (2007, p. 14), comunicam que “conhecimento são formas de ler o mundo e de interpretá-lo, e isso se aplica tanto ao conhecimento estético, via arte, quanto ao conhecimento científico, ou àqueles resultantes do senso comum”.

Um pesquisador pode interessar-se por áreas já exploradas, que podem ser igualmente importantes, segundo Gil (2002), com o objetivo de determinar com maior especificidade as condições em que certos fenômenos ocorrem ou são influenciadas por outros. Por outro lado, Chevrier (2003) declara que a investigação precisa apresentar uma questão cuja resposta será devidamente articulada com um problema.

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A obtenção de informações prestadas por um depoente através de questionário fechado cujas perguntas possibilitam uma resposta mais objetiva e delimitada, poderá enriquecer significativamente a pesquisa em música.Certamente a coleta de dados oferecerá condições para se estabelecer tratamento estatístico assim como o traçado quantitativo de características.

Neste estudo, valorizamos o depoimento de variados intérpretes, professores e alunos tendo em vista comparações não valorativas entre elas nos oferecendo distintas alumiações sobre o tema da pesquisa além de possivelmente trazer novas formas de percepção sobre o assunto. As perguntas abertas, o nosso questionário de opiniões, têm por objetivo justamente o oposto, ou seja, desviar, ao máximo, o indício antecipado de prováveis respostas.

Para Freire e Cavazotti (2007, p. 35) as pesquisas na área de música, o que abrange todas as diferentes subáreas, certamente têm muito a ganhar com as múltiplas possibilidades advindas dos depoimentos de diferentes sujeitos. Cabe-nos destacar que abordagens qualitativas e quantitativas não são inevitavelmente antagônicas podendo contribuir reciprocamente para o enriquecimento de conhecimentos durante a pesquisa assim como para os resultados e conclusão.

Considerando hipótese uma possibilidade a ser confirmada, ou seja, uma alusão de resposta ao problema, tenta responder temporariamente os objetivos estando sujeito à pesquisa atenta resultante da investigação.

1.2. Tipo de Estudo

O estudo que apresentamos é analítico, pois procedemos à descrição de variáveis e estabelecemos relações entre estas, com o intuito de estabelecer relações de causalidade entre as variáveis independentes e a variável dependente em estudo. Também o podemos definir segundo Fink (2002) como transversal e de abordagem mista com um enfoque superior na dimensão quantitativa. Transversal, uma vez que se procedeu a um momento de recolha de dados e nos permitiu caracterizar a amostra estabelecendo relação entre variáveis.

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De abordagem quantitativa, uma vez que quantificamos as informações e opiniões recolhidas para podermos analisar as hipóteses definidas e qualitativa porque se pretende compreender de modo absoluto e amplo o fenômeno em estudo, através da observação, descrição, interpretação e apreciação do discurso dos sujeitos.

A revisão de literatura apresentada nessa pesquisa trouxe a descrição dos principais tópicos sobre dados neurobiológicos e seus desdobramentos para melhor esclarecimento sobre a relevância dos aspectos cognitivos na integração corpo-mente-instrumento na arte musical.

A revisão da literatura é uma parte vital do processo de investigação porque envolve localizar, analisar, sintetizar e interpretar a investigação prévia relacionada com a sua área de estudo; é, então, uma análise bibliográfica pormenorizada, referente aos trabalhos já publicados sobre o tema. A revisão da literatura foi indispensável não somente para definir bem o problema, mas também para obtenção de uma ideia precisa sobre o estado atual dos conhecimentos, as suas lacunas e a contribuição da investigação para o desenvolvimento do conhecimento. Como nos informam Cardoso et al (2010, p. 7) “cada investigador analisa minuciosamente os trabalhos dos investigadores que o precederam e, só então, compreendido o testemunho que lhe foi confiado, parte equipado para a sua própria aventura”. Devido à constante evolução dos conhecimentos, deve-se começar por rever os trabalhos mais recentes primeiro e recuar no tempo.

Assim, a metodologia deste estudo conta com a análise e discussão do resultado estatístico dos questionários aplicados utilizando a escala Likert, em conjunto com a abordagem qualitativa através do questionário de opiniões, ambos referentes na avaliação da percepção por profissionais, acadêmicos e estudantes de música no Brasil.

1.2.1. Desenho da pesquisa

Nosso intuito é confirmar ou não as hipóteses que embasaram as perguntas sob a ótica dos profissionais concertistas, professores, alunos de música no Brasil respondendo a problemática proposta atingindo assim nosso objetivo da pesquisa. Cada uma das hipóteses responde a diferentes objetivos específicos da investigação.

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Para Lakatos e Marconi (2001) a hipótese constitui-se como uma suposição provável ou provisória para responder a um problema, podendo ser verificada através da pesquisa. Desta forma a hipótese busca responder provisoriamente a um problema formulado pelo pesquisador sobre um tema.

Assim sendo a formulação do problema é a seguinte:

Qual a percepção dos músicos a respeito da relação entre os processos cognitivos, motivacionais e emocionais integrados corporalmente e a construção e resultado da performance musical?

E de acordo com o enunciado apresentado, definimos a hipótese geral do nosso estudo:

Encontra-se presente na percepção dos músicos desde a sua formação a ideia de que a performance musical é otimizada pela integração do corpo-mente-instrumento . Como a hipótese é uma sugestão de resposta para o problema e deve tentar responder provisoriamente aos objetivos deste estudo, estando suscetíveis de escrutínio empírico, apresentamos os nossos objetivos:

 Objetivo geral: Avaliar as percepções dos músicos sobre o papel do corpo na execução musical

 Os objetivos específicos:mapear na literatura os estudos neurocientíficos que abordam os processos da cognição musical; identificar a percepção da relevância destes aspectos sob a ótica de profissionais, acadêmicos e estudantes de música no Brasil;verificar a importância dos aspectos cognitivos sobre a integração corpo-mente-instrumento para a formação de músicos concertistas e professores e avaliar o papel da linguagem corporal no processo de interpretação musical.

Assim definimos as variáveis com clareza e objetividade e de forma operacional, para impedir comprometimento ou risco de invalidar a pesquisa. Tal como se refere Lakatos e Marconi (2001, p. 43) “um estudo deve ter variáveis independentes e dependentes”.

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As variáveis utilizadas neste estudo são classificadas de variáveis dependentes e independentes.

As variáveis são aspectos, propriedades, características individuais ou fatores observáveis ou mensuráveis de um fenômeno.Em estudos experimentais, o pesquisador assume hipoteticamente a possibilidade de uma variável ter uma relação assimétrica com outra variável. Isso quer dizer que um fato ou fenômeno é fator de causa para outro fenômeno. Nesses casos, chama-se variável independente a variável considerada causa de um efeito e variável dependente a variável considerada efeito de uma causa.

Definimos como variável dependente: A performance musical,cujo comportamento se quer verificar em função das oscilações das variáveis independentes, ou seja, correspondem àquilo que se deseja prever e/ou obter como resultado.

E consideramos as seguintes variáveis independentes:processos cognitivos, motivacionais e emocionais, integração do corpo, instrumento e mente porque suas influências determinam ou afetam a variável dependente, é assim o fator determinante, condição ou causa para determinado resultado, efeito ou consequência.

No quadro seguinte apresentamos a relação entre a problemática, as hipóteses e os objetivos propostos na justificação desta investigação

Problema: Qual a percepção dos músicos a respeito da relação entre os processos cognitivos, motivacionais e emocionais integrados corporalmente e a construção e resultado da performance musical?

Hipótese geral: Encontra-se presente na percepção dos músicos desde a sua formação a ideia de que a performance musical é otimizada pela integração do corpo-mente-instrumento.

Objetivo geral:Avaliar as percepções dos músicos sobre o papel do corpo na execução musical Hipóteses específicas Objetivos específicos A integração corpórea na arte musical é importante

para músicos.

A atitude do músico estabelece a comunicação com a plateia.

Mapear na literatura os estudos neurocientíficos que abordam os processos da cognição musical.

Identificar a percepção da relevância destes aspectos sob a ótica de profissionais, acadêmicos e estudantes de música no Brasil.

185 A integração corpórea na performance musical depende da imaginação e percepções.

A performance musical é subordinada ao desenvolvimento da percepção e intelecção da obra musical.

Atividades infantis como coral e banda estimulam o desenvolvimento da coordenação motora em interface com o desenvolvimento musical.

Mapear na literatura os estudos neurocientíficos que abordam os processos da cognição musical.

Verificar a importância dos aspectos cognitivos sobre a integração corpo- mente-instrumento para a formação de músicos concertistas e professores.

A participação do corpo durante a performance musical é um importante recurso do músico para o controle emocional no palco.

A participação do corpo na performance musical deverá promover a união dos elementos corpo- mente-instrumento.

Uma coordenação motora diferenciada é condição essencial para músicos.

A expressão facial é importante para a performance musical.

Os movimentos corporais são componentes importantes para a performance musical.

Mapear na literatura os estudos neurocientíficos que abordam os processos da cognição musical.

Avaliar o papel da linguagem corporal no processo de interpretação musical.

Quadro 5- Problema –Hipóteses e Objetivos

1.2.1.1. Amostra

Composta por brasileiros estudantes universitários de música e profissionais da área de música atuantes no magistério, na área artística e na área de pesquisa.

1.2.1.2. População Estudantes universitários

 Discentes da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 18 e 30 anos num total de 500 discentes, aproximadamente, dos

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Profissionais:

 Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma Universidade de referência nacional e internacional num total de 92 professores alocados na Escola de Música, que ministram disciplinas da área de música.

 Artistas e pesquisadores de todo o Brasil membros vinculados à

Associação Brasileira de Performance Musical–ABRAPEM

(www.abrapem.org ) num total de 147 associados. Esta entidade é

significativamente representativa para o meu trabalho cujo foco principal é a performance musical.

1.3. Instrumento de Análise

Um dos instrumentos mais utilizados e mais importantes nas pesquisas é sem dúvida o inquérito por questionário, que pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número maior ou menor de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc” (GIL, 1995, p. 124).

De acordo com Tuckman (2000) os questionários são um instrumento poderoso de investigação em educação na medida em que permitem transformar em dados a informação diretamente comunicada por um sujeito.

O tipo de instrumento utilizado na recolha de dados foi um questionário fechado composto por trinta campos do formulário, tendo sido selecionado o modelo de escala de graduação Likert, com campos de marcação organizados a partir de cincoopções graduadas. Este modelo viabiliza a determinação do percentual de resposta positivas, neutras e negativas, sendo que por positivas são entendidas as respostas “ concordo totalmente” e “concordo parcialmente”; neutras a resposta indiferente e negativas as respostas “discordo parcialmente” e “discordo totalmente”.

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Diante do resultado obtido na aplicação do questionário fechado,constatamos que as marcações para as opções “concordo parcialmente” e “discordo parcialmente” alcançaram uma porcetagem inexpressiva,razão pela qual foi decido trabalhar os resultados contemplando três das cinco gradações apresentadas aos respondentes.

Na formulação inicial fizemos cem afirmativas sendo dez para cada hipótese e dessas, oito eram afirmativas positivas e duas negativas. Todas as afirmativas do questionário fechado foram validadas com índice de coerência com as hipóteses a partir de setenta e cinco por cento. Independente da concordância ou não com as afirmativas, o voluntário foi orientado a não concordar ou discordar com o teor das afirmativas e sim com a coerência em relação às hipóteses.

As afirmativas escolhidas na validação do questionário representam alta coerência diante de uma população participativa de 58 sujeitos nesta fase da pesquisa cuja a faixa etária de ambos os sexos era de idades entre 18 e 47 anos de idade, entre universitários e profissionais liberais das áreas humana e biomédica.

O questionário de opiniões, estruturado por dez questões baseadas nas hipóteses, permitirá recolher variadas informações representativas da opinião do inquirido que poderá expressar sua originalidade e liberdade de pensamento ao elaborar as respostas.

1.3.1.A Validação do Questionário

Em relação à validade, num sentido geral, podemos dizer que um instrumento é válido se medir o que se supõe medir. De acordo com Morales (1988, p. 273), a validade consiste em “captar de forma significativa e com um grau de precisão suficiente e satisfatório o que é objeto de investigação. Ou seja, o nosso questionário é válido se os dados obtidos com ele se ajustam à realidade sem distorcer os factos”.

No que concerne à validação do questionário, partimos da concepção de Almeida e Freire (2000, p. 29), que aconselha “a consulta de especialistas ou profissionais com prática no domínio”, do conteúdo dos questionários com a finalidade de verificar se a informação será bem recolhida, se falta informação, etc.

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Para a validação do questionário foi pedido a dois especialistas, um investigador na área da Música e outro investigador na área da Neurociência, que analisassem a primeira versão.

Os investigadores na análise escrita que enviaram apresentaram sugestões e recomendações, considerando no geral um questionário bem organizado. Um dos comentários feitos no final por um dos investigadores foi “Considero o questionário bem elaborado e exaustivo”.

1.3.2.Tratamento de Dados

Neste estudo não podemos limitar-nos a organizar e descrever os dados recolhidos através da aplicação dos diferentes instrumentos de recolha de dados. Torna-se necessário concretizar diversos procedimentos, recorrendo a técnicas específicas para efetuar o tratamento e a análise dos dados obtidos.

De acordo com Quivy (2003), a maior parte dos métodos usados na análise das informações assenta numa estatística de dados e na análise de conteúdo.

Para o tratamento dos dados do questionário procedemos à análise de frequências e a análises estatísticas.

Para analisar os dados recolhidos do questionário utilizou-se os softwaresSPSS55

(Statistical Package for the Social Sciences), especificamente SPSS 22.0, Minitab 16 e Excel Office 2010.

No segundo momento, em que a investigação é de tipo qualitativo, na análise do materialprivilegiou-se a técnica de análise de conteúdo (SILVA, GOBBI & SIMÃO, 2005; BARDIN, 2009).Esse processo metodológico de pesquisa visa obter, por procedimentos sistemáticos, conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens.

55O SPSS é um software aplicativo do tipo científico que teve a sua primeira versão em 1968, sendo hoje um

dos programas de análise estatística mais usados nas ciências sociais devido à sua versatilidade. Este software pode ser utilizado para executar análises estatísticas que vão desde simples estatísticas descritivas até métodos avançados de inferência estatística, dispõe de ferramentas para manipulação de dados (recodificação e criação de novas variáveis), procedimentos para combinar diferentes bancos de dados, bem como diversas formas de resumir e apresentar dados em tabelas e gráficos.

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