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QUAL A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA?

II. GEOGRAFIA – DISCIPLINA PROMOTORA DE CIDADANIA 2.1 Educação Ambiental e Cidadania

2.2. Geografia – uma disciplina promotora de cidadania

2.2.2. QUAL A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA?

A cidadania tem áreas privilegiadas de actuação, como é o caso da área curricular não disciplinar de Formação Cívica. Contudo, a disciplina de Geografia, entre as várias áreas de especialização, apresenta alguns aspectos relevantes para a promoção da educação para a cidadania.

Segundo Reis (2000), a Geografia, pela natureza das finalidades que persegue e dos temas que aborda, desempenhou sempre um papel relevante no domínio da educação para a cidadania. Evidencia-se o contributo da disciplina de Geografia na formação de alunos, nomeadamente no

que concerne ao conhecimento e apropriação do espaço geográfico a diferentes escalas, na transmissão de valores de identidade nacional, no confronto de civilizações e culturas e na identificação de relações de interdependência aos níveis social, político e económico.

Os programas da disciplina de Geografia do 3.º Ciclo do Ensino Básico prevêem a abordagem de questões como a Construção Europeia, os Riscos e catástrofes naturais (nomeadamente os efeitos sobre o homem e o ambiente), a população, a mobilidade, causas e consequências das migrações, a diversidade cultural, as áreas de fixação humana, as actividades económicas (mormente recursos, processos de produção e sustentabilidade), as redes e meios de transporte e telecomunicações (como os impactes do desenvolvimento das redes de transporte nos espaços envolventes e importância das telecomunicações na sociedade actual), os contrastes no desenvolvimento (países desenvolvidos versus países em desenvolvimento e interdependência entre espaços com diferentes níveis de desenvolvimento), o ambiente e desenvolvimento sustentável. Face a estas temáticas a abordar, salientamos a sua importância na resposta a questões que o homem coloca sobre o meio físico e humano, utilizando diferentes escalas de análise o que permite que os alunos estabeleçam contacto com diferentes sociedades e culturas num contexto espacial, ajudando-os a perceber de que forma os espaços se relacionam entre si e mesmo a resolver problemas dentro e fora da sala de aula.

Os conhecimentos da Geografia, no 3.º Ciclo do Ensino Básico, contemplam a localização, população, os recursos dos países, o ambiente, a sustentabilidade, que fazem parte das competências essenciais de cidadãos activos e intervenientes, contribuindo para a compreensão a diferentes escalas e, simultaneamente, consciencializando-os de que todos os seres humanos partilham o mesmo ambiente e, por isso, são interdependentes, pelo que as suas relações têm repercussões que ultrapassam a escala local e podem atingir, em muitos casos, a dimensão planetária.

A Declaração de Lucerna, sobre a Educação Geográfica para o Desenvolvimento Sustentável (2007), apresenta mais alguns pontos de debate e confirma a importância da Geografia como promotora de Cidadania. Nesta declaração afirma-se claramente que “quase todos os ‘temas de acção’ destacados no DNUEDS4, incluindo o meio ambiente, água *…+ e a economia de mercado, têm uma dimensão geográfica”. O mesmo documento destaca, ainda, as competências mais importantes da Geografia para o desenvolvimento sustentável, nomeadamente os seguintes:

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o conhecimento geográfico e entendimento sobre os sistemas naturais principais da Terra, a fim de compreender a interacção entre e dentro dos ecossistemas; os sistemas socioeconómicos da Terra, a fim de se alcançar uma percepção de lugar; os conceitos espaciais, ideias-chave que se tornem únicas para a Geografia e que possam ajudar os alunos a desenvolver uma percepção de mundo: localização, distribuição, distâncias, movimento, regiões, escala, associação espacial, interacção espacial e mudanças contínuas;

as habilidades geográficas no uso da comunicação, pensamento, habilidades práticas e sociais que explorem temas da geografia em vários níveis, do local ao internacional; • as atitudes e valores no empenho na busca de soluções para os problemas e questões

de âmbito local, regional, nacional e internacional com base na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.

A disciplina de Geografia, não obstante a sua inegável importância na promoção da cidadania, enfrenta alguns obstáculos. Como alerta Lemos (2007) a disciplina de Geografia apenas no 3.º Ciclo se apresenta como autónoma. No 1.º Ciclo as competências geográficas desenvolvem-se sobretudo com base no espaço da área envolvente, no Estudo do Meio. No 2.º Ciclo, as aprendizagens geográficas realizam-se na disciplina de História e Geografia de Portugal. Mas, esta disciplina é quase exclusivamente leccionada por professores com formação académica de base em História, isto é, sem formação geográfica. Por outro lado, o facto de os conteúdos referentes à Geografia serem leccionados no fim do terceiro período leva a que muitos alunos cheguem ao final do 2.º Ciclo sem terem atingido muitas das competências geográficas. Salienta-se ainda a reduzida carga semanal, consistindo no 3.º Ciclo em 3 a 3,5 blocos e, no secundário, 2 blocos semanais, o que poderá limitar a actuação do professor devido à imposição do cumprimento da planificação e a escassez de oferta de acções de formação na área específica de Geografia. Também a Declaração de Lucerna refere a importância da Tecnologia de Informação e Comunicação, mas alerta para o facto de esta não ser utilizada com a frequência desejável, apesar de ter influenciado enormemente a Geografia como ciência.

De facto, é inegável a importância da Geografia no contexto da promoção da cidadania. No entanto, ela pode oferecer métodos, conteúdos e competências, promover a sensibilização, sem que haja um real e activo envolvimento na resolução dos problemas por parte dos seus alunos. Nesta perspectiva é necessário adequar e gerir o currículo de Geografia e adequar as estratégias de ensino, por forma a promover a literacia científica e preparar os alunos para a intervenção

cívica e para a vida activa.

O sistema escolar enfrenta novos desafios ao nível local e global, onde as mutações económicas, sociais e culturais são uma realidade. A sociedade, onde a proliferação de direitos se afirma, os meios de informação se impõem rapidamente, muitas vezes sem a devida ponderação ou selecção, é obrigada a adaptar-se e a reestruturar-se. Cada vez mais a responsabilidade da educação para a cidadania é partilhada com a Escola, que não se pode alhear da responsabilidade da formação moral e cívica dos seus alunos.

Neste contexto, a disciplina de Geografia apresenta-se com um potencial inequívoco de promoção de cidadania, proporcionando um conhecimento do Mundo em que vivemos em todas as esferas. Os temas abordados e as competências a desenvolver permitem aos alunos a construção de conhecimentos e a aquisição de habilidades essenciais à sua formação enquanto cidadãos conscientes e democraticamente interventivos. Este compromisso de cidadania é reforçado na Declaração de Lucerna sobre a Educação Geográfica para o Desenvolvimento Sustentável (2007), pois este saber tem contribuído para ampliar as possibilidades dos alunos observarem e compreenderem as sociedades e alguns dos seus problemas. Por outro lado, como se referencia no documento Currículo Nacional do Ensino Básico: competências essenciais, “a Geografia é, não só, um meio poderoso para promover a educação dos indivíduos, como também dá um contributo fundamental para a Cidadania, nomeadamente no âmbito da Educação Ambiental e da Educação para o Desenvolvimento” (DEB, 2001: 107).