A proposta da reforma desvincula o BPC e a pensão por morte, mas não
aposentadorias. Segundo a imprensa, o governo teria considerado que a desvinculação
nesses casos feriria cláusula pétrea (art. 7º, IV)132.
No Brasil, o piso do mercado de trabalho, o salário mínimo, é atualmente também o piso da Assistência Social (BPC) e o da Previdência Social. Isto é, ainda que a forma de cálculo de um benefício gere um valor inferior ao do salário mínimo vigente, porque contribuições passadas do segurado foram inferiores a este valor, o benefício deve ser de pelo menos este salário mínimo vigente.
Assim, 18,5 milhões de benefícios na Previdência e outros 4,5 milhões de
BPCs estão atualmente vinculados ao salário mínimo. Trata-se de 69% do número
de benefícios pagos, ou 49% do valor despedindo via INSS (cerca de R$ 250 bilhões
por ano).
Tabela 25 – Piso previdenciário e forma de reajuste – G-20 e América do Sul
Piso vinculado ao salário
mínimo?
Proporção piso e salário
mínimo
Forma de reajuste dos benefícios
América do Sul
Argentina Não 70% previdenciária e impostos Salários, receita Bolívia Sim 100% Inflação ou salário mínimo
Chile Não 50% Inflação
Colômbia Sim 100% Inflação ou salário mínimo Equador Não 55% Discricionário Paraguai Sim 33% Inflação ou salário mínimo, se recursos permitirem Peru Não 55% Discricionário Uruguai Não 80% Salário médio Venezuela Sim 100% Inflação e salários
G-20
África do Sul –– –– ––
Alemanha Não N/A beneficiários/contribuintes Salários e razão Arábia Saudita Não N/A ––
Austrália Não N/A Inflação
Canadá Não N/A Inflação
China Não N/A ––
Coreia do Sul Não N/A Inflação Estados Unidos Não N/A Inflação ou salários estaduais
França Não N/A Inflação
Índia Não 35% Depende de avaliação atuarial Indonésia Não N/A Discricionário (bienal)
Itália Não N/A Inflação
Japão Não 60% Inflação e salários México Não 135% Discricionário Reino Unido Não 40% Inflação Rússia Não N/A Inflação e salários
Turquia Não N/A ––
Brasil – Regras
anteriores Sim 100% Inflação ou salário mínimo Brasil – Reforma da
Previdência Sim 100% Inflação ou salário mínimo Fonte: Elaboração própria, a partir das informações do Social Security Programs Throughout the World. N/A: Não se aplica.
A Tabela 25 compara as regras brasileiras de vinculação do salário mínimo (piso previdenciário e forma de reajuste) com as de outros países (novamente os sul-americanos e do G-20). Descrevemos para os países comparados se o piso previdenciário é vinculado ao salário mínimo; a proporção do valor do piso em relação ao salário mínimo (calculada de modo aproximado para os países em que não há vinculação); e a forma de reajuste.
A vinculação ao salário mínimo não é comum em outros países. No grupo
analisado, o piso é vinculado ao salário mínimo, como no Brasil, em outros quatro países sul-americanos: Bolívia, Colômbia, Venezuela e Paraguai. Neste último, no entanto, a vinculação é somente a um terço do salário mínimo. Nos países onde não há vinculação, o piso previdenciário costuma ser bastante inferior ao salário mínimo (com a exceção do México, onde o mínimo é mais baixo). No entanto, este piso previdenciário não é tão abaixo do salário mínimo quanto o “piso assistencial” apresentado anteriormente, isto é, o benefício assistencial destinado ao idoso pobre (como o BPC brasileiro), que, em comparação com o piso previdenciário, é ainda mais raramente vinculado ao salário mínimo.
Na Tabela acima, a comparação com o salário mínimo não foi feita para muitos países do G-20 porque em vários casos não há um piso previdenciário unificado, apenas o piso assistencial para quem não cumpriu os requisitos para aposentadoria e está em condição de pobreza133.
No que tange a forma de reajuste do piso previdenciário, a prevalência no G-20 é de reajuste somente segundo a inflação (como acontece no Brasil com os benefícios maiores do que um salário mínimo). Os países que concedem reajustes reais (acima da inflação), transferem os ganhos dos trabalhadores ativos para os inativos por mecanismos mais suaves, como por uma medida de salários (como o salário médio) ou da arrecadação (como na Argentina, Alemanha).
Alguns países emergentes não possuem regra de reajuste (Peru, Equador, México e Indonésia) enquanto alguns condicionam o reajuste a existência de recursos (Paraguai) ou avaliação atuarial (Índia).
133 Consideramos piso previdenciário o menor benefício pago para um benefício permanente: muitos países possuem pisos menores para benefícios temporários (como incapacidade temporária, equivalente ao auxílio-doença), abaixo do piso de benefícios continuados (como aposentadorias).
Os países que adotam reajustes além da inflação podem ter regras mistas por tipo de benefício, como ocorre no Brasil por conta da vinculação do piso ao salário mínimo (que concede reajustes reais para os menores benefícios, mas apenas nominais para os demais). Existem ainda regras com reajustes maiores para benefícios de idosos (aposentadorias) e apenas nominais para benefícios de trabalhadores na ativa (como incapacidade temporária).
Outros modelos, não contemplados na Tabela anterior, incluem o reajuste, para benefícios selecionados, de acordo com uma medida de inflação de idosos, além da inflação “geral” (Austrália e Reino Unido); “gatilho” para reajuste de todos os benefícios fora do período normal se a inflação passar de um determinado patamar (Chile); e reajuste progressivo: maior para os benefícios menores (Equador)134. Essas são regras são apresentadas na Tabela 26, abaixo.
Tabela 26
Outros desenhos de reajuste de benefícios em outros países Reajuste segundo inflação do idoso;
“Gatilho” para reajuste fora de época se inflação acelerar; Reajuste progressivo: maior para benefícios menores.
PENSÃO POR MORTE