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Qualidade da água no habitat da enguia-europeia e contaminantes

4. Principais constrangimentos à enguia-europeia em Portugal

4.3 Qualidade da água no habitat da enguia-europeia e contaminantes

O impacto causado por poluentes na qualidade dos reprodutores (capacidade destes atingirem os locais de desova e produzirem descendência viável) (ICES, 2006) tem sido apontado como um dos factores chave na justificação do declínio global desta espécie (Robinet & Feunteun, 2002). Deste modo torna-se importante quantificar este impacto, de forma a alcançar os objectivos definidos no Regulamento (CE) nº 1100/2007.

4.3.1 Qualidade da água

A rede de monitorização de qualidade dos recursos hídricos superficiais (Rede de Qualidade da Água superficial - RQA) analisa cerca de 100 estações para avaliação da evolução da qualidade, tanto em rios como albufeiras. A classificação da qualidade da água para usos múltiplos permite obter informação sobre os usos que potencialmente podem ser realizados na massa de água classificada, considerando cinco classes: A – excelente; B – Boa; C – Razoável; D – Má; E – Muito má.

As classificações obtidas entre 1997 e 2001 (Figura 4.18) resultam, em regra, de parâmetros microbiológicos e matéria orgânica, reflectindo alguns problemas na eficiência de tratamento, tanto de águas residuais urbanas, como de explorações agro- pecuárias.

A implementação do Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais para o período 2007-2013 (PEAASAR II), prevê um conjunto de medidas respeitantes à protecção dos valores ambientais, em particular no que se refere ao controlo e prevenção da poluição, e ao reforço dos mecanismos de regulação ambiental e de inspecção, que vão contribuir para a alteração desta situação.

Figura 4.18 – Evolução das classificações obtidas na RQA entre 1995 e 2007. A – excelente; B – Boa; C – Razoável; D – Má; E – Muito má (Fonte: SNIRH).

No ano de 2007 foram analisadas 94 estações na RQA, a maioria classificada como razoável para usos múltiplos (38,3%). A região hidrográfica do Vouga, Mondego, Lis e Ribeiras do Oeste (RH4) foi a que apresentou maior proporção de estações com muito má qualidade, e a região hidrográfica das Ribeiras do Algarve a única que apresentou estações com excelente qualidade da água para fins múltiplos (Figuras 4.19 e 4.20).

Figura 4.19 – Qualidade das águas de superfície nas regiões hidrográficas 1, 2, 3 e 4 em 2007: classificação segundo o critério de avaliação da conformidade (Fonte: INAG).

Figura 4.20 – Qualidade das águas de superfície regiões hidrográficas 5, 6, 7 e 8 em 2007: classificação segundo o critério de avaliação da conformidade (Fonte: INAG).

A síntese do grau de importância atribuído às pressões poluentes significativas e a análise das massas de água de superfície em risco de não cumprir os objectivos ambientais, em cada região hidrográfica (Tabelas 4.7 e 4.8, respectivamente), foi reportada à Comissão Europeia em 2005, ao abrigo do Artigo 5º da Directiva Quadro da Água. No âmbito do Artigo 8º da DQA (referente à implementação dos programas de monitorização do estado das águas) procedeu-se à actualização desta informação, no entanto esta encontra-se em fase de validação por parte da Comissão Europeia.

Os dados apresentados à Comissão reforçam a necessidade de melhorar os sistemas de tratamento de efluentes domésticos urbanos e efluentes industriais (4.7), identificados como duas das pressões poluentes mais significativas, na generalidade das regiões hidrográficas.

Tabela 4.7 – Síntese do grau de importância das pressões poluentes significativas identificadas em cada Região Hidrográfica (INAG, 2005).

Em termos globais, apenas 38,7% das massas de água das regiões hidrográficas de Portugal Continental se encontram em condição de cumprir os objectivos ambientais definidos pela Directiva 2000/60/EC (Tabela 4.8). Em 20,6% das massas de água a informação disponível não é suficiente para estabelecer a classificação e 40,7% não estão em condições de cumprir os objectivos ambientais da directiva. Para as massas de água classificadas como estando em risco, a razão subjacente a esta classificação foi, na grande maioria dos casos, o estado ecológico.

Tabela 4.8– Síntese da análise de massas de água de superfície em risco de não cumprir os objectivos ambientais, em cada Região Hidrográfica (INAG, 2005).

4.3.2 Eco-toxicologia e contaminantes

Dependendo da sua biodisponibilidade, os contaminantes que são introduzidos nos sistemas biológicos, podem acarretar consequências mais ou menos nocivas para os organismos (Ravera, 2001). Em relação à enguia-europeia, tem sido observada uma relação entre a concentração de poluentes no meio e a contaminação existente nos seus tecidos, sendo, consequentemente, considerada uma espécie indicadora da degradação da qualidade do ambiente (Robinet & Feunteun, 2002; Belpaire & Goemans, 2007). De um modo global, as enguias são reconhecidas por serem resistentes à degradação da qualidade do ambiente (Belpaire & Goemans, 2007a). Apesar da resistência destes organismos à contaminação por metais pesados, podem ocorrer diversas alterações a nível anatómico, histológico e citológico, que se reflectem negativamente na condição dos indivíduos (Bruslé, 1990).

A nível nacional foram publicados diversos estudos sobre eco-toxicologia da enguia em diferentes bacias hidrográficas, e.g. Ria de Aveiro (Ahmad et al., 2004; Pacheco e Santos, 2001), Pateira de Fermentelos (Ahmad et al., 2006; Maria et al., 2006; Teles et

al., 2004; Teles et al., 2007), rio Minho, Lima e Douro (Gravato et al., 2008). Foram

ainda desenvolvidos alguns estudos sobre metais pesados em várias espécies de peixes da Ria de Aveiro, incluindo enguias (Cid et al., 2001) e no Estuário do Rio Tejo sobre a enguia em particular (Neto, 2008; Passos, 2008).

Os trabalhos desenvolvidos por Teles et al. (2004; 2007) na Pateira de Fermentelos referem o aumento de stress nas enguias expostas a elevados níveis de poluição. Os autores sugerem que em ambientes poluídos as populações de peixes podem sofrer alterações e/ou deficiências em algumas funções biológicas e ficar mais susceptíveis a

Por outro lado, o estudo realizado no estuário do Rio Tejo sobre a acumulação de metais pesados em enguia conclui que a relação entre a concentração destes poluentes no meio e nos tecidos desta espécie não é totalmente evidente. Considera ainda que apesar do gasto acrescido de energia, em consequência do processo de desintoxicação e dos possíveis efeitos nocivos que a contaminação dos tecidos possa provocar em A.

anguilla, não se verifica qualquer influência da concentração de metais pesados na

condição das enguias (Neto, 2008; Passos, 2008).

A contaminação da enguia por metais pesados em Portugal parece ser relativamente reduzida, pelo menos em comparação com outros países. Esse não será por isso um aspecto fundamental a ter em conta no PGE, embora deva ser acompanhado com alguma atenção o evoluir da situação.

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