2.2 QUALIDADE DE PRODUTO/SISTEMAS DE SOFTWARE
2.2.1 Qualidade de sistemas para telemedicina assíncrona
Com a adoção cada vez maior de sistemas de telemedicina, surgiu uma preocupação com a qualidade desses sistemas, assim como, com a qualidade dos serviços prestados. Com a intenção de melhorar a qualidade dos sistemas e dos serviços foram estabelecidos alguns padrões por organizações internacionais como é o caso do DICOM (Digital Imaging and Communication in Medicine)(CLUNIE, 2000), um padrão de imagens para dispositivos médicos com o objetivo de obter a interoperabilidade entre diferentes dispositivos e o HL7 (Health Level7) um padrão para troca de informações eletrônicas referentes à saúde. Ambos os padrões são para garantir a interoperabilidade e comunicação entre os diversos dispositivos e sistemas.
O comitê técnico ISO/TC 215 (Health Informatics), vêm desenvolvendo trabalhos relacionados sobre informática aplicada à saúde e em específico a telemedicina, alguns trabalhos desenvolvidos por esse comitê são apresentados no Quadro 5.
Quadro 5 – Normas desenvolvidas pelo Comitê ISO/TC 215, relacionadas à telemedicina.
Normas Partes da Norma Grupo de Trabalho
ISO/TR 16056:2004 – Informática na Saúde – Interoperabilidade de sistemas e redes de telesaúde Parte 1: Introdução e Definições; Parte 2: Sistemas de Tempo Real. WG 1: Data Structure. ISO/TR 14639 – Arquitetura de negócios para países emergentes e em desenvolvimento para sistemas de eHealth. Parte 1: Avaliação do Ambiente; Parte 2: Requisitos de Negócio. WG 8:Business requirements for Electronic Health Records ISO 27799:2008 – Informática na Saúde: Gerenciamento de Segurança da Informação na Saúde usando a norma
ISO/IEC 27002. N.A WG 4: Security ISO/TS 14265 – Informática na Saúde: Classificação de N.A WG 8: Business requirements for Electronic Health
propósitos para processamento de informações médicas pessoais (EHR). Records ISO/DTS 13131 – Critérios de qualidade para serviços e sistemas
de telesaúde
N.A WG 2: Data
Interchange.
Existem outros trabalhos em desenvolvimento por este comitê, no entanto, analisando os grupos de trabalho e suas propostas não foi identificado nenhum aspecto relacionado à qualidade de sistemas de telemedicina assíncrona. De fato, não existe norma ou padrão sobre a qualidade de sistemas de telemedicina (ISO, 2004). Alguns trabalhos foram desenvolvidos sobre a qualidade de serviços para telemedicina síncrona como, por exemplo, (LEROUGE; GARFIELD, 2002) e (NANDA; FERNANDES, 2007), esses trabalhos abordam aspectos específicos de tecnologia e infraestrutura relacionada à comunicação síncrona (vídeo-conferência), o que não é o foco deste trabalho.
Em sistemas de telemedicina entre os possíveis riscos provenientes de sistemas e softwares mal projetados e/ou utilizados podem ser citados: a possibilidade de má interpretação de dados e imagens, o que pode levar a um tratamento errado ou ineficaz, podendo causar graves danos ou prejuízos ao paciente, podendo inclusive levá-lo ao óbito; a falta de segurança e confidencialidade da informação dos pacientes, um dos preceitos básicos da medicina; a possibilidade de delegação de responsabilidade para pessoal não qualificado e possibilidade de falhas tecnológicas (MATHEUS; RIBEIRO, 2009).
Com o objetivo de estabelecer critérios de qualidade para sistemas de telemedicina assíncrona baseados em store-and-forward, foi realizada uma customização da norma ISO/IEC 25000 (ISO, 2005), que é uma norma específica para requisitos de qualidade de sistemas e
softwares. Os fatores de qualidade, estabelecidos pela norma foram
priorizados, ou seja, classificados quanto ao seu grau de importância e relevância, para este domínio específico, através de um survey com profissionais da área(WANGENHEIM; WANGENHEIM, 2011). O Quadro 6 apresenta os requisitos de qualidade específicos do domínio, agrupados a partir de sua relevância ao contexto.
Quadro 6 – Requisitos de qualidade agrupados por relevância.
Perspectiva Característica Sub-característica(s)
Características Essenciais
Qualidade de Uso
Liberdade de Risco: medida na qual um produto ou sistema minimiza os potenciais riscos em relação à economia, vida humana, saúde, ou ambiente.
Mitigação de riscos à saúde e a segurança
Qualidade de Sistemas
Confiabilidade: o grau em que um sistema, produto ou componente realiza funções específicas em determinadas circunstâncias por um período de tempo específico. Maturidade Disponibilidade Tolerância a Falha Recuperabilidade Qualidade de Sistemas
Segurança: o grau em que um produto ou sistema é capaz de proteger informações e dados de forma que pessoas ou outros produtos ou sistemas possuam um nível de acesso apropriado aos seus tipos e níveis de autorização.
Confidencialidade Integridade Não-repudiação
Accountability Autenticidade Características Essenciais e Importantes
Qualidade de sistemas
Adequação Funcional: nível no qual um produto ou sistema oferece funções que atendem necessidades implícitas, quando utilizado em determinadas circunstâncias. Completude funcional Corretude funcional Adequabilidade funcional Qualidade de Uso
Satisfação: o nível no qual as
necessidades dos usuários são satisfeitas quando um produto ou sistema é usado em um contexto de uso específico.
Usabilidade Confiança Prazer Conforto Qualidade de Sistemas
Usabilidade: o nível no qual um produto ou sistema pode ser usado por usuários específicos para alcançar metas específicas com eficiência, eficácia e satisfação em um contexto de uso específico. Appropriateness recognizability Facilidade de Aprendizado Operabilidade Proteção contra erros
do usuário Estética da interface
do usuário Características Importantes
Qualidade de Uso
Cobertura de contexto: nível em que um produto e um sistema podem ser usados com eficiência, eficácia, liberdade de risco e satisfação nos contextos de uso e contextos além do especificados inicialmente. Completude de Contexto Flexibilidade Qualidade de Sistemas Eficiência e Performance:
desempenho relativo a quantidade de recursos usados sobre determinadas condições. Comportamento Temporal Utilização de recursos Capacidade Qualidade de Sistemas
Compatibilidade: grau em que um produto, sistema ou componente pode trocar informações com outros sistemas ou componentes, e/ou realizar suas funções enquanto compartilha o mesmo ambiente de hardware ou software.
Co-existência
Interoperabilidade
Características Importantes e Desejáveis
Qualidade de Sistemas
Manutenibilidade: grau de eficiência e eficácia em que um produto ou sistema pode ser modificado por seus
mantenedores. Modularidade Reusabilidade Análise Modificabilidade Testabilidade Qualidade de Sistemas
Portabilidade: grau de eficiência e eficácia em que um produto, sistema ou componente pode ser transferido de um hardware, software ou outro ambiente operacional ou de usabilidade, para outro. Adaptabilidade Facilidade de instalação Capacidade de Substituição Fonte: WANGENHEIM et al. (2012).
A partir dos resultados da pesquisa realizada foi possível identificar a relevância dos principais requisitos de qualidade para sistemas de telemedicina assíncrona baseados em store-and-forward, em conformidade com a norma internacional ISO/IEC 25000. O modelo e os requisitos de qualidade podem servir como base para a customização de um modelo de capacidade/maturidade de processo de software para o domínio da telemedicina. Esse modelo servirá para implantação da melhoria de processos de software desse tipo de sistema o que por objetivo, impactará na qualidade dos produtos e serviços gerados.