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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 A QUALIDADE DE VIDA DO CUIDADOR

O cuidado prestado pelo cuidador ao idoso portador de demência é uma atividade cansativa, devido às limitações progressivas que as doenças ocasionam:

No processo de cuidar do idoso com déficit cognitivo, o cuidador familiar depara-se com vários desafios, tais como dificuldade para lidar com os quadros de agitação e de agressividade que ele apresenta; com a deambulação constante, especialmente noturna, provocada pelas alterações nos hábitos de sono e repouso; com os esquecimentos; com a repetitividade e as solicitações constantes; com a falta de etiqueta à mesa e no trato social e com os comportamentos bizarros (LOUREIRO et al, 2014, p.231).

Ainda segundo Bagne e Gasparine (2014, p.259), cuidar de um idoso com limitação cognitiva não é uma atividade fácil, pois requer tempo, energia e paciência. A progressão da doença é capaz de ocasionar sobrecargas no cuidador como problemas sociais, psíquicos e físicos, além de interferir na qualidade de vida.

A qualidade de vida está relacionada com a autoestima e ao bem-estar, sendo definida pela OMS como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e dos sistemas de valores da sociedade em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (The WHOQOL Group, 1998, p. 1570).

O cuidado prestado ao idoso com demência geralmente é uma tarefa repetitiva, contínua, solitária e sem descanso, características estas que levam à diversas manifestações psíquicas de ansiedade e depressão, tais como: preocupação, irritabilidade, fadiga, insônia, taquicardia e outros sinais e sintomas (SANTOS; GUTIERREZ, 2013, p.793).

Estudos realizados no país apontam para ocorrência de sobrecarga nesses cuidadores. Loureiro et al (2014, p.230) identificou que mais de 60% dos cuidadores apresentaram os níveis de sobrecarga de moderada a leve, 23% de moderada a severa e 15% sem nenhum tipo de sobrecarga.

Os problemas na qualidade de vida dos cuidadores também foram identificados em um estudo realizado na Venezuela, que através de um questionário foram encontrados Ansiedade, Somatização, Disfunção Social e Depressão (ALDANA; GUARINO, 2012, p.9).

A relação entre cuidadores familiares e idosos interfere na qualidade do cuidado prestado, tal fato comprovado por Lenardt et al (2011, p.18) ao referirem que o envolvimento afetivo e a relação de dependência junto ao cuidado proporcionam momentos exaustivos e

estressantes, pois ao oferecer atividades relacionadas ao bem estar do idoso, o cuidador passa a ter restrições em relação à sua própria vida.

Nos estudos de Bauab e Emmel (2014, p.349) a vida social e a qualidade de vida dos cuidadores familiares são mais afetadas do que dos formais, já que passam mais tempo com os idosos e acabam abdicando parte da vida, sendo uma atividade ininterrupta, além do abandono das atividades prazerosas.

Com isto, percebe-se que todas as complicações da doença aliadas às limitações do idoso e da sobrecarga dos cuidadores contribuem para prejudicar a qualidade de vida do cuidador e consequentemente prejuízos no cuidado prestado.

Conhecer a QV dos cuidadores familiares e seus fatores determinantes tornam-se importantes para o planejamento de ações em saúde que possam minimizar os efeitos negativos da sobrecarga de cuidado vivenciada por estas pessoas ao cuidar de um idoso dependente no seio familiar, tendo em vista que tais ações podem trazer melhorias à qualidade do cuidado dispensado ao idoso e contribuir com a proteção da saúde do cuidador (GONCALVES RODRIGUES, et al, 2014).

Pereira e Soares (2015, p.3840), afirmam que o acúmulo de tarefas e a reestruturação das suas próprias atividades são capazes de ocasionar impactos na saúde do cuidador, implicando em maior risco de morbidade psiquiátrica e física.

Neste mesmo estudo foram identificados os seguintes aspectos influenciadores da qualidade de vida do cuidador de idoso com demência: depressão, má qualidade do sono, tipo de demência e sintomas neuropsiquiátricos, apoio, suporte social, acesso aos serviços de saúde, lazer, intervenções subsidiadas com treinamento para o cuidador e espiritualidade (PEREIRA; SOARES, 2015, p.3842).

Outro fator que também contribui para prejudicar a qualidade de vida é a falta de suporte ou de capacitação destes cuidadores, pelo caso de muitos deles receberem informações básicas, sem sequer orientações específicas (REIS, et al, 2015, p.157).

Em outro estudo realizado em São Paulo que objetivou comparar a qualidade de vida dos cuidadores de idosos com DA através do instrumento WHOOQOL –Bref, o menor valor foi demonstrado pelo domínio meio ambiente, em seguida das relações sociais, do psicológico e do físico. O baixo escore adotado ao domínio meio ambiente pode ser explicada pela falta de oportunidade de participação em atividades de lazer (SANTOS; GUTIERREZ, 2013, p.797).

Loureiro et al (2014, p.231) sustentam que as consequências na qualidade de vida dos cuidadores de idosos portadores de demência são capazes de aumentar o risco de uso de

drogas psicotrópicas, maior número de doenças somáticas, isolamento social, estresse pessoal e familiar, alterações na dinâmica familiar e sentimentos de obrigação onerosa e tensão.

Toda a conjuntura dos fatores relacionados à qualidade de vida dos cuidadores de idosos com demência é suficiente para gerar malefícios à assistência prestada aos idosos, por isso é necessário novos estudos envolvendo a qualidade de vida dos cuidadores, conforme os estudos de Santos e Gutierrez:

(...)sendo importante a realização de pesquisas, investigações e estudos que procurem atualizar os conhecimentos e fornecer informações sobre as condições do cuidador. Essas informações podem ser transformadas em fontes de contribuição para a gestão das políticas públicas e, consequentemente, colaborar para a melhoria da qualidade de vida do cuidador e do indivíduo que recebe os cuidados e, ainda, favorecer a qualidade da assistência prestada (SANTOS; GUTIERREZ, 2013, p.793).

Segundo Pereira e Soares (2015, 3842) os poucos estudos existentes propõe intervenções e analisam sua efetividade, sendo insuficientes ao nível internacional e escassos de âmbito nacional.

Inoyue, Pedrazzini e Pavarani (2010, p.893) contextualizam que há a tendência no aumento do número de pessoas a se tornarem cuidadores, em vistas do crescimento de doenças crônicas do envelhecimento. Sendo assim, é extremamente importante o desenvolvimento de ações, que atendam às dimensões de qualidade de vida, através de práticas inclusivas, flexíveis e dinâmicas que levem em conta o valor da opinião do próprio cuidador.

Ainda de acordo com os autores acima citados, as intervenções psicoeducacionais devem ofertar o encorajamento e a satisfação das necessidades individuais, assim sentirão aceitos e compreendidos em suas dificuldades e limitações.

Pereira e Soares (2015, p.3840) apoiam a conjuntura relacionada a atuação dos profissionais junto aos cuidadores:

Observa-se que diante do ônus relacionado ao cuidado do idoso dependente, o cuidador necessita de atenção, enfoque criterioso dos serviços de saúde e capacitação, para que dessa forma consiga prestar o cuidado de maneira adequada e com o menor risco para a sua saúde física e psíquica (PEREIRA; SOARES, 2015, p.3840).

Lindolpho et al (2013, p.1088) ratificam que os cuidadores necessitam de cuidados também, por lançar mão tantas coisas em sua vida. A atenção da comunidade e do Estado envolve ações individuais e estudos para conhecer os cuidadores.

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