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Qualidade de Vida e Adolescentes Institucionalizados

Parte I Enquadramento Teórico

1.5. Qualidade de Vida e Adolescentes Institucionalizados

A investigação no âmbito da qualidade de vida relacionada com a saúde nas crianças e adolescentes é recente e o seu desenvolvimento é marcado por três etapas: 1ª etapa (final dos anos 80) – caracterizada pela preocupação em estudar o conceito teórico de qualidade de vida; 2ª etapa (princípio dos anos 90 até aos dias de hoje) – assinalada com a construção de instrumentos de medida de QV em crianças; e 3ª (recentemente, em 1995) – preocupação pela aplicação desses instrumentos de medida em estudos clínicos e metodológicos (Ravens-Sieberer, et al., 2001).

A qualidade de vida relacionada com a saúde do adolescente deve ser encarada de acordo com a perspetiva ecológica que engloba diversos fatores de análise, a criança, pais, família, pares e a sociedade onde estão inseridos (Harding 2001; Gaspar, & Matos 2008), deve basear-se numa abordagem desenvolvimentista, onde todas as influências e inter-relações devem necessariamente ser consideradas (Gaspar, & Matos, 2008).

As crianças e adolescentes são atores sociais das suas próprias vidas, das vidas dos outros e da sociedade (Gaspar, & Matos, 2008). Assim, é importante considerar a perceção de saúde das crianças/adolescentes, especificamente no que concerne às seguintes vertentes: física, envolvimento social, comportamentos de saúde, cultural, stressores sociais, e processos psicossociais (estilos de coping e suporte social). Estes fatores podem funcionar como fatores de proteção ou fatores de risco da qualidade de vida (Ravens-Sieberer, et al., 2001). A qualidade de vida deixa de ser vista como apenas um nível de vida, mas um conceito que envolve aspetos como o bem-estar, auto-estima, stress e coping e perceção de felicidade. Caso os adolescentes apresentem mais fatores protetores, a sua qualidade de vida é avaliada como mais elevada, pois o fator protetor pode intervir de forma positiva na relação entre as características e as competências do adolescente, assim como, na sua qualidade de vida (Gaspar, & Matos, 2008).

Vários autores identificaram múltiplas variáveis com grande influência na qualidade de vida relacionada com a saúde das crianças e adolescentes: caraterísticas pessoais e caraterísticas sociais (Gaspar, et al., 2006).

As variáveis pessoais dizem respeito a caraterísticas particulares do sujeito, como o bem-estar subjetivo, otimismo, resiliência e outros indicadores como a idade e o sexo. Os adolescentes que avaliam a sua vida de forma positiva, experienciam mais emoções positivas e mostram um bem-estar subjetivo mais positivo.

As variáveis sociais referem-se a aspetos coletivos relacionados com a vida em grupo e com a sociedade (família, escola, suporte social, grupo de pares ou nível sócio- económico). Conflitos familiares, problemas conjugais, desemprego, violência familiar e fraco suporte social estão associados a problemas de comportamento. Baixos níveis de educação dos pais, fracas condições de habitabilidade e agregado numeroso, são fatores que podem constituir um risco para a saúde, contrariamente a uma boa relação com os pais. Uma relação de qualidade entre pais e criança/adolescente constitui um fator protetor de qualidade de vida, na medida em que favorece a auto-estima, desempenho académico, sociabilidade, estabilidade emocional e interiorização de regras e valores. Perceção de um bom suporte social facilita a adaptação social perante os

acontecimentos de vida geradores de stress, pois permite ao adolescente adaptar-se e lidar com novas situações (Santos, 2008).

De acordo Matos (2008) a perceção de bem-estar está relacionada com a personalidade, relações familiares positivas, auto-estima, qualidade das relações interpessoais e ausência de sintomas clínicos, sendo que o impacto negativo ou positivo desses fatores vai determinar o bem-estar do adolescente.

A investigação da qualidade de vida em adolescentes, no âmbito do projeto KIDSCREEN em Portugal, sugere que os rapazes apresentam valores médios mais elevados na maioria das dimensões, com exceção na dimensão referente ao Ambiente Escolar e Aprendizagem enquanto que, nas dimensões Questões económicas e Amigos, não se verificam diferenças significativas. Relativamente à análise dos grupos etários entre os 10-11 anos (crianças) e o grupo dos mais de 12 anos (adolescentes), é o grupo das crianças que revela valores mais elevados, com exceção na dimensão Provocação, sendo os adolescentes a apresentarem valores médios mais elevados. Os adolescentes com estatuto sócio-económico médio/alto apresentam valores médios mais elevados em quase todas as dimensões, com exceção do Tempo Livre que não registou diferenças relevantes. Os participantes portugueses demonstraram valores médios mais elevados comparativamente com participantes provenientes do Brasil, exceto na dimensão Saúde e Atividade Física, Sobre si próprio; e Ambiente Escolar e Aprendizagem, onde não se verificaram diferenças significativas, no que diz respeito à nacionalidade. Os adolescentes sem doença crónica apresentam valores mais elevados que os adolescentes com doença, em todas as dimensões, verificando-se assim, diferenças bastante significativas, com a exceção na dimensão Ambiente Escolar e Aprendizagem (Gaspar, & Matos, 2008).

A avaliação da qualidade de vida em crianças e adolescentes permite a identificação de fatores de risco e a prevenção de efeitos negativos desses fatores, potenciando o conhecimento e desenvolvimento de estratégias promotoras de qualidade de vida nesta população (Helseth, & Lund, 2005). Assim, a medição deste construto revela-se fundamental na avaliação do impacto de intervenções, apoios, programas ou procedimentos específicos; na análise das diferenças da qualidade de vida em grupos diferentes; na determinação de fatores que influenciam a qualidade de vida e do modo como se relacionam entre si (Wallander, & Schmitt, 2001).

implicações na qualidade de vida dos adolescentes. O desenvolvimento de programas de competências pessoais e sociais permite às crianças e adolescentes a aquisição de aptidões facilitadoras ao nível da resolução de problemas, gestão de conflitos, defesa dos seus direitos, resistência à pressão dos pares, adoção de estilos de vida saudáveis e realização de escolhas mais conscientes. Desta forma, a implementação destes programas constitui uma estratégia que capacita os jovens na construção de alternativas, proporcionando contextos favoráveis e promotores de participação e bem-estar (Gaspar, et al., 2006).

Através da pesquisa realizada para a elaboração deste estudo constatou-se que apesar de começarem a existir algumas investigações sobre adolescentes institucionalizados e investigação sobre qualidade de vida, não foram encontrados estudos que especifiquem a qualidade de vida nesta população, daí a relevância em analisar esta relação. Desta forma, conhecer a perceção dos adolescentes residentes em instituições de acolhimento, sobre a sua qualidade de vida, ajudará a perceber as suas expetativas, receios, necessidades e anseios, fornecendo-nos indicadores úteis para a criação de condições que proporcionem uma maior qualidade de vida aos jovens inseridos nestes contextos.

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