• Nenhum resultado encontrado

Qualidade de vida na velhice

No documento CINTHIA FERNANDA DA FONSECA SILVA (páginas 51-55)

2.4 QUALIDADE DE VIDA

2.4.1 Qualidade de vida na velhice

É necessário compreender o processo de envelhecimento da população para que se possa planejar medidas adequadas para um envelhecimento saudável, bem-sucedido e com qualidade de vida (MAZO, 2008). Há um modelo de qualidade de vida na velhice, construído por Lawton em 1983, onde a multiplicidade de aspectos e os fatores que influenciam o conceito são representados em quatro dimensões, explicitadas no Quadro 11, a seguir.

Quadro 11 - MODELO DE QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE

Modelo de qualidade de vida na velhice

Condições ambientais A premissa é de que o ambiente deve oferecer condições para o bom desenvolvimento do ser humano, dando base para competências adaptativas – emocionais, cognitivas e comportamentais.

Competência comportamental Significa o modo como o indivíduo enfrentará as fases e condições de sua vida. Depende do potencial de cada um, de experiências passadas, condições de vida, desenvolvimento pessoal e é influenciado pelo contexto histórico cultural.

Qualidade de vida percebida Reflete a autorreflexão da pessoa sobre sua vida. É influenciada pelos seus valores, expectativas pessoais e sociais, e também pela avaliação das condições ambientais e físicas do presente e a eficácia de suas ações nesse ambiente.

Bem-estar subjetivo É a satisfação com a própria vida, satisfação global e com condições específicas. É necessário ter competência adaptativa e é mediada pelos antecedentes pessoais, como histórico genético, e socioculturais, traços de personalidade e mecanismos de autorregulação (senso de significado pessoal, sentido de vida, religiosidade, senso de eficácia pessoal e adaptabilidade).

Isso tudo remete ao significado amplo da qualidade de vida e sua ligação com o envelhecimento bem-sucedido, envelhecimento positivo e qualidade na velhice, que tem o enfoque na satisfação com a vida e estado de ânimo – dimensões chave na avaliação da saúde do idoso (PASCHOAL, 2006). Devido a isso, a qualidade de vida do idoso deve ser percebida por uma ótica multidimensional, pois na população idosa quando ocorrem eventos que levam ao decréscimo da qualidade de vida, como doenças, é necessário considerar a presença de múltiplos fatores, tais como os físicos, psicológicos, sociais, econômicos e espirituais (MAZO, 2008).

A Figura 7 nos traz uma exemplificação do modelo de Lawton, centrado na qualidade de vida multidimensional do idoso, e de como ela é permeada por vários fatores que podem levar a sua melhora ou piora.

Figura 7 - MODELO DE LAWTON

Fonte: Fonseca-Silva e Vagetti (2019).

Como já visto nos tópicos anteriores, há o envelhecimento típico e atípico, e uma boa qualidade de vida para os idosos depende de vários fatores, como

[…] a longevidade, uma boa saúde física e mental, uma boa saúde física percebida, a satisfação, um controle cognitivo, uma competência social, a produtividade, a atividade, a eficácia cognitiva, o status social, a continuidade de papéis familiares e ocupacionais, as relações interpessoais, a autonomia e independência e um estilo de vida ativo. Esses fatores são produtos da história de vida pessoal e do grupo etário, e dependem das condições existentes no grupo social, num dado momento histórico. (MAZO, 2008, p. 38)

Apesar de muitas vezes a qualidade de vida ser relacionada primeiramente à saúde, em um estudo realizado por Dalla Vecchia et al. (2005), com o objetivo de conhecer a opinião dos idosos residentes em um município do interior paulista sobre o que é qualidade de vida, os resultados indicaram a existência de três fatores com maior relevância na fala dos entrevistados: o primeiro valorizou a questão afetiva e família; o segundo priorizou a obtenção do prazer e conforto, e o terceiro colocou como qualidade de vida a realização de sua meta ou objetivo de vida. Assim, observa-se que a questão de suporte familiar e emocional fala mais alto para um envelhecimento saudável.

Vagetti et al. (2012) reforçam o resultado anterior em sua pesquisa sobre a predição da qualidade de vida em idosas ativas, demonstrando por meio do modelo de regressão que os domínios Psicológico e Participação Social foram os principais componentes da qualidade de vida global nas participantes. Ainda, Dalla Vecchia et al. (2005) colocam que qualidade de vida está em dispor de uma sólida rede social de suporte, associada à saúde física e mental, informação essa obtida por meio das interpretações de idosos entrevistados sobre qualidade de vida. Essa premissa foi baseada em respostas como: preservação de relacionamentos interpessoais, manter uma boa saúde e manter o equilíbrio emocional.

Autonomia e independência são necessidades constantes para o ser humano adulto. Ninguém sonha com uma velhice cheia de doenças e dependência para realizar suas atividades de vida. A questão da dependência ocorre não somente pela falta de domínio físico ou psicológico para se manter de forma autônoma, mas também pela falta de recursos financeiros, sendo a autonomia financeira um dos fatores essenciais para manter a qualidade de vida e autonomia no envelhecimento (VAGETTI et al., 2013).

Dalla Vecchia et al. (2005) encontraram essa resposta de seus entrevistados durante a pesquisa, segundo os quais uma parte da qualidade de vida é garantir a autonomia financeira para assegurar recursos durante a senectude. Vagetti et al.

(2013) concluíram em sua pesquisa que idosas de baixa renda possuem uma percepção de saúde negativa, o que interfere na qualidade de vida. As autoras também indicaram a necessidade de atenção especial de políticas públicas para essa parcela da população.

Pensando no envelhecimento saudável e com autonomia como parte de um conjunto para melhora da qualidade de vida na velhice, é necessário incluir a prática de exercícios físicos para a manutenção de uma vida saudável e funcional. Vagetti et al. (2012) verificaram que idosas ativas apresentaram elevada percepção de qualidade de vida global, incluindo os domínios físico e meio ambiente e domínios específicos da qualidade de vida em idosos, tais como funcionamento dos sentidos, morte e morrer e escore geral.

Vagetti et al. (2015) analisaram se o volume ou frequência de atividades físicas moderadas a vigorosas, além de caminhadas leves, estariam associadas aos domínios de qualidade de vida. Foram entrevistadas 1.806 idosas e utilizados os questionários WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD, para análise dos domínios da qualidade de vida, e o questionário IPAQ para análise do volume e frequência das atividades físicas. Como resultado, encontraram que idosas que apresentavam volumes semanais de atividade física iguais ou maiores do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (150 minutos semanais) obtiveram maiores pontuações em vários domínios de qualidade de vida. Segundo os autores, o encorajamento da prática de atividades físicas moderadas a vigorosas por idosos é de suma importância para alcançar os benefícios associados à prática de exercícios, além de melhorar a qualidade de vida dessa população.

No estudo que analisou 108 idosos participantes de programas públicos de exercícios na cidade de Goiânia-Goiás, realizado por Dantas et al. (2018), verificou- se que os idosos participantes do programa público de exercícios físicos apresentaram melhor percepção de qualidade de vida em todos os domínios dos instrumentos WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD em comparação com os que não participam.

Há inúmeros métodos e maneiras para a prática de atividades físicas, dentre eles, o Pilates. Um estudo de revisão sistemática realizado por Bullo et al. (2015) mostrou que a prática de Pilates deve ser levada em conta como uma forma de melhorar a qualidade de vida em idosos, devido aos benefícios na prevenção de quedas, melhora da forma física e do estado de humor. Colaborando com esse

achado, Nery et al. (2016), após uma intervenção com 44 idosos, sendo 22 idosos praticantes de Pilates e 22 idosos não praticantes, concluíram que, após dois meses de intervenção com o protocolo de Pilates, houve aumento na pontuação de todos os domínios de qualidade de vida no grupo de praticantes.

Para maior esclarecimento sobre o método Pilates, sua criação e benefícios, abordaremos esse assunto no tópico a seguir.

No documento CINTHIA FERNANDA DA FONSECA SILVA (páginas 51-55)

Documentos relacionados