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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4. Qualidade de vida

Desde a definição de saúde proposta pela OMS (1947) como o estado de completo bem-estar físico, psíquico e social e não meramente ausência de doença ou enfermidade, e a assunção, pela Lei 8080/90 de que são múltiplos os fatores determinantes e condicionantes da saúde (alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e o acesso a bens e serviços essenciais) a abordagem da saúde vem sendo assumida a partir de uma percepção individual, dependente das condições e perspectivas de vida, assim como dos diferentes papéis sociais que uma determinada pessoa desempenha.

A expressão qualidade de vida vem sendo aplicada na literatura em uma multiplicidade de significados; em alguns estudos aparece como sinônimo de condições de saúde ou estado subjetivo de saúde (GUYATT et al, 1993) e, em outros, o termo aparece de forma mais geral, indicando o envolvimento de diferentes fatores que podem afetar a percepção, os sentimentos e comportamentos relacionados com a vida diária de uma pessoa, ou seja, não se limita a sua condição de saúde (BULLINGER et al, 1993).

FLECK (2011) comenta que a expressão qualidade de vida foi usada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, ao proferir que "os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas".

A expressão desde então vem sendo usada no meio científico, especialmente, nas áreas da saúde, ciências econômicas, sociais e educação. Segundo Paschoal (2000), a expressão foi usada pela primeira vez em periódicos da área médica por Elkington em 1966, que chamou a Medicina a se responsabilizar pela qualidade de vida dos pacientes.

Para a Medicina, qualidade de vida aparece associada à relação custo/benefício, ou seja, qual o preço que se paga (sentido figurado) para a manutenção da vida ou da capacidade funcional dos doentes. No campo da Economia, qualidade de vida está associada com medidas objetivas, como renda per capita (que serve de indicador do grau de acesso dos indivíduos aos serviços de saúde, educação, lazer, entre outros). Na Psicologia Social, a referência mais recorrente diz respeito à experiência subjetiva da vida, representada pelo conceito de satisfação (NERI, 1993).

Segundo a autora acima, do ponto de vista biopsicossocial, qualidade de vida ou estado de saúde, implica a capacidade de realização das atividades da vida diária, o desempenho das atividades intelectuais, os graus de independência para o autocuidado e desenvolvimento de atividades rotineiras e de autonomia para tomada de decisões sobre sua própria vida.

Desde 1990, difunde-se a utilização de instrumentos com a finalidade de avaliar a qualidade de vida, surgindo periódicos exclusivos para o estudo do tema (FLECK, 2000).

A OMS defende, desde os anos 90 do século passado, que as medidas de qualidade de vida são importantes para a avaliação de saúde, tanto em uma perspectiva individual como social. Para a OMS (1994), qualidade de vida é definida como a percepção que o sujeito tem sobre sua posição na vida, no contexto da sua cultura e dos sistemas de valores da sociedade em que vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

No sentido acima, pesquisas atuais têm usado os cinco indicadores clássicos para medir a qualidade de vida.

O primeiro indicador diz respeito à satisfação ou índice de satisfação com a vida. Sob tal indicador estão às seguintes variáveis: saúde, status socioeconômico, raça, idade, emprego, status conjugal, atividade e integração social. Rudinger e Thomae (1990), em estudo longitudinal de 20 anos, com 222 entrevistados, concluíram que, para os idosos, satisfação com a vida está associada primeiramente com a qualidade de saúde biológica, mesmo que esta qualidade seja a percebida e não necessariamente a condição objetiva percebida pelos médicos, e posteriormente a satisfação com a família e a qualidade das relações.

O segundo indicador de qualidade de vida se refere à atividade e envolvimento com papéis sociais, familiares e profissionais, em que se percebeu que quanto mais ativo o idoso, mais satisfeito com sua vida (RUDINGER E THOMAE, 1990).

A longevidade é o terceiro indicador. A preservação temporal (em oposição à morte) pode ser considerada como envelhecer com qualidade; porém não existem estudos que comprovem que ter qualidade de vida contribui para a longevidade ou que os longevos têm melhor qualidade de vida que os mais jovens, visto que há uma deterioração cognitiva e biológica com o decorrer dos anos (RUDINGER E THOMAE, 1990).

A saúde física e mental (tanto saúde objetiva quanto autopercebida) aparecem como quarto e quinto indicadores de qualidade de vida. A vitalidade é condição necessária para o envelhecimento saudável, mesmo que a condição subjetiva nem sempre coincida com a objetiva constatada pelos médicos (RUDINGER E THOMAE, 1990).

Para o Grupo de Trabalho de Qualidade de Vida (Grupo WHOQOL - World Health Organization Quality Of Life Group) da OMS, qualidade de vida é constituída de três aspectos: subjetividade, multidimensionalidade e inclusão de dimensões positivas e negativas. A partir de tais parâmetros, o referido grupo vem desenvolvendo uma série de instrumentos qualitativos e de perspectiva transcultural, ou seja, aplicáveis a diferentes populações, com o objetivo de avaliar a qualidade de vida em adultos (OMS, 1998).

Existem atualmente dois instrumentos gerais de Qualidade de Vida: o World Health Organization Quality of Life – 100 (WHOQOL-100) e o World Health Organization Quality of Life Bref (WHOQOL BREF ou WHOQOL Abreviado). O WHOQOL-100 consta de 100 questões que avaliam 6 domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio-ambiente e espiritualidade/crenças pessoais. Já o WHOQOL Abreviado é uma versão abreviada composta pelas 26 questões que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídas do WHOQOL-100. A versão abreviada é composta por 4 domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Cada domínio é representado por algumas facetas, a saber: