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A obesidade tem um impacto bastante acentuado na redução da esperança de vida (145), na saúde física e médica das pessoas (2, 146-147), assim como na saúde mental (23). A associação entre a qualidade de vida e o IMC tem sido largamente estudada, estando bem comprovada na literatura, sendo evidentes as consequências negativas que a obesidade provoca na qualidade de vida e no bem-estar (23, 148). Resultados do

Canadian Multicentre Osteoporosis Study indicaram que o excesso de peso produz um

significativo efeito negativo na qualidade de vida dos participantes, especialmente das mulheres (149), comprovando estudos de revisão anteriores em que maiores níveis de obesidade se associaram a uma redução da qualidade de vida, especialmente nas dimensões física e psicossocial (63, 78) e em que foi possível estabelecer uma relação dose-resposta entre maior IMC e maior nível de limitação na qualidade de vida relacionada com a saúde (76). Esta relação dose-resposta entre o IMC e a diminuição da qualidade de vida foi verificada igualmente em outros estudos (150-153), inclusivamente num estudo que comparou mulheres portuguesas com mulheres americanas, utilizando um instrumento específico de avaliação da qualidade de vida, o

IWQOL-Lite. Os resultados permitiram concluir que a relação dose-resposta entre a

qualidade de vida relacionada com o peso e o aumento do IMC foi mais evidente na amostra portuguesa (125).

Num grupo de homens ficou demonstrada a associação negativa entre o IMC e os aspectos físicos da qualidade de vida, após controlar para a influência da idade, raça, doença severa, depressão e actividade física (154). Pessoas com obesidade e obesidade severa indicaram maior probabilidade de pior percepção de qualidade de vida física e mental, em comparação com pessoas com peso normal (155).

Vários estudos indicam que o impacto negativo associado ao IMC é mais evidente no funcionamento físico do que no funcionamento mental das pessoas (156), assim como na saúde física do que na saúde mental (157-159).

Num estudo com 312 adultos com obesidade (IMC médio de 38,1 kg/m2) participantes num programa de tratamento foi avaliada a sua qualidade de vida relacionada com a saúde (160). Após controlar para factores sociodemográficos e várias comorbilidades, por exemplo depressão, verificou-se uma diminuição significativa em todos os oito domínios do SF-36. Outro estudo estabeleceu a comparação entre um grupo de pessoas

com peso normal e outro grupo de pessoas com pré-obesidade, concluindo que este último grupo indica uma grande redução no funcionamento físico, dor corporal, saúde geral e vitalidade. Para além disso, o funcionamento físico diminui significativamente nas pessoas com obesidade, compararando com pessoas com pré-obesidade (132).

No mesmo sentido apontam os resultados de um estudo com mais de 4000 adultos holandeses, em que maior IMC e perímetro da cintura se associaram a pior funcionamento físico e dor corporal (161). Mais comorbilidades físicas e pior saúde física estão associadas a valores mais elevados de peso corporal (150). A associação negativa do IMC com a qualidade de vida relacionada com a saúde ficou também demonstrada em mais de 14 mil mulheres australianas, com idades compreendidas entre os 43 e os 49 anos, especificamente nas dimensões do funcionamento físico, dor corporal, saúde geral e vitalidade (162). Este estudo indica que na perspectiva da qualidade de vida relacionada com a saúde o intervalo óptimo para o IMC se situa entre 20 e 25 kg/m2.

Comparando com pessoas que não apresentam obesidade, a população com obesidade não manifesta diferenças em termos de distúrbios psicológicos. No entanto, pessoas com obesidade que estejam a tentar perder peso têm maior probabilidade de apresentar desordens alimentares e distúrbios psicológicos do que pessoas com obesidade mas que não estejam a tentar perder peso (163-164). As pessoas que procuram tratamento indicam pior qualidade de vida relacionada com a saúde do que os valores da norma da população (165-166). Um estudo com uma amostra alargada de 3353 adultos comparou a qualidade de vida entre dois grupos de pessoas com obesidade, um que procura tratamento e outro que não procura tratamento, verificou-se que após controlar para o peso e idade, o grupo dos que procura tratamento evidencia pior qualidade de vida (167), evidenciando os resultados que a percepção de qualidade de vida das pessoas que procuram tratamento variou com a intensidade do tratamento. Assim, menor qualidade de vida relacionada com o peso estava associada a maior intensidade na modalidade de tratamento, a qual variou desde o grupo de pessoas que não procuram tratamento, passando ao grupo de participantes num tratamento clínico, para as pessoas inscritas num programa de perda do peso, para participantes num programa diário, até ao grupo de doentes de cirurgia bariátrica.

Dois estudos independentes permitiram concluir que pessoas com intenção de se submeterem a cirurgia bariátrica apresentaram uma percepção de qualidade de vida significamente mais reduzida quando comparadas com um grupo de controlo de pessoas com obesidade, após controlar para o IMC, idade e género (168) e quando comparadas com um grupo de pessoas com obesidade procurando tratamento (169).

Para além disso, vários estudos indicam que pessoas com obesidade à procura de tratamento e que apresentem binge-eating reportam maior distúrbio psicológico do que pessoas com obesidade à procura de tratamento mas que não apresentem binge-eating (170-172). Os resultados de um outro estudo, com um grupo de 110 adultos com obesidade candidatos a cirurgia bariátrica, indicam que o binge-eating tem um significativo impacto negativo na percepção de qualidade de vida geral e específica (173).

Um estudo mais recente documenta o impacto que o binge-eating tem na percepção de qualidade de vida relacionada com o peso, i.e., específica, de pessoas com obesidade. Concluiu-se que os participantes que apresentam binge-eating reportaram pior qualidade de vida relacionada com o peso do que os que não apresentam binge-eating. Esta associação entre a qualidade de vida específica do peso e o binge-eating não é independente, podendo ser explicada por diferenças entre os dois grupos no IMC, nos sintomas depressivos ou em variáveis demográficas, como o género, idade e raça (124).

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