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A Qualidade de Vida da Mulher com IU

CAPÍTULO 2. A QUALIDADE DE VIDA

2.1. A Qualidade de Vida da Mulher com IU

A IU, com os seus sintomas associados, pode causar um significativo impacto na qualidade de vida e uma considerável variedade de perceções e respostas entre as pessoas (Klüber, 2004). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, referenciada por Oliveira et al. (2009), qualidade de vida significa a perceção do indivíduo acerca da sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores

nos quais vive e em relação aos objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Nesta definição está implícito que a qualidade de vida é um conceito subjetivo e, portanto, variável, uma vez que inclui elementos de avaliação tanto positivos, como negativos.

Há um consenso na literatura de que a IU pode afetar adversamente a qualidade de vida, com sérias implicações em muitas esferas, como na psicológica, social, física, económica e no relacionamento pessoal e sexual. A IU apresenta-se não apenas como uma ameaça à autoestima, mas também como fator de isolamento social e depressão (Tamanini et al., 2004).

Oliveira et al. (2009), através do seu estudo, verificaram que há interferência da IU na qualidade de vida das mulheres, porém a maioria das participantes não a considerava como um problema de saúde ou consideravam-na como um processo natural do envelhecimento, adaptando-se, assim, a sua vida diária, facto que pode ser explicado pela sua falta de informação. A escassez de informação a respeito da patologia conduz a que o problema seja ignorado por muitas mulheres que são acometidas pela IU e, até mesmo, por alguns profissionais de saúde.

A qualidade de vida das mulheres com IU é afetada de diversas maneiras. Passam a preocupar-se com a disponibilidade de casas de banho, envergonham-se com o odor da urina e sentem-se frequentemente sujas, chegando a apresentar lesões cutâneas, como a dermatite amoniacal e infeções urinárias repetidas. Muitas apresentam dificuldade no domínio da sexualidade, seja por perda de urina, pelo medo de interrompê-lo para urinar ou simplesmente por vergonha perante o parceiro. Alguns sintomas associados à IU afetam a qualidade do sono das mulheres, como a noctúria e a enurese noturna. A privação de sono pode levar ao cansaço e à diminuição da energia (Auge et al., 2006).

A IU constitui-se como um sintoma com implicações sociais, causando desconforto e perda de autoconfiança, além de interferir, negativamente, na qualidade de vida e na função sexual da mulher. A IU tem consequências na vida pessoal e no desempenho profissional destas mulheres, acarretando um grande impacto na sua qualidade de vida (Higa & Lopes, 2005).

Alguns estudos têm evidenciado uma enorme preocupação com a interferência da IU na qualidade de vida dessas mulheres, dado que os episódios de IU durante as atividades desenvolvidas diariamente são causadores de constrangimento social, disfunção sexual e de baixo desempenho profissional. Estas alterações são fatores de isolamento social, stresse, depressão, sentimento de vergonha, condições de incapacidade e de baixa autoestima (Higa, Lopes & Reis, 2008).

Qualidade de Vida da Mulher Incontinente Urinária

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Temml et al. (2000) cit. in Faria (2010) estudaram o impacto da IU sobre a qualidade de vida em 1.262 mulheres com idade igual ou superior a 20 anos. Nesse grupo de mulheres, 34,3% não apresentavam alteração da qualidade de vida, 47,4 % consideraram o problema como leve, 11,6% referiram que o problema era moderado enquanto 6,7% das mulheres consideraram o problema acentuado.

O mesmo autor, referendo um estudo de Kelleher (2000), refere que a IU é um problema comum que pode afetar mulheres de todas as idades. Constitui-se como um sintoma com implicações sociais, causando desconforto e perda de autoconfiança, além de interferir, negativamente, na qualidade de vida de muitas delas.

Dedicação et al. (2008), no seu estudo, compararam o impacto do tipo de incontinência urinária sobre a qualidade de vida em mulheres. Concluíram que a maioria das mulheres (44%) apresentou IUM. A idade das mulheres acometidas por hiperatividade vesical foi significativamente maior comparativamente à idade das outras mulheres. As participantes acometidas por IUM apresentaram um impacto negativo significativamente maior sobre a qualidade de vida (domínio perceção geral da saúde) e sobre a perceção do que a incontinência afeta de modo negativo a própria vida em comparação com as restantes mulheres. Ou seja, verificaram que as mulheres com IUM apresentaram um maior impacto negativo sobre a sua qualidade de vida.

De acordo com Bushnell et al. (2005), a IU é um problema de saúde comum entre as mulheres. É mais do que uma simples condição fisiológica, tendo de se ter em conta fatores relevantes, como: o tipo, a frequência, a severidade, os fatores desencadeantes, o impacto social, os efeitos na higiene e o impacto sobre a qualidade de vida (física, emocional e social).

Burgio et al. (2006) verificaram que a satisfação da mulher para com a sua qualidade de vida não está só relacionada com a diminuição da incontinência, pois nem todas as mulheres que se tornaram continentes estão completamente satisfeitas, demonstrando a necessidade da introdução de métodos que avaliem esse impacto, como os questionários específicos para a qualidade de vida

Oh e Ku (2006) compararam os resultados do exame de teste do absorvente com as respostas que as mulheres deram a um questionário generalista de qualidade de vida (o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form General Health Survey-SF-36) e a um questionário específico para a IU, o Incontinence quality of life-IQoL. Foi verificado que as mulheres que apresentaram os graus mais severos de IU, de acordo com o teste do absorvente, foram as que demonstraram um maior impacto na qualidade de vida, detetado pelo questionário específico em quase todos os domínios; o mesmo não ocorreu com o questionário generalista, sendo que apenas dois

domínios apresentaram resultados significativos, demonstrando que os questionários de condições específicas aplicados a uma determinada doença são mais sensíveis para as questões clínicas relevantes do que os questionários gerais.

Em suma, a IU exerce múltiplos efeitos sobre as atividades diárias, interações sociais e perceção própria de saúde. Os maiores problemas relacionam-se com o bem-estar social e mental, incluindo os problemas sexuais, o isolamento social, a baixa autoestima, a vulnerabilidade ao stresse e a depressão, afetando de modo significativo a qualidade de vida, com consequências psicológicas, físicas, profissionais, sexuais e sociais (Araújo et al., 2007).

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