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2. O MUNDO DO TRABALHO E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES

2.2. Qualificação e competência nos espaços

A Constituição Brasileira disciplina as ações referentes à segurança pública. Estas aparecem no artigo 144, elencando órgãos responsáveis por sua manutenção. As demandas das instituições policiais, por exemplo, são inúmeras, desgastando-se, com o passar do tempo, pela falta de modernização tanto estrutural como também pela falta de qualificação do material humano que as compõe, ou seja, de profissionais competentes.

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O patrulhamento a pé tem o significado de afastamento do controle reativo do crime para a prevenção do mesmo, ou seja, um policiamento voltado para a comunidade, no qual envolve mudanças fundamentais no modo como esses policiais executam suas funções (SKOLNICK, 2002). No BPChq a patrulha a pé é utilizada no policiamento de eventos, festas, bem como na necessidade de progressão em áreas urbanas ou rurais, nos quais as viaturas não tenham condições de adentrar.

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De acordo com Moretto (2008), entende-se por uma pessoa competente aquela que tem os recursos para realizar uma determinada tarefa. Para o autor, o conceito de competência está relacionado à qualidade da execução de uma tarefa proposta ou a resolução de uma situação complexa. Para isso é necessário o conhecimento do problema; habilidades específicas para resolver o problema; o domínio das linguagens específicas a cada contexto, bem como a capacidade de administrar emocionalmente a situação-problema. Aqui podemos relacionar ao contexto policial, o quanto de qualificação se faz necessário para o bom desempenho das funções.

Quanto à qualificação profissional, sabe-se que o atual modelo de competências envolve tanto as cognitivas como as comportamentais. Posthuma (1998) salienta que as atividades das mulheres são, em geral, desvalorizadas e que as oportunidades de qualificação são bastante restritas em comparação aos homens. A eles são oferecidos capacitação nos dois níveis, cognitivo e comportamental. Às mulheres, se destinam os cursos comportamentais, chocando-se, portanto, com o novo modelo produtivo de valorização das habilidades.

Ainda sobre qualificação, Dubar (1998) a coloca sob dois sentidos: o de habilidade profissional (as práticas, saberes e experiências) e a qualificação técnica (conhecimentos formalizados). Esta se dá como resultado de uma relação social dinâmica, implicando em negociação coletiva. Quanto à competência, Dubar faz referência à noção de qualificação social proposta por Alain Touraine para orientá-la. A empresa reconhece as competências do indivíduo e as transforma em desempenho. As competências segundo Paiva (2001), têm como base objetiva a transformação produtiva, rapidez na comunicação, internacionalização do capital e da competição. E para Lazzarato (2001), a noção de competência envolve o trabalho horizontal, interação e comunicação mediada pela linguagem. Dentro da perspectiva que Hirata (2003) coloca de que o trabalho cooperativo implica em polivalência e rotação de tarefas, o novo modelo produtivo visa a uma qualificação que não se desvincula da noção de competência, no qual pressupõe maior envolvimento, participação e cooperação.

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Os dois termos, qualificação e competência, são apenas categorias utilizadas por certos atores, a depender das circunstâncias, tanto para legitimar coletivamente como para o reconhecimento individual (DUBAR, 1998). Segundo Markert (2004), o mais difícil é trabalhar as relações ao invés da qualificação para as máquinas, pois a qualificação é a fusão de conceitos que formam as competências e estas são relacionais e não apenas técnicas. Desse modo, entre avanços e transformações no mundo do trabalho nas recentes décadas é que a crise do emprego colocada por Hirata (2002), bem como as novas formas de organização de tarefas e trabalho, mostra um indivíduo polivalente e multifuncional, a fim de contrapor-se ao problema do desemprego proposto por Pochmann (2001).

2.2.1. O patrulhamento nas ruas de Aracaju: conflitos do cotidiano

Os contornos da riqueza e da pobreza se desnudam aos olhos dos componentes das equipes de patrulhamento diariamente. Basta observar em uma das práticas do serviço operacional, que é a ronda ostensiva, a quantidade de bairros e seus diferentes públicos. A diversidade de grupos sociais que vão aparecendo na lente dos patrulheiros que estão à procura e a espera de cometimentos de crimes.

Os espaços ocupados dentro das viaturas por homens e mulheres policiais perfazem uma rotina na qual atenção e cuidado com o outro são elementos constantes. Observando os componentes de uma equipe em uma situação de abordagem, na qual os níveis de estresse são elevados, pode-se perceber a importância de se estabelecer confiança mútua na equipe. O posicionamento de cada um, a atenção aos comandos específicos, o perigo iminente de morte ao se realizar por exemplo uma abordagem a um veículo suspeito , com vidros levantados, sem que se saiba o que poderá acontecer, revelam circunstâncias extremas nas quais o entrosamento, o discernimento e

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repito, a confiança mútua tornam-se elementos cruciais na rotina de trabalho do patrulhamento tático desenvolvido pelo BPChq.

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Figura 14: Movimentos no patrulhamento tático diário Fonte: Foto Acervo BPChq.

Atualmente, a doutrina do Batalhão de Choque destaca como princípio básico para homens e mulheres servirem no cotidiano da unidade, o voluntariado. Isso difere de outros tempos nos quais muitos foram forçados a trabalhar lá, muitas vezes sem o conhecimento prévio da mudança.

As equipes táticas, em geral, são compostas por quatro policiais, sendo comandada por um oficial, sargento ou cabo. O primeiro é o responsável pela coordenação da guarnição, ou seja, o comandante. O segundo é o motorista da equipe. O terceiro é responsável pelo equipamento e armamento da viatura, resguarda a lateral esquerda e retaguarda do veiculo e quando em deslocamento faz a segurança do motorista. O quarto componente faz as anotações gerais, a localização, resguarda a lateral direita e retaguarda da viatura e é encarregado da busca pessoal nas abordagens.

Algumas características individuais devem ser elencadas para um bom desempenho do policiamento operacional, tais como a observação. Um bom observador compreende um ambiente na sua totalidade e tende a ser um bom policial. Outra é a atenção, pois ao mesmo tempo em que ele ou ela precisam

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estar totalmente focados no que eles estão fazendo, a visão periférica tem que estar acionada de modo que não perca o domínio do ambiente. Observação, atenção, poder de decisão. Em determinadas situações, situações de perigo real, por vezes a questão da hierarquia desaparece e prevalece quem tem mais equilíbrio. Outra boa característica para um bom policial é uma boa oratória, uma pessoa que se comunica bem, haja vista o policial ter como missão o contato direto com a sociedade, dentre suas atribuições.

As atribuições do patrulhamento tático motorizado são, entre outras, a recobertura de área94, saturação, prevenção e também a repressão em áreas com altos índices de criminalidade. São desenvolvias ações de abordagens a veículos, pessoas e locais; escolta e proteção de dignitários, presos, testemunhas, segundo regras definidas pela corporação para o policiamento.

Decerto que, as práticas de policiamento moderno segundo Brodeur (2002) apontam para a integração entre as forças policias, perfazendo, assim, o caminho de um trabalho em conjunto, mesmo com a complexidade inerente ao sistema. O autor considera que a polícia deve focar em problemas substantivos, melhorando seu desempenho e o relacionamento com a sociedade. Sobre esse relacionamento, recorremos ao pensamento de Bayley (2002), quando este adverte que “o relacionamento da polícia com a sociedade é recíproco - a sociedade molda o que a polícia é e a polícia influencia aquilo em que a sociedade pode se tornar”.

No policiamento operacional essas práticas ainda são bastante conflituosas, haja vista o fato de a polícia estar autorizada a utilizar a força física para regular as ações do cotidiano social. Com isso a sociedade mesmo precisando tende a hostilizá-la. O contexto social e a polícia, a polícia e a polícia, são encontros que merecem observação. No que se refere às relações desenvolvidas no âmbito interno do policiamento operacional, passemos, então, às análises das entrevistas a fim de atender os propósitos desta pesquisa.

94 Aracaju e os municípios da Grande Aracaju, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Nossa

Senhora do Socorro são divididos por áreas de atuação. Essas áreas possuem viaturas do policiamento ordinário que estão incumbidas de realizar o policiamento. Quando há demandas específicas nessas áreas, já cobertas, há a recobertura da área através do policiamento tático motorizado realizado pelo BPChq e RP.

107 CAPÍTULO III

“Gostaria de perceber que no momento de falar uma voz sem nome me precedia há muito tempo: bastaria, então, que eu encadeasse, prosseguisse a frase, me alojasse, sem ser percebido, em seus interstícios. Como se ela me houvesse dado um sinal, mantendo-se, por um instante, suspensa. Não haveria, portanto, começo; e em vez de ser aquele de quem parte o discurso, eu seria, antes, ao acaso de seu desenrolar, uma estreita lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível.”

(FOUCAULT, 1999, p. 03)

3. CONCEPÇÕES E EXPECTATIVAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO DAS

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