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6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.3. Os Recursos Humanos

6.3.3. Qualificação

Pela análise dos dados obtidos através da percepção dos conselheiros é possível identificar que os mesmos possuem um bom conhecimento de temáticas de relevante interesse para a condução dos trabalhos no âmbito rural, como também sobre questões referentes à dinâmica do trabalho, o que pode ser explicado pela alta participação de conselheiros com formação acadêmica, cuja atividade profissional exige conhecimento de assuntos como os relacionados às técnicas de condução de reuniões, relações interpessoais, entre outros. Se a grande maioria das representações fosse de agricultores rurais com certeza as temáticas com um grau mais aprofundado de conhecimento seriam outras.

Os temas sobre os quais os conselheiros admitem possuírem um bom conhecimento são:

• Municipalização da Agricultura; • Processos de Planejamento;

• O que é Desenvolvimento Local Sustentável; • Possíveis formas de articulação do CMDR; • Técnicas de condução de reuniões;

• Agronegócio; • Agroecologia;

• Conhecimento sobre a realidade rural do município;

• Conhecimento sobre as organizações de agricultores rurais existentes no município.

A partir do levantamento feito através dos questionários foi possível identificar também quais são os assuntos que os conselheiros têm pouco ou nenhum conhecimento e que merecem ser conteúdo de algum seminário ou curso de capacitação no futuro:

• Conhecimento Máquina Administrativa Municipal30 (questões referentes ao

funcionamento do governo); • Crédito Rural;

• Legislação Rural; • Turismo Rural.

Porém, alguns dados obtidos através da aplicação dos questionários dão margem ao questionamento da qualificação dos conselheiros sobre as temáticas relacionadas ao motivo de criação do CMDR, seu papel no município, a maneira com que os objetivos são definidos e priorizados, o limite de atuação do conselho, bem como sobre técnicas de planejamento. Por exemplo, 7 dos respondentes desconhecem que a criação do CMDR tem relação direta com a municipalização da agricultura (após a municipalização a criação dos Conselhos é uma condição obrigatória para que o município se vinculasse ao Sistema Estadual Integrado de Agricultura e Abastecimento).

Ao serem indagados sobre o motivo de criação do CMDR, os conselheiros aparentaram exprimir suas expectativas quanto ao papel que o Conselho deve cumprir, como foi visto na revisão bibliográfica a respeito das expectativas que autores e atores envolvidos com os Conselhos municipais criaram sobre os papéis que os mesmos devam cumprir:

30 Elenaldo Celso Teixeira (2000:117) é da opinião que “(...) é crucial para o bom desempenho dos

representantes que estes conheçam o funcionamento do aparelho estatal, os mecanismos legais que podem ser utilizados para a efetivação dos direitos conquistados, a sistemática de análise e elaboração do orçamento e

• “Necessidade de abrir espaço de discussão para os problemas rurais e articular instituições de pesquisa, assistência técnica, produtores e comerciantes dos produtos agropecuários da área rural de Campinas” - Conselheiro H. Y. S. – CONSABs;

• “A percepção da existência da urbanização desorganizada com a ocupação de parte da área rural de Campinas, podendo acarretar os mesmos problemas verificados na área metropolitana, periferia e cinturão verde São Paulo- Capital, nas décadas passadas. A existência de entidades e instituições capacitadas a contribuir com o desenvolvimento da área rural de maneira sustentável” - Conselheiro P. E. T. – IAC;

• “Para uma maior participação dos agricultores da região de Campinas” - Conselheiro H. S. F.- Sindicato Rural de Campinas;

• “Melhorar a qualidade de vida do homem no meio rural, evitando o êxodo e manter a agricultura como atividade econômica sustentável” - Conselheiro R. F. C – Sindicato Rural de Campinas;

• “Devido ao fato de que o município de Campinas tem presença na agricultura Paulista” - Conselheiro E. E. M – FEAGRI;

• “A busca do desenvolvimento rural sustentado” - Conselheiro A. E. C. – sindicato Rural de Campinas;

• “Não tenho muito claro os reais motivos de criação do CMDR em Campinas. Num primeiro momento pareceu-me existirem interesses imobiliários na ocupação da terra em Campinas” - Conselheiro S. H. N. G. M. – CEASA;

Apenas 4 conselheiros têm algum conhecimento acerca dos motivos de criação do CMDR do município de Campinas:

• “Necessidade de atendimento à legislação” - Conselheiro F. P. N – IAC;

• “A política da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado que almejava a descentralização dos trabalhos do setor público (...)” - Conselheiro P. N. T. – CATI;

• “Reestruturação do Sistema da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado aliada a incentivos da própria política para a criação dos Conselhos municipais e conseqüentes planos municipais de Desenvolvimento Rural” - Conselheiro J. L. C. – FEAGRI;

• “Como todos os CMDRs, foi o estímulo do governo federal que vinculou a possibilidade de apoio aos municípios à existência de um CMDR (por exemplo PRONAF infra-estrutura) e a ação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento na montagem de um Sistema Nacional de CMDRs” - Conselheiro A. O. S. J – CEASA;

Somente 2 dos respondentes acreditam que o CMDR passou por um processo formal de planejamento em função da elaboração do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural do município; o que não aconteceu de fato.

Tais informações mostram a necessidade de cursos ou palestras de capacitação dos mesmos para um melhor entendimento acerca dos processos políticos que envolvem a criação dos Conselhos gestores, da real capacidade de alcance das ações realizadas pelo CMDR, como também de processos de planejamento para que os conselheiros possam definir, priorizar e monitorar os objetivos a serem realizados e, dessa maneira, desempenhar seu papel dentro do Conselho com qualidade, construindo assim um efetivo poder de influência acerca da definição das diretrizes a serem seguidas pelo CMDR.

De maneira geral, autores como GOHN (2001), TEIXEIRA (2000), CRUZ (2000), TATAGIBA (2002), ABRAMOVAY (2001), SANTOS (2001). entre outros, concordam que são necessários cursos de capacitação para que os conselheiros enriqueçam e qualifiquem sua participação nos Conselhos:

• “É necessário realizar atividades de capacitação com visão global, discutindo o papel dos diversos atores, bem como as questões técnicas e operacionais”. CRUZ (2000: 77)

• “A participação, para ser efetiva, precisa ser qualificada, ou seja, não basta a presença numérica de pessoas porque o acesso está aberto. É preciso dotá-las de informações e conhecimentos sobre o funcionamento das estruturas estatais.

Não se trata, em absoluto, de integrá-la, incorporá-la à teia burocrática. Elas têm o direito de conhecer essa teia para poder intervir de forma a exercitar uma cidadania ativa, não regulada, outorgada, passiva”. GOHN (2001:95)