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RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.3 – QUANTIFICAÇÃO TEMPORAL DA FLORA NATIVA

O agrupamento das fisionomias vegetais (floresta estacional semidecidual, campo rupestre e campo), constituindo a Classe Flora Nativa, se torna importante no processo de avaliação do estado de percolação da paisagem. Estas fisionomias se encontram distribuídas de maneira contígua na região do Espinhaço Sul, formando paisagens de habitats naturais com potencial para facilitar a ocorrência de fluxos biológicos. Na análise conjunta da vegetação é atribuída equivalente importância ecológica às fisionomias que compõem a flora nativa.

Em se tratando de proteção da diversidade biológica é preciso considerar que muitas espécies se movem entre habitats diferentes ou vivem nas fronteiras onde dois habitats se encontram (Primack & Rodrigues 2001). Nesse contexto, as áreas protegidas e suas respectivas zonas de amortecimento, bem como a criação de corredores ecológicos, com intuito de preservar a flora nativa, podem proporcionar os meios necessários para a manutenção dos fluxos biológicos.

O mapeamento da flora nativa para os anos de 1985 e 2008 está representado pelas Classes Flora Nativa, Água e Outros, conforme pode ser observado nas Figuras 6.9 e 6.10.

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Figura 6.9 – Mapa da flora nativa 1985 e unidades de conservação em destaque, Espinhaço Sul (MG).

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Figura 6.10 – Mapa da flora nativa 2008 e unidades de conservação em destaque, Espinhaço Sul (MG).

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A extensão coberta pela classe Flora Nativa na área estudada, em 1985, era de 69,59% (95.508,26 ha) e passou para 72,12% (98.980,54 ha) em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico, incluindo a classe Outros e a classe Água, correspondia a 30,41% (41.735,98 ha) em 1985, porém passou para 27,88% (38.263,69 ha) em 2008. A Figura 6.11 ilustra a variação quantitativa da cobertura do solo entre os anos de 1985 e 2008.

0 20 40 60 80 100 120 1985 2008 (%) uso antrópico flora nativa

Figura 6.11 – Quantificação da cobertura do solo para os anos de 1985 e 2008

Percebe-se com os dados obtidos que a supressão da flora nativa mostrou-se dispersa por toda paisagem estudada, contudo a análise quantitativa denota que a recuperação da vegetação ao longo dos anos foi superior ao desmatamento. O mapa de detecção de diferenças das classes temáticas (Figura 6.12), entre os anos de 1985 e 2008, demonstra que as intervenções mais proeminentes na vegetação se deram na porção nordeste, coincidindo com o complexo minerador existente na região. É possível observar que a mineração desenvolvida nesta região ocorre a céu aberto com o uso de áreas para disposição de pilhas de estéril e rejeitos, caracterizadas no mapa da flora nativa (Figuras 6.9 e 6.10) como atividades antrópicas representadas pela Classe Outros (clareiras provenientes das áreas mineradas) e pela Classe Água (barragens de rejeitos).

Os resultados observados sobre as mudanças ocorridas na cobertura do solo (Figura 6.12) mostram que apesar da recuperação da vegetação nativa ter sido superior ao desmatamento, as novas frentes desmatadas entre 1985 e 2008 correspondem a 11,80% da extensão da área de estudo. Estes dados contribuem para verificação da tendência do desmatamento.

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Figura 6.12 – Mapa de detecção de diferenças entre as classes temáticas (1985 a 2008).

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A paisagem estudada, reconhecida como de relevante importância biológica (Drummond et al. 2005), apresenta 72,12% de sua extensão ocupada por vegetação nativa, evidenciando o bom nível de conservação que praticamente foi mantido ao longo dos últimos 23 anos. As áreas protegidas existentes na região, provavelmente, contribuíram para este cenário ambientalmente favorável à preservação da biodiversidade. Contudo, torna-se necessário analisar a configuração estrutural da paisagem para verificar o estado da fragmentação da flora nativa e suas possíveis implicações na conectividade entre as áreas protegidas.

6.3.1 – Quantificação da Flora Nativa nas Áreas Protegidas

Parque Estadual do Itacolomi

Os dados revelam que a área de vegetação nativa no interior do Parque Estadual do Itacolomi diminuiu ao longo dos anos, passando de 83,85% em 1985 para 79,55% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 16,00% em 1985 e a 20,28% em 2008; os reservatórios representados pela Classe Água, correspondiam a 0,15% em 1985 e a 0,17% em 2008 (Tabela 6.6).

Tabela 6.6 – Dinâmica da composição da flora nativa no PE Itacolomi entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 83,85 6.324,80 79,55 6.000,46 Outros 16,00 1.206,88 20,28 1.529,72 Água 0,15 11,32 0,17 12,82 Total 100 7.543 100 7.543

A análise temporal mostra que houve perda de aproximadamente 324 ha de flora nativa, principalmente na classe representada pela floresta estacional semidecidual, ao longo do período de 23 anos. Este resultado reforça a recomendação contida no Plano de Manejo do Parque (SEMAD 2007) sobre a necessidade de investimentos para garantir a efetividade de conservação da biodiversidade nos limites do Parque, que abriga aproximadamente 11% de toda a biodiversidade conhecida para Minas Gerais, número expressivo para uma única UC.

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Os problemas relativos a situação fundiária do Parque Estadual, bem como a sua proximidade com as áreas urbanas de Ouro Preto e Mariana, destacam-se entre os principais motivos que contribuíram para o decréscimo da área de vegetação nativa entre os anos de 1985 e 2008.

Estação Ecológica do Tripuí

Os resultados da quantificação da vegetação na Estação Ecológica do Tripuí mostram que houve acréscimo da área coberta por flora nativa, passando de 89,58% em 1985 para 94,35% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 10,42% em 1985 e a 5,65% em 2008. Não foram detectados reservatórios de água na Estação Ecológica (Classe Água), em decorrência da resolução espacial da imagem orbital utilizada (Tabela 6.7).

Tabela 6.7 – Dinâmica da composição da flora nativa na EE Tripuí entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 89,58 301,88 94,35 317,95 Outros 10,42 35,12 5,65 19,05 Total 100 337 100 337

O acréscimo da área de flora nativa foi de 4,77%, aproximadamente 16 ha, representados principalmente pela floresta estacional semidecidual. Tal resultado permite constatar que mesmo com as pressões antrópicas que circundam a Estação Ecológica e apesar do Plano de Manejo não ter sido aplicado em sua íntegra, o estado de conservação da flora nativa se manteve efetivo ao longo dos anos.

Área de Proteção Especial Estadual do Veríssimo

A análise quantitativa da vegetação na APE Veríssimo revela que houve acréscimo da área coberta por flora nativa, passando de 56,71% em 1985 para 73,13% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 43,29% em 1985 e a 26,86% em 2008.Não foram detectados reservatórios de água na APE (Classe Água), em decorrência da resolução espacial da imagem orbital utilizada (Tabela 6.8).

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Tabela 6.8 – Dinâmica da composição da flora nativa na APE Veríssimo entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 56,71 1.134,20 73,13 1.462,60 Outros 43,29 865,80 26,87 537,40 Total 100 2.000 100 2.000

O acréscimo da área de flora nativa foi de 16,42%, aproximadamente 328 ha, representados principalmente pela classe campo. Tal resultado permite constatar que a APE Veríssimo apresentou melhoria significativa em termos de uso do solo ou cobertura vegetal. Vários foram os instrumentos legais direcionados à proteção da Serra do Ouro Branco (tombamento estadual e municipal), além do interesse na preservação da área pela COPASA (Ouro Branco), que realiza o seu monitoramento informalmente.

Área de Proteção Ambiental Seminário Menor de Mariana

A análise quantitativa da vegetação na APA do Seminário revela que houve diminuição da área coberta por flora nativa, passando de 78,24% em 1985 para 77,10% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 21,75% em 1985 e a 22,90% em 2008. Não foram detectados reservatórios de água na APA (Classe Água), em decorrência da resolução espacial da imagem orbital utilizada(Tabela 6.9).

Tabela 6.9 – Dinâmica da composição da flora nativa na APA Seminário Menor de Mariana entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 78,24 273,87 77,10 269,87 Outros 21,76 76,13 22,90 80,13 Total 100 350 100 350

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A análise temporal mostra que houve perda de aproximadamente 4 ha de flora nativa no interior da APA, representada principalmente pela classe florestal. A proximidade da APA do Seminário com a área urbana de Mariana provavelmente contribui para a degradação da flora nativa desta unidade de conservação que apresenta boa parte da vegetação remanescente em estado inicial de regeneração.

Área de Proteção Permanente Gruta da Igrejinha

A análise quantitativa da vegetação na APP Gruta da Igrejinha revela que houve diminuição da área coberta por flora nativa, passando de 85,63% em 1985 para 82,70% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 14,37% em 1985 e a 17,30% em 2008. Não foram detectados reservatórios de água na APP (Classe Água), em decorrência da resolução espacial da imagem orbital utilizada (Tabela 6.10).

Tabela 6.10 – Dinâmica da composição da flora nativa na APP Gruta da Igrejinha entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 85,63 589,13 82,70 568,98 Outros 14,37 98,87 17,30 119,02 Total 100 688 100 688

A APP Gruta da Igrejinha se encontra numa região de difícil acesso e que foi intensamente minerada na década de 1980. Em seu entorno, a comunidade Morro do Gabriel, município de Ouro Branco, acha-se isolada e sem alternativas econômicas, situação agravada após o término das atividades minerárias. Os dados relativos à cobertura do solo mostram que após a criação da APP em 1982, a área ainda sofreu interferências antrópicas que se refletiram na perda de aproximadamente 20 hectares de flora nativa, com base no período de análise entre 1985 e 2008, representados principalmente pela classe floresta estacional semidecidual. O isolamento e a pressão mineradora no entorno da APP, provavelmente são os principais impedimentos à conservação desta área protegida, demonstrando a necessidade de implementação de instrumentos de gestão (além do Decreto de criação da APP) para que a vegetação remanescente seja preservada.

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Área de Proteção Ambiental Cachoeira das Andorinhas

A análise quantitativa da vegetação na APA das Andorinhas revela que houve ligeira diminuição da área coberta por flora nativa, passando de 82,95% em 1985 para 82,21% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 17,04% em 1985 e a 17,78% em 2008; os reservatórios representados pela Classe Água, correspondiam a 0,003% em 1985 e a 0,004% em 2008 (Tabela 6.11). Torna-se necessário levar em consideração a resolução espacial da imagem orbital utilizada para justificar a baixa representatividade da Classe Água na APA Andorinhas.

Tabela 6.11 – Dinâmica da composição da flora nativa na APA Cachoeira das Andorinhas entre 1985 e 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 82,950 15.511,65 82,215 15.374,20 Outros 17,047 3.187,78 17,781 3.325,04 Água 0,003 0,57 0,004 0,76 Total 100 18.700 100 18.700

Os resultados mostram que mesmo com significativa área ocupada por flora nativa, houve perda de aproximadamente 138 ha de vegetação, representada principalmente pela classe floresta estacional semidecidual. Apesar do apoio institucional do Instituto Estadual de Florestas (IEF), a APA Cachoeira das Andorinhas carece de instrumento gerenciador, como o Plano de Manejo, para direcionar o desenvolvimento de alternativas econômicas aos produtores residentes em sua área, em conjunto com a preservação ambiental.

Floresta Estadual do Uaimii

A análise quantitativa da vegetação na Floresta Estadual revela que houve acréscimo da área coberta por flora nativa, passando de 95,26% em 1985 para 97,98% em 2008. A área caracterizada como de uso antrópico (Classe Outros) correspondia a 4,74% em 1985 e a 2,02% em 2008. Não foram detectados reservatórios de água na FLOE (Classe Água), em decorrência da resolução espacial da imagem orbital utilizada(Tabela 6.12).

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Tabela 6.12 – Dinâmica da composição da flora nativa na FLOE Uaimii entre 1985 a 2008

Área (1985) Área (2008) Classes temáticas (%) (ha) (%) (ha) Flora nativa 95,26 4.189,53 97,98 4.309,16 Outros e Água 4,74 208,47 2,02 88,84 Total 100 4.398 100 4.398

A análise temporal mostra que a FLOE Uaimii possui, entre as áreas protegidas consideradas no estudo, a maior concentração de flora nativa. O acréscimo de quase 120 ha de flora nativa, entre os anos de 1985 e 2008, se deve em grande parte à regeneração da classe florestal e a diminuição das interferências de caráter antrópico.

De acordo com o Carvalho et al. (2009), as atividades minerárias predominaram no Distrito de São Bartolomeu até meados da década de 1930, sendo substituída por atividade carvoeira que perdurou até 1980, entrando em posterior declínio concomitantemente com início da exploração comercial de candeia e maior rigor nas fiscalizações ambientais.

6.3.2 – Análise das Áreas Protegidas no Contexto da Paisagem

A análise da quantificação da vegetação nativa no Espinhaço Sul (Figuras 6.9 e 6.10) mostra a existência de grandes extensões territoriais ocupadas por manchas de vegetação remanescentes, indicando que a matriz onde as áreas protegidas estão inseridas se manteve em condições favoráveis à preservação da biodiversidade.

No entanto, as informações levantadas sobre as áreas protegidas (Quadro 4.2) e a análise da dinâmica e quantificação da cobertura do solo (itens 6.2 e 6.3) permitem apontar os principais fatores que ameaçam a interligação destas áreas protegidas, destacando-se: crescimento desordenado das áreas urbanas dos municípios de Ouro Preto e Mariana; o grande interesse mineral que a região desperta como um todo, inclusive no interior das áreas protegidas (Figuras 6.6 e 6.7); a inexistência de corredores ecológicos ou de biodiversidade visando assegurar o fluxo biológico no mosaico de áreas protegidas.

Outro fator importante a ser considerado refere-se à diferenciação entre as tipologias de áreas protegidas existentes no Brasil. Segundo Medeiros (2006), as unidades de conservação, nomenclatura estabelecida no SNUC (Brasil 2000), apresentam maior visibilidade e respaldo administrativo e devem ser dotadas de instrumento de gestão (Plano de Manejo) que lhes confiram maior condição de preservar os recursos naturais em seu interior e respectivo entorno (Zona de Amortecimento).

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As demais áreas protegidas (Área de Preservação Permanente e Área de Proteção Especial Estadual), instituídas legalmente pelo Código Florestal de 1965 (Brasil 1965) e pela Lei de Parcelamento do Solo (Brasil 1979), não possuem instrumento norteador (Plano de Manejo) e ficam em situação mais vulnerável às degradações ambientais de origem antrópica.