• Nenhum resultado encontrado

Quanto ao controle e à eliminação de moluscos de interesse epidemiológico

B. straminea, tenagophila

9 Legislação Ambiental Comentada

9.3 Quanto ao controle e à eliminação de moluscos de interesse epidemiológico

Conforme foi mencionado anteriormente, a destruição de animais silvestres será permitida, mediante licença da autoridade competente, quando os espécimes em questão forem considerados nocivos.

Artigo 3o da Lei n.º 5.197, de 3 de janeiro de 1967 (Lei da Fauna):

§ 2º - Será permitida, mediante licença da autoridade compe- tente, a apanha de ovos, larvas e filhotes que se destinem aos estabelecimentos acima referidos, bem como a destruição de animais silvestres considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública. (BRASIL, 1967, art. 3°).

Artigo 37 da Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais):

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. (BRASIL, 1998, art. 37).

São entendidos como órgãos competentes para caracterizar um animal como nocivo à saúde pública os órgãos vinculados ao Ministério da Saúde, em concordância com o órgão ambiental federal.

Nos casos específicos do caramujo transmissor da esquistossomose e de demais inver- tebrados de interesse epidemiológico previstos em programas oficiais de governo, o controle e a eliminação podem ser efetuados pelos órgãos vinculados ao Ministério da Saúde sem a necessidade de autorização do órgão ambiental competente, conforme regulamentação pre-

vista na Instrução Normativa Ibama no 109, de 3 de agosto de 2006 (anexo J):

Art. 4º. O estudo, manejo ou controle da fauna sinantrópica nociva, previstos em programas de âmbito nacional desenvolvi- dos pelos órgãos federais da Saúde e da Agricultura, bem como

pelos órgãos a eles vinculados, serão analisados e autorizados pela Diretoria de Fauna e dos Recursos Pesqueiros do Ibama (Difap/Ibama) ou pelas Superintendências do Ibama nos esta- dos, de acordo com a regulamentação específica vigente. § 1o - Observada a legislação e as demais regulamentações vi- gentes, são espécies passíveis de controle por órgãos de governo da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente, sem a necessi- dade de autorização do órgão ambiental competente:

a) Invertebrados de interesse epidemiológico, previstos em pro- gramas e ação de governo, tal como: insetos hematófagos (he- mípteros e dípteros), ácaros, helmintos e moluscos de interesse epidemiológico, artrópodes peçonhentos e invertebrados classi- ficados como pragas agrícolas pelo Ministério da Agricultura. (BRASIL, 2006b)

É importante ressaltar que a caracterização de nocividade deve ser aplicada apenas sobre um grupo ou uma população de animais específicos de uma determinada região e não à espécie como um todo.

Controle Biológico

Quanto à atividade de controle de moluscos de interesse epidemiológico, utilizando- se métodos biológicos com introdução de espécimes competidores ou predadores, deve-se ressaltar que:

a) A Lei n.° 9.605 (BRASIL, 1998) e o Decreto n.° 3.179 (BRASIL, 1999) caracteri- zam como infração a introdução de “espécime animal no País, sem parecer técnico

oficial favorável e licença expedida por autoridade competente”.

b) O transporte e a introdução de espécimes da fauna silvestre em ambiente natural fora da área de distribuição natural de suas populações devem estar devidamente autorizados pelo órgão federal competente.

Controle físico

Quanto aos métodos físicos de manejo dos criadouros, que se utilizam da modifica- ção de sua estrutura e composição física:

a) A Resolução Conama n.° 303, de 20 de março de 2002 (BRASIL, 2002a), consi- dera como Áreas de Preservação Permanente (APPs): faixas marginais de cursos d’água, entorno de nascentes, veredas marginais de brejos e encharcados, restin- gas, mangues, entre outras áreas.

b) Considerando-se a possibilidade de soterramento de um corpo d’água como méto- do para a eliminação de um foco de esquistossomose e que tenha como conseqüên- cia direta ou indireta a supressão da vegetação na área de preservação permanente,

deve-se observar o artigo 4o da Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965 (Código

Florestal), que estabelece o seguinte:

Art. 4o. A supressão de vegetação em área de preservação per- manente somente poderá ser autorizada em caso de utilida- de pública (grifo nosso) ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (artigo com redação determinada pela MP n.º 2.166-67/2001). (BRASIL, 1965).

O artigo 1o, parágrafo 2o, item IV da referida Lei define as atividades de proteção

sanitária como de utilidade pública.

c) A supressão de que trata o artigo 4o da Lei n.º 4.771/65 (BRASIL, 1965) dependerá

de autorização do órgão ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou municipal de meio ambiente.

Controle químico

Quanto aos métodos químicos com uso de moluscicidas:

a) A Lei n.° 7.802, de 11 de julho de 1989 (BRASIL, 1989), e o Decreto n.° 4.074, de 4 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002b), o qual a regulamenta, dispõem sobre a ne- cessidade de autorizações para o uso de agrotóxicos e afins para a pesquisa e a ex- perimentação, regulamentando também a produção, a embalagem, a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utili- zação, a importação, a exportação, e destino final dos resíduos e das embalagens, seus registros e classificações, além das competências para o controle e a inspeção de procedimentos e responsabilidades sobre infrações das normatizações.

b) A referida legislação determina competências ao Ministério da Agricultura, ao Ministério da Saúde e ao Ministério do Meio Ambiente quanto ao registro, à re- gulamentação específica e à fiscalização de uso de agrotóxicos e afins.

c) Qualquer um dos três Ministérios pode conceder o Registro Especial Temporário (RET) – “ato destinado a atribuir o direito de utilizar um agrotóxico, componente ou

afim para finalidades específicas em pesquisa e experimentação, por tempo determi- nado, podendo conferir o direito de importar ou produzir a quantidade necessária à pesquisa e experimentação” – desde que em concordância com as normas estabe-

d) Para os demais usos dos agrotóxicos e afins, há necessidade de se requerer registro específico, atendendo a diretrizes e exigências dos órgãos federais competentes da agricultura, da saúde e do meio ambiente.

e) A Anvisa é o órgão federal responsável, junto ao Ministério da Saúde, pela conces- são de registro de produtos moluscicidas de uso domissanitário.

f) No Ibama, a Coordenação de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas (Co- asq), da Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental (Diliq), é responsável por avaliar, controlar, orientar e incentivar ações referentes aos processos e aos produtos alternativos ao uso de agrotóxicos e afins, bem como por avaliar efeitos do uso de agrotóxicos e afins sobre os ecossistemas, quanto à concessão de seus registros.

Como pôde ser observado, apesar das restrições legais, o controle de moluscos de interesse epidemiológico, seja por métodos biológicos, químicos ou físicos, pode ser efe- tuado, desde que respeitada a legislação ambiental concernente. A Instrução Normativa Ibama n.º 109, de 3 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006b), exime os órgãos de governo da necessidade de autorização para o controle e a eliminação dos moluscos de interesse epi- demiológico, desde que a ação esteja prevista em programas de governo.

Recomendamos, entretanto, que antes de qualquer intervenção no meio ambiente, seja feito um contato prévio com a representação do órgão ambiental competente na re- gião, para que seja dada ciência das ações que devem ser desenvolvidas.

Algumas Considerações sobre