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Quanto aos aspectos expressivos

Podemos apontar como componentes do aspecto expressivo (estilo) do gênero palestra motivacional os seguintes elementos: sequência predominantemente expositiva; recorrência de uso de verbos no modo imperativo; frases de efeito; inserção de relato de experiência (histórias de vida); presença de intertextualidade; e interação com o auditório:

[Excerto 8 – Palestrante 1] Sartre disse, o filósofo que morreu em 1980... Sartre disse: não importa o que a vida fez de você [pausa] importa o que você fez do que a vida fez de você. Não importa o que a vida fez de você, importa o que você fez com isso.

[Excerto 9 – Palestrante 2] Lá na mitologia, Homero escreveu a Odisséia e a Odisséia, você sabe, é a aventura de Ulisses. Ulisses é o nosso heroi. Odisséia é a sua aventura. Ulisses era rei, rei de Ítaca. E foi convidade para participar de uma guerra dos gregos contra Tróia. O porquê dessa guerra? O príncipe de Tróia pegou a mulher do rei de Esparta, Menelau. A mulher era Helena, maravilhosa Helena. E o príncipe de Tróia impiedosamente a seduziu. Menelau, então, atravessado pelo ciúme, declara guerra a Tróia. E convoca todos os gregos a se juntarem a ele. Ulisses não queria guerra nenhuma. Ulisses vivia em Ítaca, de boa, com a sua mulher, Penélope. Ulisses, no seu lugar. Ulisses adorado pelos seus súditos. Ulisses um rei aplaudido por onde passava, não queria de jeito nenhum ir para a guerra.

Na fala do Palestrante 1, podemos observar que ele inicia a sua fala usando as palavras do filósofo Sartre como referência, para apoiar aquilo que é dito para a platéia, a fim de legitimar a sua fala como figura de autoridade. Isso pode ser classificado como uma fala com presença de intertextualidade, assim como no excerto 9, o qual contém a fala do palestrante 2. O segundo palestrante traz em sua fala a história contada por Homero, a Odisseia, cujo personagem principal é Ulisses. Ele apresenta a história de Ulisses para ilustrar o que seria a “vida boa”, ou seja, a vida que vale a pena ser vivida. Em certo trecho de sua fala, mostra a oferta que Ulisses recebeu da deusa Calipso em sua ilha. Ela o ofereceu a eternidade juntamente com a juventudade eterna. Porém, Ulisses recusou a oferta com a seguinta fala: “É preferível uma vida de mortal, uma vida de humano, vivida no seu lugar. No lugar certo, do que uma vida de Deus no lugar errado. Ou seja, o palestrante quis mostrar que

a vida boa está relacionada a estarmos no lugar certo, em sabermos qual é o nosso lugar no mundo.

Na palestra motivacional, embora haja uma visada injuntiva, na medida em que tenciona “fazer agir”, isto é, provocar um efeito de mudança de atitude, comportamento ou pensamento em relação à audiência, o comando principal, que supostamente operaria essa mudança no outro, não é exatamente explícito na fala do produtor, como seria nos textos injuntivos, cuja sequência injuntiva é predominante. Na palestra motivacional, então, o locutor expõe sua sugestão, seu conselho, enfim, seu comando, que seria o responsável pela mudança na vida do ouvinte, de modo que fique subentendido, pois é “encapsulado” por tudo o que foi dito, como a moral de uma fábula. Em outras palavras, espera-se que o auditório tire suas próprias conclusões, "capte a mensagem" e, assim, opere a mudança, aja daquela forma orientada naquele segmento específico de sua vida, que em ambos os casos se referem ao profissional, melhorando, portanto, seu desempenho nesse setor.

No gênero palestra motivacional, a fala do locutor é recheada de frases de efeito e inspiradoras, com o objetivo de impressionar o auditório e, assim, gerar um engajamento. Como último elemento componente do estilo do gênero palestra motivacional, podemos apontar a interação com o auditório, com intuito de criar familiaridade com os ouvintes, provocar descontração, deixando a palestra mais atrativa, quebrando a formalidade pontualmente etc. Essa interação, a nosso ver, pode ocorrer de duas formas: direta ou indiretamente.

Diz que há interação direta quando há trocas de turnos de fala entre o locutor e o auditório, no caso em que a plateia faz pergunta, e o locutor responde ou vice-versa, ou quando a audiência responde, mesmo que não verbalmente, a estímulos dados pelo locutor: em caso do auditório rir de uma piada ou de uma ironia dita pelo palestrante, se espantar com uma frase de efeito, levantar a mão em resposta a alguma solicitação feita por ele etc.

No caso da interação indireta, estamos considerando assim o caso das perguntas retóricas em que, claramente, não há um retorno de resposta por parte da audiência, bem como o caso em que o locutor se dirige ao auditório de forma imperativa, isto é, por meio do uso do modo imperativo, que também não haverá um retorno imediato, naquele momento, da ação comandada:

[Excerto 4 - Palestrante 1]: Primeiro conselho que dou a vocês, para que vocês

reflitam ou rejeitem, como desejarem. Primeiro conselho importante: olhem para o rosto das pessoas. Olhem para o rosto dos clientes. Olhem para o rosto de quem está comprando, porque o rosto humano é um livro poderoso que traduz tudo! O rosto humano lhe diz ‘Eu estou adorando. Eu estou detestando. Eu estou entediado ou

estou entusiasmado’. Que vocês passem a avaliar valores, emoções, sentimentos... Que vocês passem a pensar claramente em cada indivíduo único. Essa é uma das grandes chaves do sucesso.

Outros aspectos que também poderiam ser considerados para a caracterização estilo do gênero em questão, são aspectos prosódicos. Podemos notar que, ao longo de suas falas, os palestrantes fazem longas pausas, com o intuito de destacar aquilo que foi dito. Valem-se, muitas vezes, de uma voz bem posta, com boa entoação e dicção, a fim de prender a atenção do auditório. Utilizam o mesmo ritmo ou velocidade da fala. Além disso, os aspectos referentes à norma podem também ser observados, como o uso de uma linguagem formal, mas que se adéqua ao público. Embora a maior parte da fala dos palestrantes recorra à linguagem formal, em muitos momentos há nuances de informalidade para descontrair o público, provocar o riso, causar efeito de estranhamento ou de provocação, entre outras intenções.