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Quarenta mulheres

No documento Jacinta Passos: coração militante (páginas 190-200)

Mulheres guerreiras quem viu teu valor?

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na marcha ligeiras que a guerra provou. Passagem difícil! Mulheres não passam além deste rio!

Por ordem! O Comando que tal proibiu.

No rio Uruguai quem pode passar? Raiou a manhã – Soldados marchar! Quarenta mulheres nas tropas estão. Mas como? E agora o Comando diz, não? Diante do fato novo decidir,

outra ordem foi dada – mulheres seguir! Mulheres guerreiras quem viu teu valor? na marcha ligeiras que a guerra provou. “Onça” mulata de belos quadris que dança maxixe carrega fuzis. “Onça” mulata quem viu teu valor? não vales somente na dança no amor.

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Na luta ligando salvou do inimigo feroz e maior, uma tropa menor. Mulheres guerreiras quem viu teu valor? na marcha ligeiras que a guerra provou. Hermínia perita do laço no jogo Hermínia estrangeira Hermínia enfermeira a linha de fogo passou. Na trincheira inimiga, doentes salvou. Ó valentes. Mulheres guerreiras quem viu teu valor? na marcha ligeiras que a guerra provou. Nasceu um menino. Sua mãe se chamava Santa-Rosa e logo depois cavalgava. E dizem que podes o corpo fechar às balas, ó tia Maria,

depois de rezar? Mulheres guerreiras quem viu teu valor? na marcha ligeiras que a guerra provou.

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O sargento

Sangue na noite a clamar. Polícia da Paraíba, quantos crimes a pagar! – Sargento, então te recusas a própria cova cavar? – Alugado dos infernos, quem te deu a ousadia? Pobre corpo do Sargento novos golpes recebia até que desfalecido no chão sem forças caía, depois retalhado à faca mais um valente morria. Sangue na noite a clamar. Polícia da Paraíba, quantos crimes a pagar!

A fuga

Carreira desabalada nas catingas sem fim que triste figura! de que foges assim? Foi depois de Imburanas: aonde vais, Coronel João Nunes, que triste que triste papel!

Eram cento e cinquenta os teus comandados e mais caminhões ó abandonados!

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Quinze mortos, feridos eram quinze também, que triste figura Coronel sem ninguém! Polícias de Més chefe tal merecia, lábias, bravatas, e agora fugia.

Pernambuco. Imburanas. Aonde vais, ó fujão? as vilas mais próximas a dois dias estão. Nas catingas de mato ralo e rasteiro, roto e ferido

nos espinhos de espinheiro. Carreira desabalada

nas catingas sem fim, que triste figura! de que foges assim?

Os trinta

Eram trinta. Eram tão fortes. Desciam do Ceará.

Tão belos dessa beleza que a juventude é quem dá. Agora só a lembrança dos trinta jovens restou. Duas polícias ou feras? A disputa começou.

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Paraíba ou Pernambuco, qual das duas afinal sabe mais tortura e morte na ponta do seu punhal? Eram trinta. Eram tão fortes. Sangrados como animal. Somente um ficou vivo pois ao sicário pagou

quinhentos contos. Dos trinta só a lembrança restou.

O leilão

– Quem dá mais? – Quem dá mais?

Dona Cassimira, quatro mil réis! Quatro mil réis por cabeça! Meus senhores, Dona Cassimira! Dona Cassimira, a chefe do sertão! Tia de Horácio de Matos.

Quanto dão? Quatro mil réis!

Quatro mil réis por um “patriótico”! Vai nascer um batalhão!

Lá vai uma... Lá vai duas...

Lá vai três... Pela primeira... Receberá Mercê...

Seu Franquilim, dez mil réis! Dez mil réis!

Seu Franquilim, de Pilão Arcado! Seu Franquilim, das Lavras! Seu Franquilim, do São Francisco!

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Seu Franquilim chefe de jagunços que mais mortes cometeu,

o que bate no peito e diz: que jagunço maior que eu? Quem dá mais?

Receberá Mercê...

O Governo, meus senhores, do Estado e da Nação! ante tal poder se cala o poderoso Janjão Coronel de Mato Grosso, Êmulo de Lampião – Quem dá mais?

O Governo, meus senhores, já não se fala em tostão, o preço dum diamante, proclamai ante a Nação, por uma cabeça, senhores, de revoltoso!

Já não se fala em tostão. Receberá Mercê...

Catete!... Quinhentos contos! pela boca de Seu Mé

através dos oligarcas que mandam em Caetité. Palavra de Artur Bernardes. Quem atesta? Quem dá fé? O senhor Geraldo Rocha, quem, senão ele, outro Mé?

Quem dá mais? Quinhentos contos! Que esteja o país ciente

da fala do presidente! Que excelsa virtude e zelo! Oh! flagelo

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Oh! caminho da perdição. Quinhentos contos de prêmio a quem livrar a Nação. Lá vai uma...

Lá vai duas...

Lá vai três... Pela primeira... Receberá Mercê...

Quem fala agora sou eu natural deste sertão, os graúdos já falaram (defender Pátria e Nação!) Ó Cassimira!

Ó Janjão!

Será que pátria é Catete? Governo de Més, Nação? Diz que não,

toda gente como eu natural deste sertão, pátria, uma casa tão grande onde moram

onde moram

mais de cinqüenta milhões. Lá vai uma...

Lá vai duas... – Quem dá mais? – Quem dá mais? Receberá Mercê...

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Seca

Cavalos e cavaleiros onde pouso de abrigar? é tudo chapada só deserto de esturricar.

– Ai quem me dera um balanço balanço de embalançar

ai quem me dera um balanço na rede de caroá –

Cavalos e cavaleiros fazem força de marchar secaram até as cacimbas ai! as frutas do ingá.

– Ai quem me dera um balanço balanço de embalançar

ai quem me dera um balanço na rede de caroá –

Cavalos e cavaleiros ai! se pudessem avistar um pé de mandacaru para esta sede matar.

– Ai quem me dera um balanço balanço de embalançar

ai quem me dera um balanço na rede de caroá –

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Fome

Que anjos são esses que vivem nos seguindo de noite e de dia?

Padre-Nosso! Ave-Maria!16

– Não são anjos não senhor são homens do Ceará são retirantes da seca que viviam ao deus-dará. – E por que nos seguem assim? – Porque desejam comida que não existe mais lá não são anjos não senhor são homens do Ceará. – E aqueles de corpo nu, escuro, cabeça longa,

que correm mais do que lebre e gritam mais que araponga? – Do Vale do Tocantins são índios são mais de cem que, por armas e comida, nos vêm seguindo também. Que anjos são esses que vivem nos seguindo de noite e de dia? Padre-Nosso! Ave-Maria!

16 No original, a primeira e a última estrofes estão entre parêntesis, provavelmente por invocarem

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Potreadas17

Hoje eu vou correr cem léguas eh!

cem léguas de arrepiar. No lombo deste cavalo nem que custe o que custar. Eh! desertão da Chapada, Passagem Ruim, Icó, Lagoa do Mulungu, Aracuan e Cipó, Uauá, Várzea da Ema, Ipueiras, Cocobocó.

Hoje eu vou correr cem léguas eh!

cem léguas de arrepiar. Vou vencer o sergipano sozinha, no potrear.

Nem que não ache o caminho de volta para contar

nem que me assalte o jagunço da moita de gravatá

nem que firam os espinhos de jerema e de joá.

Hoje eu vou correr cem léguas eh!

cem léguas de arrepiar.

17 Potreadas. Investidas feitas por alguns membros da Coluna, que se afastavam dos outros para

No documento Jacinta Passos: coração militante (páginas 190-200)

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