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O que diz o Texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

1. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

1.1 Concepções do Processo de Alfabetização sob o viés da Legislação

1.1.3 O que diz o Texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

Como mais uma proposta de implantação da política educacional, o MEC sistematizou, em abril de 2017, a nova versão da BNCC 15 em parceria com os Estados, Distrito Federal e

Municípios, que encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) pôde receber sugestões para seu aprimoramento, incluindo a participação da sociedade nessa etapa de reformulação.

O documento da BNCC inicia a apresentação com as palavras do então Ministro da Educação Mendonça Filho, com o seguinte texto:

Ao homologar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, o Brasil inicia uma nova era na educação brasileira e se alinha aos melhores e mais qualificados sistemas educacionais do mundo. [...] A BNCC é um documento plural, contemporâneo, e estabelece com clareza o conjunto de aprendizagens essenciais e indispensáveis a que todos os estudantes, crianças, jovens e adultos, têm direito (BRASIL, BNCC. 2017, p.5).

Com essa expressão, a BNCC é apresentadacomo um direcionamento e momento de grande avanço para a educação brasileira, constituindo-se como um referencial nacional para a elaboração ou adequação dos currículos e propostas pedagógicas para as redes de ensino.

A CF/88, Artigo 210 prevê que os conteúdos mínimos para o ensino fundamental serão fixados “de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL, CF, 1988).

15 A BNCC define que a alfabetização das crianças deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental (BRASIL, 2017. p. 87).

A LDB nº 9.394/1996 também prevê o regime de colaboração – inciso IV do Artigo 9º, da União com os Estados, o Distrito Federal e os municípios ao estabelecer “competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum” (BRASIL. Lei nº 9.394/1996).

Assim, a BNCC é um documento de caráter normativo que se aplicaà educação escolar conforme a LDB nº 9.394/1996, e está fundamentada pelos princípios éticos, políticos e estéticos das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). A BNCC integra a política nacional para a Educação Básica contribuindo para a formulação de currículos e das propostas pedagógicas das redes de ensino e define:

[...] o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (BRASIL, BNCC. 2017. p.7, grifo do documento).

Considerando a BNCC, as aprendizagens essenciais devem garantir aos estudantes o desenvolvimento de dez competências16 gerais que são pertinentes aos direitos de aprendizagem no campo pedagógico, que se correspondem e se desdobram para as três etapas da Educação Básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, reconhecendo que a educação deve afirmar valores que venham a contribuir para a transformação da sociedade, tornando-a mais justa, humana e com o olhar para a preservação da natureza.

Nessa direção, a BNCC afirma o seu compromisso com a educação integral17, no sentido de uma formação voltada para o desenvolvimento humano global, considerando o estudante como sujeito da aprendizagem, promovendo uma educação “voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades”, o que significa “assumir uma visão plural, singular e integral da criança”, dessa maneira, a educação integral “supõe considerar as diferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar novas formas de existir” (BRASIL, BNCC. 2017, p. 14).

16 Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, BNCC. 2017, p.8).

17 Independentemente da duração da jornada escolar, o conceito de educação integral com o qual a BNCC está comprometida se refere à construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea (BRASIL, BNCC. 2017, p.14).

Embora a proposta seja positiva, faz-se necessário tomar o devido cuidado para que a quantidade de tempo na escola não se desvincule da qualidade em todo o processo de ensino e aprendizagem, uma vez que não é o tempo de permanência na escola que garante isso sozinho, mas a qualidade de um trabalho efetivo, profissional, contextualizado e adequado às realidades dos estudantes. Considerando o significativo texto expresso pela BNCC, por que as instituições escolares enfrentam dificuldade em praticar atividades no contexto de uma formação integral da criança, envolvendo o estudante como sujeito ativo da aprendizagem, de maneira a respeitar suas particularidades? Quais têm sido as dificuldades de se efetivar na prática o que se propõem nos textos dos documentos?

A política mais recente para a alfabetização está contida no documento da BNCC, que comtempla em sua estrutura as três etapas da educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Segue na imagem 4, a estrutura geral da BNCC, porém faremos a análise das etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, uma vez que o ensino médio não se constitui objeto dessa pesquisa.

Imagem 2 – Estrutura Geral da BNCC

É válido ressaltar que vamos nos reportar à Educação Infantil enquanto período de transição para os anos iniciais do Ensino Fundamental, delimitando o período destinado à alfabetização, que constitui-se objeto de estudo dessa pesquisa.

Na Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, estão garantidos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: “conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se, para que as crianças tenham condições de aprender a se desenvolver” e com base nesses direitos estão estabelecidos cinco campos de experiências: “O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações” (BRASIL, 2017. p. 25), em que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento são definidos e organizados em três grupos, de acordo com a faixa etária.

Enquanto a Educação Infantil trabalha a partir dos “campos de experiências”, o Ensino Fundamental – segunda etapa da Educação Básica, trabalha com “áreas de conhecimento”, que assim se organizam: “linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino religioso”, que expressam competências específicas para cada área de conhecimento e favorece a comunicação entre os componentes curriculares que se dividem em anos iniciais – 1º ao 5º ano, e anos finais – 6º ao 9º ano, que por sua vez possibilitam a “continuidade das experiências dos alunos, considerando suas especificidades” (BRASIL, 2017. p. 27-28), apresentando um conjunto de habilidades18, que por sua vez relacionam-se aos conteúdos, que são organizados em unidades temáticas19.

Esse breve esboço das competências gerais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, mais especificamente dos anos iniciais, são para reforçar a importância do papel do professor no processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, uma vez que o brincar se constitui enquanto direito de aprendizagem e desenvolvimento.

Considerando que o brincar faz parte da vida das crianças, ou se não o faz deveria fazer, as propostas didático-pedagógicas são, ou deveriam ser, a partir de momentos das vivências e dos conhecimentos por elas constituídos no contexto familiar e social com “o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à

18As habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares (BRASIL, 2017, p. 29).

19 As unidades temáticas definem um arranjo dos objetos de conhecimento ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades dos diferentes componentes curriculares (BRASIL, 2017, p. 29).

educação familiar, como a socialização, a autonomia e a comunicação” (BRASIL, 2017, p. 34) para que possam estar envolvidos em um mundo de significados.

Nesse fio condutor, de considerar o universo infantil nas propostas didático- pedagógicas, a alfabetização na perspectiva do letramento se faz presente, uma vez que os momentos de vivência das crianças permeiam esse processo.