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3. Enquadramento teórico

3.5 Que Educação para os Media?

Segundo Manuel Pinto, se a Educação para os Media for entendida na sua relação com os processos socioculturais e de mudança social, devemos fazê-la assentar em algumas características como a ―aceleração da vida social, enfatização da cultura do presente, deslocalização, alteração da noção de escala e crise das grandes narrativas que davam sentido à acção humana e à História‖ (2003: S/P). No entanto, se a compreendermos como Educação para a Comunicação e para a Cidadania, ―é necessário, antes de tudo, que se estabeleça um novo e adequado paradigma pedagógico que se apoie na relação entre a teoria e a prática, e que chegue aos centros de formação de professores‖ (idem, ibidem).

David Buckingham diz ser necessário ―definir urgentemente para a escola, como instituição-chave da esfera pública, um papel mais pró-activo‖, decorrente da existência de um ―ambiente cada vez mais dominado pela proliferação de media electrónicos e pela cultura de consumo‖. Por isso, afirma que ―a escola deve oferecer uma plataforma para a comunicação aberta e para o debate crítico‖, para além de dever ter ―uma participação na democratização do acesso à tecnologia‖, isto apesar de ser necessário reconhecermos ―que o acesso não é simplesmente uma questão de tecnologia, mas também das competências que estão envolvidas na sua utilização‖ (Buckingham, 2009: 29).

Este reconhecido investigador inglês da área da Educação para os Media diz acreditar, no entanto, ―que a escola pode e deve desempenhar um papel muito mais activo na promoção de perspectivas críticas sobre a tecnologia e de oportunidades criativas para a utilizar‖. Nesse sentido defende ser necessário ter que se deixar de pensar ―meramente em termos de tecnologia e começar a pensar de novo em aprendizagem, comunicação e cultura‖ (idem, ibidem).

Pérez Tornero fala das ―tecnologias do futuro‖ e, citando Castells, evidencia que com esse novo espectro, ―com o seu esconjuro ambivalente instigam-se os receios e iluminam-se as esperanças das nossas sociedades em crise‖. Nesse sentido, diz ser este o momento ―de exigir uma formação que assegure o conhecimento adequado das chaves da comunicação e dos media – dos novos e dos de sempre‖ (2007: 141).

A realidade existente demonstra que a prática relativa à Educação para os Media em sala de aula, ainda é muito inferior ao das novas tecnologias, muito embora ambas integrem uma mesma necessidade segundo Pérez Tornero:

Abrir a escola à realidade e aproveitar as possibilidades que a sociedade e o contexto oferecem para desenvolver uma educação significativa na era da comunicação. Não se deve, portanto, separar educação para os media e integração das novas tecnologias quando falamos de escola: as duas devem estar unidas, se pretendermos uma educação para a contemporaneidade (2007: 142).

Nesse contexto, e respondendo à pergunta ―Porque é que a educação para os media é tão importante junto das gerações mais jovens?‖23, David Buckingham observa que hoje em dia,

os jovens passam mais tempo com os media do que passam na escola, pelo que ―os media são o centro da cultura moderna e do processo político: são os meios através dos quais descobrimos o mundo‖. Ora, se o princípio for o de que a escola deve ser relevante na vida dos jovens, ―então não existe alternativa: há que ensinar estes jovens a entender e a participar na cultura dos media‖ (Buckingham, 2011). Ou, como defende David L. Bruce:

Os novos media e as tecnologias continuarão a encontrar seu caminho para a sala de aula. No entanto, os educadores não devem perder de vista os aspectos fundamentais da aprendizagem do aluno – o que é que realmente está acontecendo aqui? - que ocorrem no deslumbramento da tecnologia emergente (2010: 121).

―A introdução e estabelecimento definitivo da área de educação para a comunicação e os media nas aulas significa abrir a escola ao meio que a rodeia‖ (Pérez Tornero, 2007: 157), permitindo aos alunos estarem mais enquadrados com a sua própria realidade. Essa realidade configuraria um passo em frente, segundo Pérez Tornero, uma vez que o meio envolvente da escola "é o mais adequado para estimular, em termos de grupo, a atenção e a prática no que se refere aos novos media e às tecnologias da comunicação‖ (idem, ibidem). O mesmo autor vê duas formas de integrar a matéria nos curricula: de forma transversal (integrando todas as áreas) ou como área mais específica.

Apesar das grandes diferenças de pormenor em relação à teoria sobre a existência ou criação de uma ‗sociedade da informação‘, parece haver consenso em relação a uma ―nova época‖ que decorre do cruzamento da informática e das telecomunicações (Lyon, 1992: 7). Nesse sentido, a ‗sociedade digital‘ – encarada não como ―uma realidade iniludível e inevitável‖ – poderá ser perspectivada como uma oportunidade de evolução da Humanidade e de reflexão em relação ao futuro. Isso implica ―um novo conceito de comunidade‖ assente numa lógica de reorientação do ambiente mediático actual ―para os valores intrínsecos da dignidade humana e da autonomia da pessoa‖ (Pérez Tornero, 2007: 205-206).

O cenário para a comunicação pública na era da Internet não deve, na opinião de Jose Luis Orihuella, ser entendido de uma forma apocalíptica, devendo antes ser considerado ―como uma oportunidade para redefinir os perfis, os desafios profissionais e a formação académica dos comunicadores e, também, repensar sobre a natureza dos media e dos mediadores‖ (2003: 5).

É neste contexto que Pérez Tornero defende que a Educação para os Media deveria servir ―de plataforma de resposta ao mito fantasmagórico da sociedade digital e construir um sentido da realidade centrado na liberdade e na dignidade humana‖, referindo-se a uma ―nova Educação para os Media‖ que ―tem que aproveitar os valores positivos que a configuração da sociedade digital, com as suas luzes e as suas zonas de sombra, representa para a Humanidade‖ (2007: 206).

Para este estudioso espanhol, cabe à Educação para os Media um papel importante em todo este processo de configuração da rede audiovisual, tendo em atenção os valores que lhe estão subjacentes:

Embora não isenta de riscos e armadilhas, esta rede pode representar a união, um certo sentido de comunicação – e, consequentemente, de comunidade. Significa diálogo, intercâmbio de

pontos de vista, procura de acordo e de consenso; significa, igualmente, aspiração ao fluxo igualitário da informação e à eliminação das diferenças de classe e status (idem, ibidem).

A meta da literacia mediática consiste, segundo Fleming, em ajudar os alunos a compreender melhor, questionar e desafiar as suas próprias escolhas noticiosas, percepções e hábitos, constituindo também, ―a construção de uma base de pensamento independente, para que os alunos tenham a capacidade crítica e clareza mental para a questão da contínua desorganização da Internet‖ (2010: 144).

Voltando à ‗rede‘ a que se refere Pérez Tornero, ela representa uma ―aspiração de unidade e comunhão‖, sendo nessa base que deve assentar a Educação para os Media (2007: 206). Trata-se de uma rede com perversões, embora a sua essência assente numa dinâmica pacífica, contribuindo ―para a construção de um estatuto cosmopolita, de uma cidadania digital e universal, com que todos os cidadãos do Mundo possam ver-se comprometidos‖ (idem, ibidem).