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Capítulo IV S Bento de Cástris: Que Sera?

IV.1 Que futuro(s)?

Como expor a História de um local como S. Bento de Cástris adaptada aos dias de hoje, em que o ritmo de vida em nada se assemelha ao que acompanhou os séculos de vida do mosteiro? Ao olhar em redor, descobrem-se infindáveis exemplos de adaptações de edifícios religiosos a outras funções, mas raramente, ao visitá-los, se sente que a História do edifício é comunicada, de uma forma ou outra. Eis o desafio. Um local mítico deverá permanecer sempre um local mítico. A autenticidade faz a diferença entre uma experiência que nos marca ou que nos abandona no momento em que a abandonamos. Para S. Bento de Cástris o maior desafio consistirá precisamente em encontrar uma função actual que comunique as razões que o tornaram naquilo que hoje é. Chega-se ao fim do percurso em que o território, a espacialidade e a história se encontram. Não é possível esquecer Évora, com todas as suas características sui generis e realidades antitéticas. Não é possível esquecer o local, a sua envolvente, o edifício e as regras que ditam o modo como deverá ser intervencionado. E, por fim, não é possível esquecer quem por ele passou, fazendo dele a sua morada terrena.

O Governo acalenta um projecto para o espaço, a transferência do Museu da Música110. O Orçamento de Estado para 2011 confirma-o111. Será este o futuro de S. Bento de Cástris?

O presente capítulo analisará esta hipótese e avançará duas outras. Todas elas pretendem aliar Cultura, Património(s) e Turismo(s), criando sinergias e multiplicando vontades. Todas elas representam equipamentos culturais, de uma ou outra forma.

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Entrevista dada pela Senhora Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao Jornal de Letras. Consultada a 17 de Dezembro de 2010 e disponível em

http://bloguedacultura.blogspot.com/2010/12/entrevista-ao-jl.html 111

Ministério das Finanças e da Administração Pública. Direcção-Geral do Orçamento. Relatório do Orçamento para 2011. PDF consultado no dia 19 de Dezembro de 2010 e disponível em

http://www.dgo.pt/oe/2011/Proposta/Relatorio/Rel-2011.pdf, p. 298.

Todas procuram encontrar pontos comuns entre o invólucro e o recheio, entre o passado e o presente, para que estes possam ser transmitidos às gerações futuras de forma sustentável. O Espaço é, para isso, fundamental, bem como a criatividade. Assim, a lógica encontrada para colocar os espaços passados num espaço presente passa por privilegiar cinco locais/zonas do conjunto. A motivação para a escolha destes espaços passa por uma abordagem racional, na senda dos cânones cistercienses, apelando aos cinco sentidos (S. Bento de Cástris. CONDE, 2009: 425), dotando estes espaços de uma importância relacionada com cada um dos sentidos, transportando e adaptando à época contemporânea uma realidade que pautou o quotidiano do mosteiro séculos atrás. Em termos simbólicos, o número cinco é o número do centro, da harmonia e do equilíbrio. Representa, para além dos cinco sentidos, as cinco formas sensíveis da matéria: a totalidade do mundo sensível (Ciências Sociais. CHEVALIER, 1982: 197-198). Abrem- se assim as portas, através do mundo sensível, a um outro, o inteligível, como sempre foi o propósito deste espaço.

Estes cinco espaços privilegiados que acompanharão as três hipóteses de reabilitação serão, portanto: o Refeitório das religiosas, a Biblioteca, a Igreja, o Claustro e o Espaço Exterior. O REFEITÓRIO (cf. Anexo XII, figuras 2, 3 e 4) enquanto espaço de

convívio onde a comunidade se encontrava, ligado à história das práticas gastronómicas do mosteiro e ao sentido do paladar. A BIBLIOTECA (cf. Anexo XII, figuras 5 e 6)

enquanto espaço de conhecimento, actividade criativa e reflexão, aliada ao sentido da

visão. A IGREJA (cf. Anexo XII, figura 1) enquanto espaço de oração, de elevação

espiritual, de ligação com o divino e desprendimento da realidade terrena frequentemente atingido por intermédio da audição, pela presença e ausência de som e pelo contraste que esta dualidade cria. Tanto a música e os ofícios ouvidos na Igreja, como o silêncio obrigatório que se fazia respeitar, eram parte de um todo. Assim, este espaço tem como função chamar a atenção para essa dualidade que será explorada em todas as hipóteses a apresentar, sendo que o som terá por vezes primazia e vice-versa. É a presença do silêncio que nos indica a ausência do som e é na presença do som que o silêncio ganha peso e essa é uma dinâmica de extrema importância para o presente trabalho e é nesse sentido que o espaço da Igreja deverá ser potenciado. O CLAUSTRO

(cf., Anexo XII, figuras 7 e 8) enquanto “elemento fundamental na vida dos conventos (…) propiciando a meditação e a contemplação”, pleno de simbologia e onde habitualmente se encontravam poços ou fontes, plantas aromáticas e medicinais e que,

no caso das comunidades femininas deveriam ser “símbolo de vedado jardim” (S. Bento de Cástris. CONDE, 2009: 401), associando-se, portanto, ao sentido do tacto, pela hipótese de junção entre aquilo que é palpável e o que é espiritual, enquanto centro vital de um mosteiro, pela possibilidade de cura do corpo através do espírito (e das plantas). Por fim, o ESPAÇO EXTERIOR do mosteiro (cf. Anexo XII, figuras 9, 10 e 11), ainda dentro da cerca conventual, também espelho da clausura, numa perspectiva de liberdade espiritual dentro da mesma, associado ao sentido do olfacto. Assim, estes cinco espaços deveriam ser privilegiados, não na óptica da mortificação dos cinco sentidos como há uns séculos, uma vez que tal abordagem não faria sentido numa adaptação contemporânea, mas numa perspectiva criativa de elevação espiritual através dos mesmos.

No contexto actual e na linha de tudo o que tem vindo a ser discutido, cada uma das propostas aqui apresentadas possuirá três vertentes, uma vez que todo o projecto é composto por trilogias. São elas: Reabilitar, preservar e valorizar um monumento nacional degradado – vertente patrimonial; Aproveitar recursos locais para a criação de sinergias e para o fomento da economia local – vertente comercial/ económica; Criar um equipamento cultural o mais auto-suficiente possível com uma programação que valorize o Património, a História e a Cultura do próprio local, da cidade e do país – vertente cultural. Resumindo, cada uma das hipóteses apresentadas terá sempre presente a necessidade de interpretação e comunicação do espaço, privilegiando os cinco espaços supracitados e a todas será comum a importância da criatividade e da interactividade com o público.

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