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O que poderia acontecer quando uma raposa sequestra uma

3.2 APRESENTAÇÃO DOS LIVROS SELECIONADOS

3.2.1 O que poderia acontecer quando uma raposa sequestra uma

O título da autora/ilustradora Béatrice Rodriguez é editado em 2005, na França e em 2012 no Brasil. Composto por 26 páginas não enumeradas, além da capa, 2ª, 3ª e 4ª capas, o exemplar constitui-se por capa dura, as páginas do miolo têm gramatura densa que favorece ao manuseio. A trama consiste na história de “uma raposa que sequestra uma galinha e foge. Personagens como o urso, o coelho e o galo a perseguem dia e noite, por vales e bosques, atravessando o mar e o deserto. Até que, por fim, exaustos, chegam ao seu esconderijo, mas a galinha gosta da raposa e quer ficar em sua companhia” 19

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Figura 1 – Capa Ladrão de galinhas

Fonte: Rodriguez (2009)

Na capa do livro, encontram-se o título e a ilustração com apelo visual, sugerindo ao leitor aspectos do enredo. Nessa primeira imagem, é possível identificar personagens centrais e suas expressões: O movimento da cena é explícito pela ação de correr da raposa, seguindo a direção a ser perseguida pelo leitor na interação com o exemplar. A cena, situada em ambiente externo que lembra um capão, sugere dinamismo.

O leitor também pode ter uma prévia do cenário pelos elementos contidos na capa. Ao abrir o exemplar e ver a totalidade da capa e da 4ª capa (Fig. 2), constatamos mais uma cena do enredo. Então, é possível observar

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que há continuidade do ambiente, outros personagens aparecem, também expressando seus sentimentos. Capa e contracapa, neste caso, antecipam dados do enredo.

Figura 2- Livro aberto: 4ª capa e capa

Fonte: Rodriguez (2009)

Partindo dos elementos que constituem a narrativa, além da capa e contracapa, observamos a cena inicial, conforme Fig.3. O cenário é campestre, composto por elementos naturais e animais executando ações humanas. A marcação de tempo é expressa, nessa cena por ações como, por exemplo, abrir da janela, bocejar, cantar do galo. Esses dados são indicadores de temporalidade constituídos pela imagem, ou seja, a experiência nos diz que essas situações são oriundas do amanhecer. Para Oliveira (2008, p. 53), “ao visualizar a cena, automaticamente está sendo elaborado o tipo de cenário em que estão agindo os personagens”. Nessa página, percebemos a situação inicial da história, porém um elemento, não tão explícito, anuncia o suspense que se concretiza na página ao lado. A raposa estava escondida entre as plantas, observando os demais personagens – urso, coelho, galo, galinhas e pintos.

Figura 3 – Situação inicial: equilíbrio da narrativa

Na constituição do cenário, a cor é o elemento imprescindível para a compreensão da narrativa. Tons de verde são predominantes durante o percurso dos personagens na mata, e a cor amarela na praia. A passagem do tempo também é demarcada por nuances de cor - o dia e a noite são definidos por elementos naturais, pelas ações dos personagens. O dia é sinalizado por cores mais claras, principalmente amarela e verde. Já a noite é indicada predominantemente com tons de azul e verde mais escuros. Segundo Oliveira (2008, p.51), “a qualidade de luz é um elemento importante no processo narrativo [...] a relação entre a cor e a luz é fundamental na arte de contar histórias visualmente.”

Também na página 3 (Fig. 4) predomina a cor verde em tom mais claro, indicando a luz do dia. Gradativamente, na cena seguinte, página 6 (Fig. 5), o tom verde passa a ser mais escuro encaminhando o leitor a perceber o anoitecer na mata.

Figura 4 – Verde claro - dia Verde escuro - noite

Lua indicando o anoitecer

Fonte: Rodriguez (2009, p. 3, 5 e 7)

O cenário, que, no início, era predominante na floresta, passa à montanha, depois ao mar e, em seguida, à praia. Os detalhes na composição do cenário favorecem a compreensão do lugar em que atuam os personagens, assim como a elaboração da narrativa.

Ao amanhecer, a raposa continua a fuga em direção ao mar; e os outros personagens não hesitam em persegui-la. A raposa apossa-se de um barquinho e começa a remar; a galinha, com óculos de sol, parece estar gostando do passeio. Já o coelho e o galo utilizam o corpo do urso como barco para navegar no mar, e a expressão dos três é de medo frente ao perigo das ondas. Chegam à praia exaustos e avistam pegadas que levam ao tronco de uma grande árvore. Pela janela, os três procuram saber o que há lá dentro. Entram com expressão de ira, e o urso tem um pedaço de lenha na mão quando encontra a galinha e a raposa sentadas em frente à lareira degustando a sopa.

Figura 5 – O encontro

Fonte: Rodriguez (2009, p. 21)

O momento do desenlace, da resolução da narrativa, acontece quando a galinha procura explicar a situação e, então, beija a raposa. Em seguida, todos se sentam ao redor da lareira para tomar a sopa, sendo que a galinha está no colo da raposa, compartilhando o mesmo prato, demonstrando felicidade. O galo não parece estar contente e o urso mostra-se chateado.

Na cena final, em folha dupla, acontece a despedida, situação final. O urso, o coelho e o galo partem com o barco a remo e acenam para a raposa e a galinha que ficam na praia, muito alegres. Nessa cena, o galo está triste, no entanto, parte com seus amigos.

Figura 6 – A despedida

Fonte: Rodriguez (2009, p. 23 e 24)

A luz do sol refletida na água, a calmaria do mar, a linha do horizonte na parte superior das páginas, retomam o equilíbrio observado no início da história, porém agora em outro ambiente natural, revelando, assim, a diversidade de cenários e elementos naturais propostos ao leitor nessa dinâmica e convidativa obra.

Na composição do exemplar, destacamos a importância da cor e da luz nas cenas. Tais elementos, nesse caso, orientam o leitor na passagem do tempo, aspecto constitutivo da narrativa e, desse modo, se percebidos pelo leitor, qualificam o entendimento do título.

Quadro 4 – Síntese da estrutura narrativa, segundo Adam (2008) Ladrão de galinhas

Fonte: elaborado pela pesquisadora

OBRA/ESTRUTURA DA SEQUÊNCIA NARRATIVA Antes do processo Situação inicial Início do processo Curso do processo Fim do processo Desenlace, resolução Depois do processo Situação final Ladrão de galinha

Cena matinal A raposa sequestra a galinha Galo, coelho e urso perseguem a raposa e a galinha. As imagens expressam a passagem do tempo e a diversidade de cenários percorridos nessa etapa da narrativa. A galinha beija a raposa e decide ficar com ela. Em cenário litorâneo, urso, coelho e galo vão embora, deixando a galinha em companhia da raposa. O galo ainda expressa desolação.